Leo Percovich comanda o Sub-20 do Fluminense - MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC/5/4/2018
Leo Percovich comanda o Sub-20 do FluminenseMAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC/5/4/2018
Por ALYSSON CARDINALI

Rio - "Mais quero estar trabalhando, que chorando". Este provérbio português cai como uma luva na vida do ex-goleiro uruguaio Leo Percovich. Técnico do time sub-20 do Fluminense, ele tem feito do dia a dia de treinos a tática ideal para amenizar o drama pessoal que vive desde 16 de dezembro, quando sofreu grave acidente de carro com sua família, em Santos Dumont (MG), e perdeu duas filhas (de 5 e 10 anos) ele, a mulher e o filho de 8 anos ficaram feridos. Guerreiro, Leo supera a dor com dedicação ao Tricolor e espera vencer outra batalha, neste domingo, na luta pelo título do Campeonato Carioca. Se bater o Resende, às 15h, nas Laranjeiras, o time irá à final da Taça Rio.

O DIA: Como foi voltar a comandar o time após a tragédia?

LEO PERCOVICH: Muito difícil. A tragédia está viva, ainda dói. Quando vou para o treino consigo esquecer minha vida particular, mas quando ele termina eu volto para a batalha da minha vida. Todo o desgaste que tenho nos jogos e nos treinos não consigo recuperar em casa. Meu coração ainda está machucado, minha família se reestruturando. Mas tenho uma grande força que é meu grupo de jogadores. Eles sentem quando preciso deles e me ajudam, me motivam. Isso facilita na hora de comandar o time.

Então você trava uma batalha diária?

Tenho um amigo que diz "eu não sei como você faz para ser tão forte". Eu sempre respondo que na verdade eu me sinto super fraco. Sinto que não superei. Eu durmo com isso, eu acordo com isso, eu sonho com isso. Ainda alimento a esperança de que tudo não passou de um pesadelo. Estou convivendo com isso. Às vezes me dá uma trégua, mas tem dias que a gente acorda e é difícil até andar. O mais importante, porém, é que não me enterrei. Eu sigo em pé e consigo manter a cabeça alta, enxergar o horizonte, encontrar o caminho a seguir e me manter sempre em frente.

O se manter em frente tem a ver com o trabalho, com o presente?

O presente agora é a semifinal, dar o melhor, conseguir chegar à final e ser campeão. Ainda falta muito, mas acredito na união do nosso grupo e tenho certeza de que temos na nossa cabeça que a disciplina dentro e fora do campo é mais importante do que qualquer técnica. Se você não tem um comportamento profissional, o resto não consegue aparecer.

A perda da invencibilidade de 11 jogos, para o Resende, na rodada passada, te incomodou?

A derrota era algo que iria acontecer mais cedo ou mais tarde. É preciso ter maturidade, manter os pés no chão. Foi bom para mostrar a realidade e expor as nossas carências técnicas e psicológicas. Mas o grupo saiu mais fortalecido.

O Fluminense volta a enfrentar o Resende, hoje, na semifinal do returno. É o favorito?

Quando chega na semifinal ou final não há favorito. Vamos ter que mostrar o motivo de termos ficado 11 jogos invictos, termos feito a melhor campanha. Vamos provar que não foi sorte, mas uma evolução do grupo.

Qual o segredo do sucesso deste time?

Não existe segredo, mas uma constância no trabalho, dedicação dos profissionais envolvidos na formação dos meninos: diretoria, psicologia, nutrição, preparação física, médicos, comissões técnicas, todos caminhando no mesmo sentido. Isso leva a bons resultados.

Ser campeão é fundamental?

O imediatismo é o inimigo número um do desenvolvimento. Estamos em um clube grande e sempre queremos vencer, mas o resultado nunca vai servir de horizonte para o trabalho e sim o desenvolvimento e a formação.

Você vê algum jogador em condição de ir para o profissional já no Brasileiro?

Isso vai depender do que o Abel possa precisar. Não adianta a gente ter um meia muito bom se lá estiver precisando de um lateral. Temos jogadores em evolução, mas sou contra acelerar o processo. É mais seguro ter cautela e deixar para subir o menino na hora certa, mais maduro.

O Fluminense é conhecido como o 'Time de Guerreiros'. Você se considera um guerreiro na vida?

Tenho este espírito de luta e superação, me identifico com o Fluminense. Eu tento passar isso para os jogadores. Ser guerreiro não é ser um lutador inconsciente, é quem tem uma causa e a defende da melhor forma que puder, deixando sua própria pessoa de lado para alcançar objetivos. É estar em dificuldade, reconhecer o medo, a superioridade do obstáculo e mesmo assim encará-lo de frente, vencê-lo. Este é o verdadeiro espírito do guerreiro. Deixar de ser você mesmo para ajudar a conquistar uma causa maior.

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