Rio - Insatisfeitos com os frequentes tumultos provocados pelas manifestações contra o governador Sérgio Cabral, na Rua Aristides Espínola, no Leblon, Zona Sul do Rio, moradores da região querem vê-lo fora do bairro. Na manhã desta sexta-feira, vizinhos da autoridade fizeram um abaixo-assinado — que está sendo distribuído nos prédios da via — para que ele se mude para o Palácio Guanabara. Eles apontam o confronto que ocorreu entre policiais e manifestantes, na noite da última quinta-feira, como a gota d’água.

“Enquanto ele não aparece para falar com os manifestantes, a nossa rotina é alterada. Aqui tem muita gente idosa e crianças que estão sendo prejudicadas. A rua era calma e, de repente, virou algo infernal. Faltou o diálogo do governador com os manifestantes. Depois que ele mandou retirar o grupo que estava acampado aqui, na calada da noite, ele despertou raiva de muitos outros. Inicialmente, tudo estava acontecendo pacificamente. Ele deveria estar no Palácio Guanabara para receber as pessoas”, disse a jornalista Márcia Clarck, 62 anos.
“O governador deu uma declaração para que as manifestações ocorram no Palácio Guanabara, mas ele não está lá. Ele tem que falar com as pessoas, e não gerar essa confusão”, reclamou o corretor Humberto Bandeira, 44, ao lado do irmão Silvio Bandeira, 48, que faz coro: “Eu quero é que as coisas se resolvam, mas isso não está acontecendo”.
Também morador do bairro, o engenheiro Orlando Machado, 78, critica a manifestação em frente à casa do governador: “Não tem como um governador receber cada pessoa em sua casa. Sou a favor das manifestações pacíficas, mas acho que não têm que ocorrer aqui, e sim no Palácio Guanabara”, opinou.
Já a professora universitária e moradora do bairro, Lea Pereira, 82, apoia as manifestações no local: “Ele não colocou a cara e as pessoas vieram até ele. Embora atrapalhe os moradores, isso é necessário", argumentou.

Manifestação terminou em tumulto na última quinta-feira
A Polícia Militar afirmou, em nota, nesta sexta-feira, que a tropa da PM foi atacada a pedradas, na noite de quinta-feira. De acordo com o documento, um grupo que usava máscaras tentou romper o cordão de isolamento durante manifestação que ocorreu na Rua Aristides Espínola, no trecho onde mora o governador Sérgio Cabral.
Três policiais militares ficaram feridos na cabeça, dentre eles, um tenente que comandava parte da tropa. Três, das seis pessoas que foram presas após a ação do Batalhão de Choque, foram autuadas.

"Após serem atacados, os policiais usaram spray de pimenta e bombas de efeito moral pra dispersar o grupo. Três promotores de Justiça Estadual acompanharam e consideraram legítima a ação da PM", diz nota.
O governador Sérgio Cabral também emitiu um comunicado confirmando a posição da PM e lamentando o ocorrido.
“Lamento que, entre os manifestantes próximos à minha casa, houvesse gente jogando pedra com interesse de conflito. A PM esteve presente e se comportou de forma pacífica para garantir a manifestação e, somente agiu, depois que as agressões se tornaram insustentáveis, sob risco de depredação de portarias, prédios, automóveis, e risco de pedradas em pessoas, por parte daqueles que estavam dentro da manifestação com esse intuito”, declarou.
Líder do movimento afirma que ação da polícia foi truculenta
Ativistas negaram a acusação e criticaram a ação violenta da polícia. Com balas de borracha, bombas de efeito moral, spray de pimenta e gás lacrimogênio, os militares conseguiram dispersar a multidão pelas ruas do Leblon. Houve tumulto e correria pela orla e ruas do bairro. Moradores ficaram assustados. A estudante da PUC, Luiza Dreyer, de 22 anos, porta-voz do movimento Ocupa Cabral, negou a agressão aos policiais e disse que a ação dos PMs foi truculenta.
A estudante de Ciências Ambientais da Uni-Rio, Mariana Cordeiro de Farias Vergueiro, de 20 anos, contou que enquanto os manifestantes eram dispersados PMs do Batalhão de Choque atiravam a esmo, inclusive em pessoas que passavam pelo calçadão ou tentavam se refugiar da confusão na areia da praia.
"Essa repressão toda só dá mais vontade de voltar lá na porta do Cabral e continuar pressionado. Manifestantes e PMs só estão aqui na delegacia por causa dele", acusou a estudante.
