Por thiago.antunes
Rio - O cabeleireiro Luiz Antônio de Jesus, 49 anos, espancando no banheiro da boate Queen na madrugada de sábado para domingo e declarado morto por traumatismo craniano no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, nesta terça-feira, lutava pela vida há 25 anos, tempo em que tomava o coquetel anti-HIV.
"Ele tinha muito alegria de viver, lutava muito contra o vírus da AIDS, diabetes e hepatite. Era a alegria da nossa vida. Por que fizeram isso com o meu filho?", disse Angélica da Silva de Jesus, mãe de Luiz Antônio, durante o enterro no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.
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Cerca de 150 pessoas compareceram ao local, entre familiares e parentes.
Dona de boate alega que vítima caiu
Boate Queen%2C em Jacarepaguá%2C foi interditada para a realização de perícia%3A vítima agredida em banheiroAlexandre Vieira / Agência O Dia

Em nota, a dona da boate, Jade Lima, lamentou a morte do cabeleireiro e negou que tenha havido qualquer agressão por parte de funcionários da casa noturna. Segundo ela, Luiz Antônio foi vítima de uma queda. Desolada com a morte do irmão, Angelina clamava por justiça. “Isto é um absurdo! Como uma queda seria capaz de desfigurar uma pessoa daquela forma?”, questionou.

A Divisão de Homicídios assumiu o caso e apura como crime de homofobia, seguindo a portaria 574, criada em 2012 pela Chefia de Polícia Civil.

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Horas antes de a morte ser confirmada, o delegado Antônio Ricardo, da 32ª DP (Taquara), ouviu depoimentos de familiares da vítima e de funcionários da casa noturna, que costuma ser frequentada pelo público LGBT. Ele também analisou imagens de câmeras de segurança do estabelecimento. O caso foi noticiado com exclusividade pelo DIA na edição desta terça-feira
Luiz ficou em coma e não resistiu aos ferimentos Reprodução

Na noite seguinte ao crime, outro frequentador disse ter sido vítima de comportamento homofóbico no mesmo banheiro. E acusou um segurança de tê-lo retirado do local, após ter paquerado esse funcionário. O segurança negou e foi liberado após prestar depoimento.

Enquanto o inquérito esteve na 32ª DP, a principal linha de investigação era de lesão corporal grave cometida para o roubo dos pertences do cabeleireiro.
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“O casaco de couro que ele vestia e o celular foram levados, mas não acredito que isto tenha motivado a barbaridade que foi feita. Tanto é que a carteira, com documentos e dinheiro, foi encontrada dentro da calça jeans”, argumentou Angelina de Jesus, uma das irmãs da vítima.
Organizações prestam solidariedade
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Não demorou para que a solidariedade chegasse a familiares de Luiz Antônio. Antes mesmo da morte, representantes do Centro de Referência e Promoção à Cidadania LGBT, vinculado à Prefeitura do Rio, ofereceram apoio jurídico e psicológico à família.
“Quem sofre uma violência desta natureza demora para se restabelecer socialmente. Mesmo com a morte, oferecemos todo respaldo à família, que também é lesada em um episódio como este”, garantiu a coordenadora do órgão, Sheila Corrêa.
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O sepultamento do cabeleireiro, que era homossexual assumido, de acordo com familiares, será custeado pelo Rio sem Homofobia, do governo do estado. Luiz Antônio de Jesus será enterrado nesta quarta-feira, no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá.
Carlos Tufvesson, coordenador especial da Diversidade Sexual da prefeitura, também ofereceu auxílio do setor jurídico e fez um apelo àqueles que estavam na casa noturna no momento do crime através de uma rede social na internet:
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“Peço encarecidamente para que qualquer pessoa que estava na Queen: ajude para que esse crime não fique impune. É a impunidade que traz a banalização da vida do ser humano”, escreveu. Segundo familiares, a vítima encontrava-se com a saúde debilitada.