João Pedro comemora um dos gols sobre o Atlético Nacional-COL - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
João Pedro comemora um dos gols sobre o Atlético Nacional-COLReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por HUGO PERRUSO

De tanto assistir a Messi e Cristiano Ronaldo levarem a bola para casa após marcarem três gols num jogo, João Pedro não acreditou quando Danielzinho disse que ele poderia fazer o mesmo. Só recebeu o 'troféu' pela atuação de gala em sua estreia como titular quando um membro da comissão técnica do Fluminense veio lhe fazer a entrega. Uma das muitas novidades na curta carreira do atacante de 17 anos, que viu sua vida mudar drasticamente em pouco mais de um ano.

Negociado com o Watford, da Inglaterra, quando ainda estava na equipe sub-17, em 2018, João Pedro subiu direto para os profissionais e, em janeiro, conseguiu trocar a casa onde morava com a família em Xerém por um condomínio na Barra. As mudanças na vida também foram muitas. Os estudos foram interrompidos e o atacante não completou o 2º ano do Ensino Médio — mas segue fazendo o curso de inglês, apesar da dificuldade de conciliar as aulas.

"Nunca imaginei isso na minha vida. As coisas estão acontecendo muito rápido. Estou trabalhando e os gols estão saindo. Quando saio na rua, as pessoas pedem para tirar foto. Nas redes sociais recebo muitas mensagens e seguidores. Mas não posso deixar subir à cabeça", afirmou o garoto, que, em casa, prefere ficar com os amigos e, principalmente, jogando video game: Fifa e Fortnite.

Talvez a maior mudança tenha acontecido ano passado, quando o coordenador técnico da base do Fluminense, Marcelo Veiga, decidiu testar João Pedro como centroavante — até então, ele atuava pelos lados. Logo na estreia na nova posição, o atacante marcou cinco gols na goleada por 14 a 0 sobre o Goytacaz, e acabou a temporada como artilheiro do sub-17, com 38.

"Nos treinos percebi que ele tinha uma facilidade grande de finalização, com a cabeça e com as duas pernas. Pensamos em testá-lo de 9, mas tivemos que trabalhar fundamentos que não possuía, como sustentar a zaga e fazer o pivô. Ele aprendeu rapidamente e seguiu seu desenvolvimento", contou Veiga, que revela o segredo para um início tão bom nos profissionais: "Está na parte mental. É um menino muito focado, interessado, que gosta de aprender e escutar os mais experientes. Em campo é fácil reparar que está concentrado, com os olhos bem abertos".

O que não mudou para João Pedro foi o convívio diário. Na Barra, ele mora com a mãe, Flávia, a avó Dalva e o padrasto, Carlos — com o pai Chicão, ex-volante do Botafogo-SP, não tem muito contato. Foi com a família que o jovem atacante dividiu os momentos difíceis na época da base e que quase o fizeram desistir.

INÍCIO MUITO DIFÍCIL

De Ribeirão Preto — onde jogava na escolinha do Corinthians no meio de campo e foi descoberto pelo Fluminense em um torneio em Val Paraíso em 2012, — o atacante se mudou para Xerém com a família quando tinha 11 anos. A renda familiar saía do aluguel de casas na cidade paulista e era complementada pela ajuda de custo do clube de R$ 300.

Até que o dinheiro dos aluguéis secou e a vida ficou difícil. Recentemente, João Pedro revelou que a mãe comia ovo para deixar a carne para ele. Até que uma conversa com o Fluminense foi determinante para o aumento da ajuda de custo e a melhora na vida da família, deixando o jovem talento livre para brilhar na base e nos profissionais.

E agora, como nova sensação da torcida, João Pedro também poderá buscar outros hobbies, além do vídeo game, como colecionar as bolas dos jogos. "Pretendo, sim, fazer coleção. É o sonho de todo mundo, a gente vê Cristiano Ronaldo e Messi levando as bolas quando fazem três gols. É trabalhar para fazer mais hat-tricks", diz o garoto, já caprichando num termo em inglês conhecido dos craques.

 

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