Por tamyres.matos

Rio - Saneamento básico, drenagens de valões e urbanização vão ser prioridades nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 na favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio. As obras, que devem começar no final deste ano, foram lançadas em junho pela presidenta Dilma Rousseff, e estão orçadas em R$ 1,6 bilhão. A previsão é de que fiquem prontas em 2015.

O secretário estadual de Obras, Hudson Braga, disse nesta segunda-feira, em nota, que as obras do PAC 2 fazem parte do plano diretor da Rocinha, elaborado por engenheiros, arquitetos e técnicos do estado, depois de discussões com as lideranças da comunidade, desde 2008.

"A maior parte dos investimentos será nessas obras. Vamos atender a mais de 20 mil moradias com saneamento básico. Haverá 100% de tratamento do esgoto que hoje desce a céu aberto pela Rua do Valão. Vamos separar toda a água da chuva, o esgoto e o lixo e, além disso, vamos fazer creche, escolas e urbanização", explicou.

Também está programada para as obras do PAC 2 a implantação de um teleférico na Rocinha. O sistema é um meio de transporte de massa interligado à estação de metrô da Linha 4, prevista para ficar pronta no final de 2015.

Representantes da Rocinha e Vidigal comemoraram encontro o governador Sérgio Cabral e o vice PezãoJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

"O teleférico vai transportar diariamente milhares de pessoas, a exemplo do que ocorre hoje com o do Complexo do Alemão, interligado aos trens da Supervia na Estação de Bonsucesso. Uma pessoa que mora no topo da Rocinha vai poder usar o teleférico e se conectar com o metrô. De lá, irá para a Barra, onde se conecta com os BRTs [sigla em inglês para transporte rápido por ônibus] e pode chegar até Santa Cruz. Vai a Ipanema, Leblon, para o centro da cidade. Pode usar também os trens da Supervia e chegar até a Baixada Fluminense. E ainda gera muitos empregos" ressaltou o secretário.

O PAC 2, parceria entre os governos federal e estadual, também inclui a construção de um espaço de desenvolvimento infantil (EDI), que integra creche e pré-escola, além de oficinas sociais e culturais nas estações do teleférico e nos novos conjuntos habitacionais.

Por meio do PAC 1, iniciado em 2008, o governo federal investiu R$ 272 milhões na Rocinha. As obras de complementação do PAC 1, orçadas em R$ 22,5 milhões, estão em andamento. A parte final do programa compreende a finalização de uma creche, a construção do mercado popular e a reurbanização do Caminho dos Boiadeiros, além de implantação de redes de abastecimento de água e de esgoto.

Foco dos protestos

Um grupo de moradores da Favela da Rocinha fez um protesto em frente à residência do governador Sérgio Cabral, no Leblon, na última terça-feira. As questões abordadas pelas cerca de 2 mil pessoas em passeata pela Zona Sul dizem respeito ao dia a dia da comunidade e os principais apelos em cartazes eram o fim da violência policial e os cuidados com o saneamento básico da região.

Manifestantes da Rocinha em protesto pacífico em direção à casa de CabralUanderson Fernandes / Agência O Dia

"Nossa intenção é mostrar para o Brasil as necessidades da Rocinha. Esta passeata é diferente das outras. Aqui ninguém tem R$ 0,20. Estamos vendo um teleférico de milhões sendo construído, enquanto minha filha tem que pisar em vala negra. Não sou contra o teleférico, mas acho que a prioridade é outra. Não é óbvio que tem que fazer saneamento antes do teleférico?", argumenta um dos organizadores da passeada, Fernandes Junior.

Antes de começar a passeata, parte do comércio na favela já estava fechado. O shopping Fashion Mall fechou mais cedo e tapumes foram colocados no lado externo, principalmente mais perto da comunidade. Os condomínios no bairro de São Conrado também foram cercados com tapumes nas portarias e tiveram a segurança reforçada. Cerca de cem policiais militares fizeram o patrulhamento no local. Apesar disso, não foi registrada nenhuma ocorrência na comunidade.

Outra questão criticada pelos manifestantes é a ausência de investimentos nos serviços mais básicos da Rocinha, apesar da presença de homens da Unidade de Polícia Pacificadora. "Pela água e luz nos becos, só polícia não adianta", diz um dos cartazes.

"As outras áreas da cidade estão conhecendo agora a face truculenta da polícia. Mas isso nao é novidade nenhuma pra nós. Acho que as pessoas tem que olhar duas vezes por aqueles que olham pela nossa comunidade e defendem nossos interesses. Não somos bandidos", afirma Érika.

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