Por thiago.antunes

Rio - Uma chacina em capítulos. Silenciosamente e sem espalhar corpos pela cidade, a guerra entre traficantes de drogas e milicianos pelo domínio do Morro da Barão, na Praça Seca, amedronta moradores na mesma proporção que suas vítimas se avolumam nas estatísticas de homicídios da Polícia Civil. Só este ano, pelo menos 12 pessoas foram mortas — quatro apenas em outubro —, mas sempre em horas e pontos diferentes, sem chamar a atenção.

A guerra começou após o “arrendamento” do Morro da Barão a um grupo de traficantes da Vila Vintém, em Realengo, no início do ano. O negócio rendeu R$ 300 mil a homens ligados à milícia comandada pelo ex-sargento da PM Luiz Monteiro da Silva, o Doem. Pelo acerto, os paramilitares continuariam a explorar o ‘gatonet’, o transporte de Kombis e a venda de botijões de gás. O tráfico ficaria com pontos de venda de drogas.

Aldo Nunuccelli (camisa azul) e Luizinho (camisa amarela)%2C que é investigado pela Divisão de HomicídiosReprodução

À frente do acordo estaria o miliciano Luís Carlos Costa Coelho, o Luizinho. Ele coordena os negócios do grupo desde a prisão de Doem, em 2009, por formação de quadrilha. Mesmo sem autorização do chefe, levou adiante o acordo, mas reservou uma surpresa aos traficantes. Com parte do dinheiro no bolso, ele e mais quatro milicianos denunciaram à PM os pontos onde estavam escondidos os traficantes e quem comandava a venda de drogas.

A repressão policial deu certo: bandidos ligados à facção Amigo dos Amigos (ADA) recuaram e, na época, deixaram o morro. Mas a estratégia da milícia vazou para o tráfico. Um a um, os artífices do acordo começaram a ser mortos. Alguns por retaliação de traficantes; outros na briga interna da milícia pela divisão do dinheiro. E, em pelo menos um caso, para que a notícia da “venda” do morro não chegasse aos ouvidos do chefe na cadeia.

Irmão do chefe foi um dos mortos

Calado à bala para não denunciar as tramas do grupo, João Monteiro da Silva, o João Facão, foi uma das vítimas da milícia para ocultar a “venda” do Morro da Barão do chefe Luiz Monteiro. João descobriu o negócio e ameaçou denunciar. 

Paramilitares se reuniam em casa%2C na Praça Seca%2C conhecida como UPPReprodução

Os milicianos foram mais rápidos. Informaram a Doem, na cadeia, que o irmão estava desviando dinheiro do caixa da milícia e escondendo uma forturna. A trama teria legitimado aos olhos do chefe e da comunidade a execução de João. Ele foi assassinado em fevereiro.

Grupo que “vendeu” o morro se reúne na UPP da milícia

O grupo que “vendeu” o morro é o mesmo que criou a UPP da Milícia, como ficou conhecida a casa, na Praça Seca, onde paramilitares se reuniam e que foi pintada com as cores da PM e ganhou a sigla da Unidade de Polícia Pacificadora. 

A milícia é divisão do grupo que dominou por anos todas as favelas da Praça Seca. A organização rachou com a briga do ex-PM Doem com o ex-vereador Luiz André Ferreira da Silva, o Deco. Com a briga, o bairro foi dividido. Cada grupo ficou com uma parte e seu faturamento com a venda de segurança, botijões de gás, gatonet e transporte irregular.

‘Vendedores’ assassinados

Dos quatro assassinados na Praça Seca em outubro, três estavam diretamente ligados à milícia e à “venda” do Morro da Barão. Um deles é Aldo Nunuccelli Neto, o Dino, amigo de Luisinho e investigado por agentes da Divisão de Homicídios por participação em assassinatos na Favela da Chacrinha. 

Dino foi assassinado a tiros no dia 5, um dia depois do taxista Marcelo Gomes Vieira, o Marcelo Salsicha, na Estrada da Chácara. Nos dois casos, os assassinos foram dois homens, que estavam de moto. A terceira morte foi a do comerciante Leandro da Silva Ribeiro, o Leandro Peixinho. Ele estava no seu bar, na Favela da Chacrinha, acompanhado por duas mulheres, quando homens passaram atirando e o acertaram quatro vezes.

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