Por raphael.perucci

Rio - A maior manifestação no Brasil depois dos ‘Caras Pintadas’ da era Collor tem uma vantagem inédita diante das demais mobilizações históricas. Os engajados nas críticas contra o aumento das passagens de ônibus ou contra a ação dos jovens agora podem usar smartphones e redes sociais para militar e divulgar seu ponto de vista.

O protesto gerou fotos e vídeos de ambos os lados — de manifestantes e dos agentes de segurança — postados no Youtube e no Facebook e vistos por milhares de internautas. “Quando você filma e compartilha, todos se sentem parte do movimento. A multidão anônima ganha rostos e histórias e cada um se identifica e se solidariza como se fosse um membro da família”, analisa a cientista social Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

Silvia observou que, ao contrário de movimentos partidários, como o MST, desta vez a manifestação tem a participação de jovens de diferentes classes sociais, com o mesmo objetivo. “São novas vozes. Pode ser que não tenham ganhos práticos de imediato, como em uma negociação sindical, mas estão estabelecendo um olhar crítico sobre a cidade com suas necessidades, como mobilidade”, diz.

Policiais também filmam a movimentação em SP (esq.). Jovem paulista brinca com mobilização na web (centro). Foto que teve ampla circulação nas redes sociais Reproduções Internet


Para o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência, da Uerj, as filmagens da multidão são um elemento de controle social de PMs e manifestantes. “Antes era a palavra de um contra a do outro. Agora as imagens são usadas como prova de defesa dos dois grupos”, avalia Cano, que aposta que a crítica ao valor das passagens é apenas a ponta do iceberg de uma insatisfação social mais ampla. “Os jovens acharam um canal para expressar sua revolta acumulada. A violência policial só alimenta o movimento”, analisa.

Imagem com repercussão instantânea

Um dos vídeos postados no Youtube, quinta-feira, mostra policial quebrando o vidro da própria viatura, durante manifestação em São Paulo. A repercussão foi instantânea: até sexta-feira à noite, o vídeo havia sido visto por 160 mil pessoas. A Secretaria de Segurança teve que se retratar. Afirmou que o policial estava só retirando os estilhaços do vidro, que já estava quebrado.

Na sua página no Facebook, o surfista Pedro Scooby compartilhou a foto de um rapaz com cartaz comparando o salário mínimo e gastos com corrupção. “Há pessoas que gostam de reclamar da vida e outros que vão à luta! Sinto cheiro de novos caras pintadas!”, comentou a internauta Jaqueline Melo.

Você pode gostar