No Terminal João Goulart diversos passageiros reclamaram. Divulgação

Os moradores da Zona Norte e Sul, além do Centro de Niterói, que dependem dos ônibus da empresa a Auto Ônibus Brasília, ficaram a pé no ponto. É que desde a última segunda-feira, (12), a empresa reduziu a frota em circulação, o que levou à paralisação de três das nove linhas da empresa que atendem sete bairros. Na madrugada, a empresa teve 16 veículos apreendidos por decisão judicial por não cumprir os prazos de pagamento do financiamento realizado para a compra de ônibus em 2018. A Prefeitura de Niterói afirmou, através da Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade que acompanha a situação para verificar as possíveis medidas que podem ser adotadas.
O Setrerj, sindicato que representa os consórcios Transnit e Transoceânico, havia alertado para o agravamento da crise no transporte público da cidade. O sindicato afirma como causa a pressão pelo congelamento da tarifa por três anos e pelas perdas durante a pandemia de Covid-19, e a Auto Ônibus Brasília foi obrigada a tomar a decisão.

"Com a retirada dos veículos da Auto Ônibus Brasília, aumenta também o risco de afastamento imediato de colaboradores com a redução forçada da operação, que provocará forte impacto social no setor rodoviário. É importante lembrar que a Brasília é a segunda empresa a apresentar graves restrições financeiras devido à crise que atinge o transporte público por ônibus em Niterói. Recentemente, a Auto Viação Ingá teve dificuldades no pagamento de seus funcionários devido ao esgotamento financeiro, mas conseguiu regularizar a situação, afastando a possibilidade de paralisação dos rodoviários", afirmou o sindicato.

O Setrerj não falou sobre a quebra do contrato e de possíveis acomodações salariais dos diretores para evitar a ação, mas reafirmou a necessidade de se avançar rapidamente na contratação e na conclusão do estudo de reequilíbrio econômico-financeiro do transporte municipal, anunciado pela própria Prefeitura no dia 29 de julho. "A análise servirá de base para estabelecer a tarifa técnica do sistema, de forma que compatibilize as receitas e os custos do setor, levando em consideração a desvalorização do valor da passagem pela inflação acumulada nos últimos três anos. O sindicato ressalta mais uma vez sua confiança no governo municipal na busca de soluções urgentes para recuperar o transporte coletivo e garantir o pleno atendimento da população", ressaltou o sindicato no texto.
A vendedora que mora em Venda da Cruz, Leila Rabelo Gomes, disse que não sabe como chegar mais no seu trabalho em Icaraí. "É preciso ter paciência, ainda bem que meu patrão é compreensivo, mas acho um absurdo as autoridades deixarem a coisa chegar a esse ponto, é lamentável", disse a vendedora. Mesma opinião da dona de casa Neide Teixeira ao afirmar que tinha que ir na casa da mãe e não conseguiu. "Ela mora no Centro de Niterói e só no ponto tive informações que não havia condução", afirmou Neide.  
Já o Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) disse que vê com extrema preocupação a situação da viação Brasília, que teve veículos apreendidos por decisão judicial na madrugada, como consequência da não quitação de dívidas contraídas em 2018 para a aquisição de ônibus. "Além do impacto de possíveis demissões, a crise nessa viação, que possui 181 funcionários, reflete o iminente colapso no sistema de transporte público de Niterói", disse o sindicato em nota. A entidade alertou que a violação das relações trabalhistas levará os trabalhadores a recorrerem ao seu direito constitucional, com a deflagração de uma greve.
“Sabemos que a Brasília e outras empresas não estão depositando o FGTS e pagando o INSS dos funcionários. Isso tem que ser acertado agora. Atrasos nos pagamentos e nos benefícios também são intoleráveis e levarão a uma greve da categoria”, afirma o presidente do Sintronac, Rubens dos Santos Oliveira.
O dirigente sindical também culpa a Prefeitura de Niterói pela atual crise no transporte público na cidade. A administração municipal não repassa há dez meses boa parte dos valores das gratuidades dos estudantes e congelou, por dois anos, o reajuste tarifário, descumprindo cláusulas do contrato de concessão.
“São 15% de defasagem do reajuste tarifário e o não repasse total das gratuidades. Com a retração no número de passageiros, provocada pela pandemia, pela ascensão dos aplicativos e pela consolidação do home office em várias empresas, o faturamento das companhias de ônibus despencou. O problema é que isso atinge os rodoviários, que já se sacrificaram muito para a população ter garantido seu direito ao transporte público. Isso não é justo”, assegura Rubens.
O Sintronac cobra ainda da Prefeitura a apresentação do estudo de reequilíbrio econômico do transporte público, anunciado pela própria municipalidade em julho deste ano, que poderá salvar as empresas de ônibus da cidade de um colapso total, com o estabelecimento de uma tarifa técnica, parcialmente subsidiada pelo governo.
“O poder público tem que entender que, na atual situação, a população será prejudicada, além dos trabalhadores. Esse modelo atual faliu. Precisamos urgentemente de um novo sistema e não há problema algum nos governos subsidiarem o transporte público, como já acontece em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e outras cidades. Aliás, em 2015, foi promulgada a Emenda Constitucional 90/15, que incluiu o transporte como um direito social, ao lado da educação e da saúde. Ou seja, o transporte é um direito constitucional do cidadão”, conclui o presidente do Sintronac.