Rio - Mais inacreditável que o roubo das seis vigas, de 20 toneladas cada, que faziam parte da estrutura da Perimetral, é que, um mês depois do registro do caso, ninguém sabe o paradeiro do material. Como em um passe de mágica, os ‘gigantes de aço’ sumiram sem deixar rastro e, muito menos, indícios de quem seja o ‘super ladrão’. A Polícia Civil vai enviar semana que vem o inquérito ao Ministério Público pedindo um prazo maior para realizar novas diligências.
O mistério surpreende até quem está acostumado a grandes obras, como o pernambucano Iranildo Severo, que se considera um ‘peregrino’ de construções no Rio, em São Paulo, Recife e Goiás. O sorriso só sai do seu rosto quando perguntado sobre o desaparecimento das vigas. “Não vi e nem quero ver quem levou. Pelo peso, garanto que não saiu daqui no meu lombo”, diz o ajudante de pedreiro, antes de cair na gargalhada novamente.
O titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Rodrigo Santoro, requisitou imagens das câmeras da CET-Rio (que são apagadas periodicamente) e das viaturas da UPP do Caju, que passam pelo local do roubo com frequência. “As testemunhas se contradizem sobre quem levou. Fizemos diligências em siderúrgicas e outros locais denunciados, mas até agora, nada. Ainda não descobrimos quem roubou, nem para onde levou.”
O que se sabe, por enquanto, é que as vigas saíram do terreno onde estavam armazenadas, no Caju, entre o início de junho e o dia 12 de agosto. Testemunhas afirmaram que houve verdadeira operação para o roubo: as estruturas foram cortadas e transportadas em caminhões, com apoio de guindaste. Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, essa logística não é fácil. “Seria preciso usar maçaricos potentes para cortar, caminhões grandes e guinchos. Além disso, para serem usadas em outros locais, precisariam ser transformadas ou derretidas, o que só é possível em fornos de siderúrgicas, acima de 500 graus.”
Agostinho acrescentou que o aço interessaria a obras de grande porte ou próximas a regiões marítimas, por exemplo, onde a ação da maresia e da ferrugem requerem o uso de materiais resistentes. “Esse material pode durar três séculos sem manutenção.”
Polícia quer checar GPS de empresa
A empresa Transreta, contratada para fazer o transporte das estruturas para área determinada pelo Consórcio Porto Novo, informou que realizou o trabalho sob supervisão do consórcio, e em duas etapas: a primeira, no transporte de 18 vigas retiradas do elevado até o local de armazenagem; e, em outra ocasião, na movimentação de 12 vigas para a Via Binário, onde foram reutilizadas na construção da nova avenida.
A empresa ressaltou que não era responsável pela guarda ou supervisão do material. Mas a polícia requisitou informações do GPS dos caminhões e guinchos da companhia.
Ruas usadas como alternativa são redescobertas pelos cariocas
Transtorno para alguns, território a ser explorado por outros. A interdição da Perimetral tem feito com que importantes vias da Zona Portuária, que passaram décadas esquecidas e entregues ao abandono, voltassem à ‘boca do povo’. Ruas como Equador, Cidade Lima, Pereira Reis e da Gamboa, tidas como perigosas e pouco movimentadas, têm registrado fluxo recorde desde que a região passou a ser usada como alternativa à congestionada Avenida Rodrigues Alves.
“Em 22 anos aqui, nunca vi tanto movimento. Quando digo que tenho um bar na esquina das ruas União e da Gamboa, as pessoas sabem que fica no caminho para o trabalho delas”, diz Eduardo Farias, que estima um aumento de 25% no faturamento. Quem passa por ali, também se impressiona. A estudante Letícia Ribeiro diz ter tido medo de circular pela região por anos: “Sempre ouvi que era perigoso. Me surpreendi com a arquitetura dos sobrados e com o ambiente familiar de dia”.
Para o subprefeito do Centro, Luiz Cláudio Vasques, a região ‘ressuscitou’ depois de anos de ostracismo. “É fantástico ver o comércio se revitalizar”. O secretário municipal de Transportes, Carlos Osório, celebra as alternativas: “São vias importantes para desafogar os acessos ao Centro. Ainda bem que os cariocas estão se adaptando”.