Por cadu.bruno

Rio - A missa de sétimo dia do repórter Lucio Natalício Clarindo será realizada nesta quinta-feira, às 19h, na Igreja Nossa Senhora da Anunciação, na Rua Frei Pinto, número 27, no Riachuelo. O jornalista morreu na última quinta, no Hospital São Vicente de Paulo, na Tijuca, vítima de cirrose hepática. O corpo de Natal, como era carinhosamente chamado, foi sepultado no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

O homem que colocou no banco dos réus o poderoso e temido general Newton Cruz, o chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI), no período mais escuro da Ditadura Militar, era frágil. Seus 58 quilos, distribuídos em pouco menos de 1,60 metro, davam a impressão de que o jornalista Lucio Natalício Clarindo, 59 anos, era do tipo que não metia medo em ninguém.

Lucio Natalício morreu na última quinta-feiraReprodução

Mentira. Seu jeito franzino e saúde sempre debilitada não impediram Natal de atravessar a passarela de Vigário Geral, em uma madrugada de 1993, para conferir a história de que 21 trabalhadores foram assassinados por PMs. Guardou o conselho dos colegas de profissão para ter cautela e foi o único a entrar na favela antes do sol raiar e denunciar o massacre nas páginas do DIA.

Não era o arroubo de coragem que impulsionava Natal nas coberturas jornalísticas, mas a necessidade da precisão antes de mandar a notícia para o papel. Anos antes, em 1988, deu o mesmo passo ao entrar na casa, em Teresópolis, onde um menino de 13 anos era mantido sob a mira de armas pelo grupo do assaltante Maurinho Branco — que ficaria famoso depois, com o sequestro do publicitário Roberto Medina.

Natal e os companheiros de profissão se juntaram ao refém na longa negociação para a polícia não invadir a residência. Com uma pistola apontada para a cabeça, Natal foi escudo para o criminoso em algumas das vezes em que apareceu na janela para conversar com os policiais.

Carinho da filha%2C Amanda Raiter%2C que seguiu os passos do pai na profissão e é repórter do DIAReprodução

Guerrilheiro por opção, fez do jornalismo a sua trincheira em favor dos descamisados. Caminho que o levava a percorrer sempre o pedaço mais humilde da rua e ouvir histórias como a do bailarino Claudio Werner Polila, o Jiló, testemunha do sequestro do jornalista Alexandre Von Baumgarten — dono da Revista ‘O Cruzeiro’, que apareceu morto 12 dias depois.

Com o depoimento e investigação, Natal emoldurou o rosto do responsável pela operação montada nos aparelhos de repressão para assassinar Baumgarten: o general Newton Cruz. Mais uma primeira página em O DIA, onde passou 35 anos.

'Baú do Natal'

Sempre se orgulhava dos feitos e, há oito anos, passou a carregar um amontoado de papéis para tudo que era lugar. “Aqui está o rascunho do meu livro”, exibia, como um troféu, as folhas redigidas no computador. Repórter do tempo da máquina de escrever, colocou no livro ‘Baú do Natal’, as histórias engraçadas que costumava contar aos jornalistas mais jovens.

Casos verídicos, colhidos ao longo dos 41 anos de redação — além do DIA, trabalhou na ‘Última Hora’ e na ‘Luta Democrática’ —, que, diante dos mais incrédulos, garimpava rápido uma testemunha para confirmar a autenticidade. “Jornalista não pode ser desmentido, perde o crédito”, batia o martelo.

O gosto pela música quase o fez mudar de carreira. Adorava compor e tocar guitarra, sempre o som mais estridente do Rock — Janis Joplin, Pete Townshend e Eric Clapton eram seus eleitos. O jornalista era casado com Regina Lima e tinha uma filha: Amanda Raiter, repórter do DIA.

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