Por marcello.victor

Rio - Um sargento do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e um homem morreram em confrontos entre PMs e traficantes da Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, na noite desta segunda-feira. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas. Segundo a polícia, todos são moradores da comunidade e não tem passagem pela polícia. Além do Bope, o Batalhão de Choque (BPChoque) ocupam a região.

Na madrugada desta terça-feira, muitos moradores tiveram que aguardar horas para voltar para casa, devido a ameaça de novos confrontos e disparos que eram ouvidos. Um helicóptero sobrevoou a região.

O sargento Ednélson Jernimo dos Santos Silva, de 42 anos, morreu após ser baleado na cabeça durante confronto na Nova Holanda. O Bope tinha sido acionado para intervir no ataque de criminosos a pedestres e motoristas na Avenida Brasil.

Os bandidos se aproveitaram do fim de uma manifestação que ocorria desde a tarde, em Bonsucesso, na Zona Norte, e promoveram o terror na região. Dezenas deles tentaram fechar a via e assaltaram diversas pessoas na região. Pelo menos 18 pessoas foram detidas e cinco menores apreendidos. Um sargento foi ferido a pedradas.

Bandidos promoveram arrastão na Avenida Brasil. Um sargento do Bope e um morador morreram durante confronto na comunidadeAlexandre Brum / Agência O Dia

O sargento Ednélson será enterrado nesta terça-feira, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, em horário a ser definido. Segundo nota da PM, ele tinha 17 anos de serviço na corporação, 13 deles no Bope. Ele deixa esposa e dois filhos.

Também baleado na cabeça, Eraldo Santos da Silva, de 41 anos, não resisitiu e morreu no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Outras cinco pessoas, também feridas à bala, foram socorridas na mesma unidade. Róbson Maceió, 40 anos (abdômen), Djalma Pereira da Silva, 53 (mão esquerda), Cláudio Duarte Rodrigues, 41 (nádegas), Vágner de Lima, 35 (virilha) e Alexsander de Oliveira, 40 (ombro). De acordo com a sala de polícia do hospital, nenhum corre risco de morrer.

O cozinheiro Djalma relembrou o momento em que foi baleado e a angústia para deixar o local sob fogo cruzado e buscar atendimento. Ante o intenso tiroteio e antes de ser ferido, ele contou que, temendo o pior, ainda orientou o sobrinho a arriar as portas da churrascaria onde trabalha e deixar a arrumação das mercadorias para depois.

"Pensei se ia morrer aqui, embaixo da minha mãe de 72 anos, com quem eu vivo. Estava perdendo muito sangue. Foi muito tiro, mas Deus está na frente. Eu estou vivo, continuo vivo", agradeceu o cozinheiro num dos acesso à favela, após ser medicado no hospital e liberado. Ele disse ainda que teve que sair pelos fundos da churrascaria devido ao intenso tiroteio. Djalma foi socorrido por uma vizinha e depois, em uma van, levado para o HFB.

PMs entraram na Favela Nova Holanda após arrastãoAlexandre Brum / Agência O Dia

Uma mulher que se identificou como como Nilzete disse que o marido Cláudio Duarte Rodrigues é motorista de van e estava trabalhando quando foi baleado. Ele está internado. A maioria dos moradores que aguardava na comunidade para voltar para casa preferiu não falar sobre a situação, com medo de represália. O sargento Cordeiro, de 45 anos, do 22º BPM (Maré), sofreu uma fratura no maxilar. Ele foi atingido por uma pedra.

Na Rua Teixeira Ribeiro, um dos principais acessos para a Nova Holanda, na altura da Passarela 9, policias do Bope, do BPChoque e do 22º BPM se concentraram. Pessoas e veículos que saiam eram revistados. Moradores que voltavam do trabalho passaram pelo menos quatro horas aguardando o melhor momento para entrar na comunidade e ir para casa.

O clima, porém, foi tenso durante toda a madrugada. Dois veículos blindados, os chamados Caveirões, incurssionavam a todo o momento na comunidade . Até às 3h ainda eram ouvidos disparos a esmos, possivelmente feito por traficantes. Até às 6h não havia informações de feridos ou novas apreensões.

O arrastão

O corre-corre começou por volta das 20h15, quando os criminosos chegaram munidos de paus, pedras e bombas caseiras. Uma equipe do 22º BPM e PMs do BPChoque revidaram a ação com bombas de efeito moral e balas de borracha. Logo após, os bandidos ateram fogo a montes de lixo e ocuparam uma das pistas da Brasil para assaltar os motoristas, mas foram impedidos pelos policiais.

Após o arrastão, o grupo seguiu em direção à Favela Nova Holanda. Policiais do Bope foram acionados e, com um blindado, entraram na comunidade. Houve intensa troca de tiros. A Força Nacional de Segurança também foi acionada e outro Caveirão deu suporte à ação dos policiais.

Manifestação reuniu 300 pessoas

A manifestação que ocupou a Praça das Nações transcorria pacífica desde às 13h desta segunda-feira. Os presentes, a maioria jovens, gritavam palavras de ordem no local e ergueram cartazes. Houve um princípio de tumulto quando um deles soltou um rojão no local, que foi rapidamente contornado.

Após a sucessiva ocupação das pistas da Avenida Brasil, o protesto foi dispersado pelos PMs no início da noite. Eles lançaram bombas de efeito moral para conter os manifestantes.

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