Berço da Seleção quando ainda era apenas o campo da Rua da Guanabara (atual rua Pinheiro Machado), o Estádio de Laranjeiras, hoje chamado Manoel Schwartz, completa 100 anos neste dia 11 de maio com muito orgulho do passado. Pioneiro no país, foi o primeiro estádio com arquibancada de concreto em volta do campo, foi palco do primeiro jogo e do primeiro título do Brasil, e ainda tem fortes ligações com os principais clubes do futebol carioca. Além do Fluminense, dono da casa e que vivenciou mais alegrias, Botafogo, Flamengo, Vasco, América e Bangu também foram campeões no local.
"Todos os grandes do Rio conquistaram títulos em Laranjeiras. Esse estádio foi muito importante para a sedimentação do futebol carioca", afirmou o gerente do Flu-Memória, Daniel Cohen.
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Passado de glórias, presente nem tanto. Apesar de toda a sua história, a passagem do tempo foi cruel ao estádio. Tombado por decreto municipal e lei estadual por sua importância para a cidade do Rio e para o futebol, Laranjeiras sofre com problemas estruturais. Sem jogos oficiais desde 2003 - ainda recebe equipes de base e futebol feminino -, tem a arquibancada da parte superior interditada por causa do mau estado de conservação, que também afeta outras áreas.
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Ainda assim, há quem veja futuro e acredite ser possível recuperá-la para jogos profissionais. Há um movimento de sócios para tentar a revitalização de Laranjeiras, com um projeto de construção de nova arquibancada para o Fluminense voltar a mandar jogos em sua casa, com públicos de até 15 mil. Mas por enquanto, o sonho está no papel e apenas o passado pode ser celebrado.
Um pouco da história do estádio:
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1904 a 1914
Nascido em 1902, o Fluminense estreou em seu campo em 1904. Aos poucos, construiu sua primeira sede, uma humilde casa que ficava atrás do gol. Uma arquibancada de madeira em um dos lados do gramado completava o cenário.
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Foi nesse campo da Rua Guanabara que o Brasil fez seu primeiro jogo da história, contra o Exeter City (2x0), no dia do aniversário do Fluminense, em 21 de julho de 1914. "Exeter City estava fazendo excursão para a Argentina e resolveu vir também para o Brasil. Por iniciativa do Fluminense para celebrar o seu 12º aniversário, formou-se uma seleção brasileira pegando basicamente atletas do Rio e de São Paulo", conta Cohen.
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1917
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O Brasil foi escolhido para sediar o Campeonato Sul-Americano, e o Fluminense aceitou a missão de bancar totalmente a construção de seu estádio para sediar os jogos da competição. O presidente do clube na época, Arnaldo Guinle, contratou o arquiteto catalão Hipolyto Pujol para fazer o projeto, com apenas um andar de arquibancada. As obras deveriam acabar em 1918, mas a gripe espanhola que assolou o mundo e também o país atrasou o cronograma. O torneio foi adiado para 1919, quando o estádio finalmente foi concluído.
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Da estrutura anterior, a arquibancada do antigo campo da rua Guanabara foi desmontada e vendida ao Sport. Ela foi transportada de navio até Recife, para ser remontada.
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1919
Obras prontas, o Estádio de Laranjeiras foi inaugurado em 11 de maio de 1919, no jogo Brasil 6x0 Chile pelo Sul-Americano. Com três vitórias e um empate na campanha, a Seleção conquistou seu primeiro título da história ao derrotar o Uruguai por 1 a 0, na prorrogação. "A popularização do futebol a gente tem certeza que foi aqui nas Laranjeiras, onde tudo começou muito pelo título em 1919. Se o Brasil não fosse campeão, talvez o futebol demorasse um pouco mais para pegar no país", avaliou Cohen.
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Dono da casa, o Fluminense estreou em seu novo estádio em 13 de julho de 1919, na goleada por 4 a 1 sobre o Vila Isabel.
