Atacante Matheus Babi é sondado pelo Botafogo para a sequencia da temporada  - Divulgação
Atacante Matheus Babi é sondado pelo Botafogo para a sequencia da temporada Divulgação
Por O Dia
Macaé - De acordo com pesquisas acerca do município, um dos bairros pioneiros de Macaé, se não o mais antigo, é o Aroeira. Embora o nome seja recente, pelos idos dos anos 60, sua história remete aos padres jesuítas que chegaram ao local ainda no século XVII. Do chão batido ao paralelepípedo, pequenas construções e crescimento, a comunidade foi se identificando e sendo uma marca de respeito na cidade, conhecida por um povo que luta e trabalha com afinco. Lá, muitos meninos passaram a rodar pião, soltar pipa e de pés descalços correr atrás de uma bola. Nem sempre cheia, nem sempre nova, mas uma bola em busca de uma chance. Com passagem pelo Serra Macaense, o atacante Leandro Joaquim, de 25 anos, atualmente no Seoul E-land FC, da Coreia do Sul, é um destes jovens.

“Colocava o chinelo no paralelepípedo para fazer as traves e ficava jogando bola até tarde. Aquele tempo era muito bom. A gente dava a vida por tão pouco, mas momentos que não voltam mais. Sinto muita falta de quando era criança. Hoje em dia a gente não vê mais isso, além de muito perigoso, tem muita quadra para jogar. Tenho muitos amigos até hoje do Aroeira, a gente troca ideia, lembra deste tempo, sinto saudades de lá, da minha infância. Aprendi muita coisa neste tempo e sempre achava que porque era difícil jogar lá, no campo devia ser mais fácil, tem chuteira, grama de qualidade... já na rua eu arrebentava meus dedos todos, mas nunca deixava de jogar. Minha mãe falava bastante, só que sempre tinha aquela bolinha final da tarde”, recorda nostálgico.
Leandrinho, como é conhecido, atuando pelo Seoul E-land FC, time da Coreia do Sul - Divulgação
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São cerca de 15 mil famílias que vivem no ‘berço de Macaé’. Uma delas é de Arthur Scheles. O jovem volante também defendeu o Serra Macaense antes de ser negociado com o Avaí, em Santa Catarina. O atleta entende que o segredo do local revelar tantos atletas está na oportunidade e na liberdade.

“Comecei como todo moleque, me divertindo, na brincadeira, mas desde novo sempre sonhei ser jogador de futebol. Cresci jogando na rua, com meus amigos. Toda minha família é nascida e criada no Aroeira. Quando não estou em competição, fora da cidade, estou em casa, soltando pipa, confraternizando com o pessoal. É muito bom. Acho que o segredo do bairro é que a molecada foi criada solta, golzinho com chinelo, sem restrição, aprendendo na rua, da forma que tem que ser, jogando livre. O que ajudou bastante também foi que muitos tiveram oportunidade em projeto social e digo que ainda tem muito talento que precisa ser mostrado, mas está escondido no bairro”, afirma.
Arthur Scheles defendendo as coores do Avaí, de Santa Catarina - Divulgação


Recentemente contratado pelo Serra Macaense, o artilheiro e destaque do Campeonato Carioca 2020, Matheus Babi é mais um jogador do Verdão que tem sua origem na região. Foi em meio ao Morro São Jorge, adjacente do Aroeira, que o atacante deu seus primeiros chutes. E até hoje busca sua essência ‘em casa’.

“A cidade de Macaé tem vários talentos, mas poucos tiveram oportunidade de seguir em frente, por alguma dificuldade. Sempre acreditei que um dia chegaria em algum lugar grande e nunca desisti de treinar, sempre batalhando, passando por cima dos problemas. Muita gente desiste no meio do caminho, por falta de ajuda. Eu comecei no Aroeira, no ‘terrão’ como a gente chama, pé descalço, muitos amigos de infância, lá por cinco, seis anos de idade. Hoje, no local onde nós jogávamos, tem uma quadra, mas antes era um aterrado, nós montávamos o golzinho e ficava jogando as ‘peladas’ entre amigos. Eu já me virava no meio dos adultos. Minha casa é no Morro São Jorge”, revela em tom de gratidão.

As lembranças e o sentimento de agradecimento pelo bairro Aroeira são unânimes entre os profissionais. A certeza de que diversos outros talentos podem ser forjados na região igualmente denotam de que vem mais jogadores por aí.

“É um momento que a gente não esquece. Onde começou tudo. O que aconteceu na minha vida veio do Aroeira, arrebentei cada dedo (risos) e hoje as coisas estão caminhando, mas não podemos esquecer nossas origens. Esta é minha melhor lembrança do Aroeira, o futebol de fim de tarde, a liberdade, a amizade”, finaliza Leandro.