Por thiago.antunes

Rio - Apesar da aprovação do Papa Francisco e do arcebispo dom Orani Tempesta, a proposta feita ontem pelo prefeito Eduardo Paes de desapropriar judicialmente a área do Campus Fidei para transformá-lo em bairro popular, em Guaratiba, pelo programa Minha Casa Minha Vida, pode ser mais um tiro n’água. Ou melhor, na lama.

Procuradora da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público estadual, Christiane Monnerat disse que espera o laudo da perícia ambiental, feita no local, e que comprovará que o terreno está em Área de Preservação Permanente, ou seja, área não edificável. “Acho muito difícil o legislador mudar a natureza jurídica daquele terreno”, assegurou.

O vereador Paulo Pinheiro (Psol) achou estranho o anúncio do prefeito e disse que o seu partido fará um requerimento de informações para saber qual a razão de desapropriar uma área que se mostrou um fiasco. “Queremos saber quanto de recurso público foi investido naquela região, dentro e fora do campus. O que ocorreu ali se mostrou uma grande confusão. Esse anúncio agora, é um fato estranho”, disse.

A porta praticamente se transformou em uma janela na casa de Daniel Felix%2C em Guaratiba%2C após rua em frente ser pavimentada para a JornadaSeverino Silva / Agência O Dia

No terreno particular de 1,8 milhão de metros quadrados deveriam ter sido realizadas a vigília e a missa de envio da Jornada Mundial da Juventude. Os eventos foram transferidos para Copacabana, pois três dias de chuva no início da semana passada deixaram o local impraticável.

O Comitê Organizador Local da Igreja informou que investiu R$ 22 milhões na terraplanagem do terreno. Mas isso não evitou que o local se transformasse num lamaçal. E a prefeitura explicou que aplicou outros R$ 6 milhões na infraestrutura no entorno do terreno particular.

O Campus Fidei integra o loteamento Vila Mar de Guaratiba, de 5,7 milhões de metros quadrados, da Construtora Vila Mar. Um dos donos da empresa é o empresário de ônibus Jacob Barata Filho.

Neste domingo, pelo Twitter, ao anunciar o bairro popular, Eduardo Paes disse que “só os donos da área se beneficiariam”, ao se referir aos investimentos da Igreja no terreno. Paulo Pinheiro afirmou que o ideal é que se deixasse a iniciativa privada promover os investimentos ali. Para ele, se a prefeitura insistir na desapropriação, será mais um equívoco entre muitos outros cometidos pelo poder público durante a JMJ.

Pavimentação elevou o nível das ruas quase até a altura das janelas dos primeiros andares das residênciasEstefan Radovicz / Agência O Dia

‘Guaratiba será como o Recreio’

A desapropriação do terreno do Campus Fidei, com 1,8 milhão metros quadrados, pode variar de R$ 90 milhões a R$ 450 milhões. De acordo com o corretor de imóveis Aduilson Pereira, que atua em Guaratiba, o metro quadrado de área registrada varia de R$ 50 a R$ 250 na região, de acordo com a localização, principalmente o lado direito da Avenida das Américas, sentido Santa Cruz. 

“Guaratiba ainda é uma área de veraneio, mas, com a abertura do túnel, deverá se valorizar”, disse Pereira. Segundo ele, a região deve receber grandes empreendimentos imobiliários nos próximos anos: “Mas, dependendo do local, é necessária muita infraestrutura”.

Região precisa de estrutura

Moradores de Guaratiba aprovam a ideia da construção de um bairro popular no local do Campus Fidei. Eles ressaltam, porém, que o projeto só seria viável se houvesse uma preparação correta do terreno para receber as casas e se a prefeitura investisse mais em transporte público e saúde para a região.

Dois dias antes da vigília%2C era este o cenário do Campus Fidei. No dia seguinte%2C evento foi transferido para CopaAndré Mourão / Agência O Dia

Morador de Guaratiba desde 1976, o autônomo Elpídio Muniz da Silva Neto, 50 anos, alerta para a necessidade de drenagem no local. “Essa região é cercada por rios e mangues. Quando chove, alaga tudo.Mas se fizerem drenagem e uma boa estrutura de revestimento, conseguem construir casas com segurança”, avalia.

Para a operadora de telemarketing Beatriz Monteiro, 19, a construção de casas populares poderia trazer desenvolvimento para a região, inclusive com relação aos transportes. “Com a chegada do BRT melhorou, mas, mesmo assim, os ônibus vivem lotados e depois de meia-noite é muito difícil passar”. Além disso, ela conta que a maioria dos postos de saúde está abandonada e não teria condições de atender mais gente. “A saúde pública aqui é muito ruim. Não há médicos”.

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