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1920
Sem dinheiro para bancar duas obras ao mesmo tempo, o Fluminense só deu início à construção da nova sede após a conclusão do estádio. O novo casarão, com salão nobre e os famosos vitrais conhecidos até hoje, só ficaria pronto em 1920.
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1922
Para receber dois grandes eventos em celebração ao centenário da Independência do Brasil, Laranjeiras passou por novas obras de melhorias, não apenas do estádio, mas de toda a sede. Mais uma vez o clube bancou tudo. Pouco tempo após inaugurar seu estádio, o Fluminense demoliu a arquibancada e construiu uma nova, com ampliação de capacidade passando de 18 mil para 25 mil pessoas. A estrutura passou a ter arquibancada em dois andares e em volta de todo o campo.
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"O investimento foi ainda maior e mais difícil porque o Fluminense investiu no clube inteiro: piscina coberta, estande de tiro... Sempre com recursos próprios", relembrou Cohen.
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Uma das competições sediadas em Laranjeiras foi o Campeonato Sul-Americano de futebol de 1922, novamente vencido pelo Brasil. Nos jogos contra Chile (1 a 1) e Uruguai (0 a 0) , o estádio alcançou o seu recorde de público extra-oficial. Segundo relatos da época, foram 30 mil pessoas em ambos os duelos. Já o recorde oficial é de 25.718 ingressos vendidos para o Fla-Flu do Carioca de 1925, vencido pelos tricolores por 3 a 1.
Ainda em 1922, o Fluminense foi sede dos Jogos Latino-Americanos, com várias modalidades esportivas. Até mesmo uma pista de atletismo foi construída no estádio de Laranjeiras. Após as comemorações, a pista foi desfeita e o gramado voltou às medidas padrões.
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1931
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Laranjeiras também foi palco de momentos marcantes fora do futebol, como o dia em que recebeu a missa campal de inauguração do Cristo Redentor, em 12 de outubro de 1931. Como o Cristo não comporta multidões, o campo das Laranjeiras recebeu milhares de pessoas para uma cerimônia de apoio à celebração oficial.
1932
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Com o passar dos anos e a construção de estádio maiores, como o de São Januário, Laranjeiras ficou pequena para receber a Seleção. Aos poucos, a quantidade de jogos diminuiu, até a última vez em que o Brasil esteve em campo na sede do Fluminense: em amistoso contra o Andarahy (RJ), em 27 de novembro de 1932 (vitória por 7x2). Ao todo, foram 18 partidas em Laranjeiras, e a Seleção nunca perdeu, com 13 vitórias e 5 empates.
1942
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Quando o Brasil decidiu entrar na Segunda Guerra Mundial, o Fluminense fez uma campanha de arrecadação junto a seus sócios para ajudar o exército brasileiro. Com o dinheiro, o clube doou um avião para a Força Aérea Brasileira (FAB). Em outubro, antes de um Fla-Flu, o avião foi colocado no campo de Laranjeiras para a solenidade de entrega e batizado. Além da doação, o Tricolor realizou um curso para enfermeiras em sua sede e disponibilizou seu stand de tiros para treinar soldados para a guerra.
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1950
Logo após a Copa do Mundo no Brasil, segundo Daniel Cohen, o Fluminense recebeu uma proposta tentadora: trocar Laranjeiras pelo Maracanã. Vale lembrar que em 1950 o Rio ainda era a capital do país. "A ideia do governo federal da época era fazer de Laranjeiras uma arena de tourada. Todos os outros grandes clubes foram contra (a troca pelo Maracanã) e houve discussão dentro do Fluminense também, muitos sócios foram contra. O negócio não evoluiu, mas houve essa proposta em agosto de 1950", revela.
