Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - A Comissão de Segurança Pública da Alerj realiza, nesta quinta-feira, uma audiência extraordinária para apurar as circunstâncias que levaram a morte do recruta da Polícia Militar Paulo Aparecido Santos Lima, de 27 anos, que morreu na última sexta-feira após ficar internado por 12 dias no Hospital Central da PM. Ele sofreu queimaduras, insolação grave e perda dos rins após treinamento no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), no último dia 12.
O comandante do Cfap, coronel Nélio Monteiro Campos, e oficiais que participaram do treinamento devem prestar depoimento durante a audiência. De acordo com o presidente da comissão, o deputado Iranildo Campos (PSD),  serão solicitadas explicações sobre a falta de assistência médica na unidade e a aplicação de exercícios físicos não previstos na programação original.
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“É inadmissível que, naquele dia, o Cfap não tivesse médico, ambulância nem desfibrilador para atendimento de emergência. Como pode isso em uma unidade com 2 mil alunos? O cronograma de atividades não incluía exercícios físicos para os recrutas. Esse tipo de atividade só poderia ocorrer após a segunda semana de treinamento”, estranhou Iranildo.
Na última quinta-feira, membros da comissão estiveram no centro de treinamento, em Sulacap. Participaram da reunião o diretor-geral de ensino da PM, coronel Antônio Carballo, o diretor do Hospital Central da PM, Portocarrero, e Nélio Campos, comandante do Cfap. Na ocasião, Marcelo Freixo condenou as condições que os alunos enfrentam durante o treinamento.
Freixo conversa com oficiais no Cfap durante vistoria no localEstefan Radovicz / Agência O Dia

"Não é dificil concluir que o treinamento foi muuito inadequado, já que uma pessoa morreu e outras 33 passaram mal. Não é possível que não haja um protocolo que impeça que um treinamento com uma temperatura tão elevada seja realizado. Não pode funcionar na base do bom senso", relatou. Freixo pediu o diagnóstico dos 33 alunos que deram entrada na enfermaria e o cronograma das atividades do dia.

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O comandante do centro de treinamento se defendeu das acusações. "Os objetivos dos treinamento físico são a defesa pessoal, técnicas de abordagem, além de exercícios de educação física. Esses exercícios duram no máximo 50 minutos", disse.
Oficiais da PM criticam excessos de instrutores do Cfap
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?A morte em treinamento do recruta colocou em xeque o comando do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap). Em reunião sexta-feira com a cúpula da Polícia Militar, no auditório da Academia Dom João VI, oficiais relataram preocupação com excessos e abusos cometidos por instrutores na formação de policiais.
Recruta chegou desmaiado%3A ele morreu após 12 dias internado Reprodução

Nos bastidores, a PM analisa a queda do comando do Cfap, o que deve ocorrer no mês que vem. Outra mudança prevista é na Corregedoria da corporação. Está cotado para assumir o posto o coronel Amaury Simões no lugar do coronel Augusto Tanner de Lima Alves. Nesta terça-feira, entretanto, oficialmente, o troca-troca ainda era negado. Hoje, militares também vão prestar depoimento no Ministério Público, que atua junto à Auditoria de Justiça Militar no caso.

No prontuário médico que registrou o atendimento, dia 12, ainda no Cfap, consta que Paulo Aparecido chegou desmaiado e sem responder a estímulos. No local, não há plantão médico 24 horas.
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Depois, foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Marechal Hermes para, só então, ser transferido para o Hospital Central da Polícia Militar. Outros militares também passaram mal. Paulo Aparecido foi enterrado sábado no cemitério de Mucajá, em Engenheiro Pedreira, Japeri.
Parentes e amigos cobraram punição dos responsáveis pela morte. O jovem ficou internado 12 dias no HCPM e teve morte cerebral constatada dia 18. Foram observadas queimaduras nas mãos e nas nádegas, além de insolação grave e perda de dois rins. O caso está sendo investigado como homicídio. Os oficiais da PM responsáveis pelo treinamento foram afastados quando o caso veio à tona. Mas, para muitos coronéis, é preciso mais mudanças em função da morte de Paulo Aparecido. Ou seja, o próximo a deixar o cargo no Cfap pode ser o comandante Nélio.
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