Por rafael.arantes
Santa Catarina - Quando o árbitro, aos 45 minutos, apitou o fim do jogo, o rebaixamento do Vasco foi confirmado, mas o clima no estádio já era pesado muito antes por causa da selvageria provocada por vascaínos e atleticanos.

Barras de ferro e pedaços de pau eram vistos em um estádio de futebol onde supostamente os torcedores deveriam ter sido revistados na entrada. A Polícia Militar alegou que era um evento particular e que só faria a segurança fora do estádio, tendo o aval do Ministério Público catarinense. Porém o MP negou ter feito qualquer recomendação ou ação para impedir que a PM atuasse na Arena.

Lágrimas marcaram rebaixamento do Vasco para a Segunda DivisãoCarlos Moraes / Agência O Dia

Outro problema foi o aumento da carga de ingressos para o Vasco. Após esgotados os 2 mil bilhetes a que teriam direito, a diretoria do Furacão ainda disponibilizou mais 1.700 para os cariocas. No entanto, o espaço, separado por uma grade de ferro só tinha capacidade para 2 mil torcedores, o que fez a segurança do estádio aumentar a parte vascaína e separar as torcidas com uma frágil corda como isolamento.

Depois de uma hora, 170 militares chegaram e o jogo foi reiniciado. Noventa minutos depois, o Vasco cairia pela segunda vez em sua história e apenas Renato Silva falou na saída do gramado.

“Sentimento? Os resultados eram certos para a gente, mas fomos infelizes hoje”.
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O presidente Roberto Dinamite, que amargou seu segundo rebaixamento em cinco anos de mandato, não respondeu perguntas, apenas fez um contrangido pronunciamento aos jornalistas:
“Acho que é lamentar tudo o que ocorreu, e não só o rebaixamento. Uma coisa ruim que nós estamos sentindo, e que pela tradição o Vasco não merecia. É lamentar também o ocorrido no jogo de hoje, foge a qualquer coisa normal numa partida de futebol. Já estamos trabalhando para projetar o Vasco no ano de 2014, para que a gente possa voltar para a Primeira Divisão o mais rápido possível”.
Torcedor é removido de maca após briga generalizada Carlos Moraes / Agência O Dia

Torcedor teve traumatismo craniano de tanto apanhar

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Quatro torcedores foram parar no hospital após as cenas de selvageria na Arena Joinville. O caso mais grave é o de Willian Batista, de 19 anos, torcedor do Atlético-PR, que teve traumatismo craniano e estava em observação. Estevam Viana e Gabriel Ferreira, passaram por uma bateria de exames neurológicos, mas o caso é considerado estável. Já Diogo Cordeiro teve ferimentos leves e, inclusive, recebeu alta.
O vice-presidente geral do Vasco, Antônio Peralta e o diretor-médico do Gigante da Colina, Romulo Capello, foram ao hospital São José, onde as vítimas estão internadas, após a partida visitar os feridos.
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No balanço da polícia, três vascaínos acabaram detidos. Um deles foi flagrado agredindo outro torcedor com uma barra de ferro. Outros três atleticanos também acabaram indo para a delegacia, mas, ao contrário dos vascaínos, eles se envolveram em confusões fora do estádio antes mesmo de a bola rolar. A delegação do Vasco viajou à noite de Joinville para Curitiba e nesta manhã volta para o Rio.
Bananas em São Januário
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O segundo rebaixamento em cinco anos deixou a torcida indignada. Revoltados, vascaínos atiraram bananas dentro da sede do clube e entoaram cantos de protesto contra o presidente Roberto Dinamite.
Antes do jogo, o clima já era de muita tensão, tanto que o clube reforçou a segurança dentro de São Januário. No entorno do estádio, os bares estavam cheios. Em um deles, o ‘Bar da Guerreiros’, os torcedores se comportaram como se estivessem na Arena Joinville. Puxaram o coro de ‘casaca’ e cantaram o hino do clube quando os jogadores entraram em campo.

Mas o entusiasmo durou pouco. Após o gol do Atlético-PR, com apenas quatro minutos de bola rolando, a confiança deu lugar ao medo e, depois, à raiva. Com a queda sacramentada, os torcedores voltaram para casa humilhados com a certeza de terem vivido um dos dias mais tristes da história do clube.

Caiu! Vasco foi rebaixado para a Série BCarlos Moraes / Agência O Dia

Vergonha

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Ricardo Napolitano, repórter de O DIA: "A partida estava 1 a 0 para o Atlético-PR quando a confusão começou. E a impressão que se teve da tribuna de imprensa é que as torcidas dos dois clubes nem sequer precisaram de motivos para transformarem a Arena Joinville em um verdadeiro campo de batalha. A falta de segurança dentro do estádio era um convite à tragédia.
Bastava ter um pouco de atenção para perceber que duas barreiras feitas apenas por cordas e cerca de 15 seguranças desarmados não seriam suficientes para separar as torcidas de Atlético-PR e Vasco.
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Os rubro-negros avançaram primeiro e, em maior número, acuaram os vascaínos em seu canto. Enquanto vários torcedores caíam inconscientes, em cenas que chocaram todos na arena, famílias tentavam se proteger desesperadamente. O tumulto só foi dispersado alguns minutos depois quando, então, a Polícia Militar, que estava do lado de fora do estádio, apareceu e utilizou bombas de efeito moral.
Mais um fato lamentável para manchar o futebol brasileiro e para apagar da memória"