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1961
Com o Maracanã usado constantemente pelo Fluminense, Laranjeiras passou a receber cada vez menos jogos, até pela questão de capacidade de público. E o estádio diminuiu ainda mais quando o clube teve parte de seu terreno desapropriado pelo governo e se viu obrigado a demolir a arquibancada atrás do gol para a ampliação da Rua Pinheiro Machado. As obras começaram em dezembro de 1961 e Laranjeiros passou a ter a estrutura como conhecemos hoje.
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1970 a 1986
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O Maracanã já era a principal casa tricolor e Laranjeiras ficou em segundo plano até parar de receber os jogos por um longo período. A despedida aconteceu em 22 de julho de 1970, quando o Fluminense perdeu por 1x0 para o Olaria e, consequentemente, ficou sem o título do Carioca para o Vasco por um ponto. Depois desse dia, o Tricolor só voltaria a jogar no estádio em 25 de junho de 1980, num amistoso sem importância com a seleção do Kuwait (vitória por 3x0). Foram necessários mais seis anos para o clube voltar a mandar partidas em Laranjeiras, a partir de um amistoso de entrega de faixas com o São Paulo (2x2) em 2 de fevereiro de 1986, após o tricampeonato carioca.
1993
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O Fluminense levantou seu último troféu em Laranjeiras ao derrotar o Volta Redonda por 1x0 e conquistar a Taça Guanabara de 1993. O herói foi o atacante Ézio, autor do gol.
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1996
Nem apenas de alegrias viveu o Fluminense em sua casa. Em uma das cenas mais tristes de violência na centenária história, Laranjeiras viu a torcida invadir o campo após a derrota por 3x2 para o Atlético-PR e agredir o goleiro Ricardo Pinto, que havia jogado pelo Tricolor. Na confusão generalizada, Ricardo Pinto teve lesão na cabeça após ser atingido por uma barra de ferro e ficou três meses sem jogar. No fim daquele Brasileiro, o Fluminense seria rebaixado pela primeira vez em sua história.
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2003
O Fluminense seguiu disputando alguns poucos jogos ao longo dos anos, mas as normas de segurança nos estádios - de Bombeiros e do Estatuto do Torcedor - ficaram mais exigentes e dificultaram a utilização de Laranjeiras, que teve sua capacidade reduzida para 8 mil na época. Sem dinheiro para investir em melhorias e reformas, o Tricolor fez sua última partida oficial em sua casa em 26 de fevereiro de 2003. Sem Romário em campo, o Fluminense empatou em 3x3 com o Americano pelo Carioca.
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2004
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O até então estádio de Laranjeiras passou a ser chamado oficialmente de estádio Manoel Schwartz. A mudança de nome foi aprovada pelos sócios do Fluminense para homenagear o ex-presidente falecido em dezembro de 2003. Schwartz comandou o clube no tricampeonato carioca (83/84/85) e na conquista do Brasileiro de 84. "Houve um movimento político no Conselho Deliberativo e batizaram o estádio. Foi um dos maiores presidentes da história do Fluminense", explica Cohen.
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2019
Sem investimento nos últimos anos, Laranjeiras sofre com o desgaste do tempo. Como o Fluminense inaugurou um Centro de Treinamento na Barra, a sede tricolor não recebe mais treinos dos profissionais. Jogos apenas das divisões de base e da equipe feminina, mas com capacidade de público bastante reduzida por questão de segurança. Há um projeto para a revitalização de Laranjeiras, mas dependerá da eleição do novo presidente, dia 8 de junho.
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NÚMEROS DO FLUMINENSE EM LARANJEIRAS
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842 jogos
533 vitórias
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156 empates
153 derrotas
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2.198 gols marcados
1.040 gols sofridos
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TÍTULOS CONQUISTADOS EM LARANJEIRAS
Fluminense: 18
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America e Seleção Brasileira: 3
Botafogo, Flamengo e Vasco: 2
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Bangu, Paisandu e Volta Redonda: 1
MAIOR ARTILHEIRO
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Preguinho - 79 gols
QUEM MAIS ATUOU
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Brant (zagueiro) - 119 jogos (entre 1933 e 1941)
