Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio- O deputado federal Miro Teixeira trocou recentemente o PDT do guru Leonel Brizola pelo novíssimo Pros. O que ele queria mesmo era se filiar à Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, mas a legenda não conseguiu registro para a próxima eleição, e Miro teve que improvisar. Ele jura que não tem medo de enfrentar a aliança-trator do governador Sérgio Cabral — em quem já votou duas vezes, aliás — e já botou o time em campo. Na mesa de seu escritório no Rio de Janeiro, o deputado tem uma pilha de papeis com números e mais números sobre as finanças do estado. De onde vieram? Miro tripudia: “Eu tenho muita gente, esses números não estão surgindo do nada. São trabalhos muito articulados. Eu estou com uma colaboração enorme de servidores públicos. Com relação à articulação para alianças, surpreende e diz que tem conversa com qualquer partido que queira lhe apoiar. Sem “restrição”. Simples assim.
Sobre alianças para eleição para governador%3A "Não existe restrição a receber apoios"%2C surpreende Miro TeixeiraCarlo Wrede / Agência O Dia

O DIA: Por que o sr. quer ser governador?

MIRO TEIXEIRA: Eu tenho uma enorme convicção de que, se receber essa confiança do povo do Rio, tenho possibilidade de fazer um governo que melhore e muito a qualidade de vida da população. Nós temos desafios que se agravaram por força do próprio crescimento populacional, do estrangulamento das médias e grandes cidades, do risco que hoje correm as pequenas cidades de se tornarem também inviáveis. Todas as pequenas cidades vão se desenvolver, vão crescer, então é preciso que desde já você tenha um planejamento urbano projetado no tempo, planos decenais, planos que não inviabilizem o crescimento com qualidade de vida. Se você olhar o que era o problema da grande cidade, hoje já é problema da cidade de porte médio. E participo muito da serenidade da Marina Silva, minha amiga queridíssima, em cujo projeto eu estou engajado, de criação da Rede Sustentabilidade. Você não constrói o futuro desprezando o passado.

Por que o sr. trocou o PDT pelo Pros?

Meu projeto era... é o Rede, que não tem registro no TSE. O Pros me deu essa filiação democrática, assim como o PSB deu à Marina. Como a Marina não tem mandato, ela poderia ir para qualquer partido. E eu só poderia vir para um em formação, que é o caso do Pros, e fui muito bem recebido.
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Como enfrentar a aliança que apoia o governador Sérgio Cabral?<
Eu tenho a disposição de fazer a campanha gastando sola de sapato e filmando as coisas com meu telefone. Espero que não seja necessário chegarmos a isso, mas eu tenho essa disposição, se for o caso. Acho que a população vai perceber uma candidatura diferente, que tem propostas e a indicação dos meios de alcançar os objetivos. Eu, no momento, estou me dedicando muito a estudar as finanças do Rio de Janeiro, a projetar a possibilidade de arrecadação, a verificar as dificuldades enormes que têm as pessoas no Rio de Janeiro com uma burocracia que não se justifica absolutamente. A ausência do uso de tecnologia na área da Fazenda é algo absurdo. Eu não posso imaginar que o atraso da implantação de serviços que deem mais transparência e mais conforto aos cidadãos seja algo pré-concebido. Porém, a existência deste cenário facilita, sim, as extorsões.

Com quem tem conversa para o segundo turno? Há algum partido que o sr. não aceitaria como aliado de jeito nenhum?

Para ser apoiado eu não tenho restrições porque eu tenho um patrão: o povo. Eu não tenho um momento em uma votação que eu tenha cedido a qualquer tipo de pressão que não seja a legítima e democrática pressão do povo. Não existe restrição a receber apoios porque nada, nada, nada alterará jamais esse meu comportamento.

Se o sr. for eleito, qual será a primeira coisa a fazer quando assumir?

Caminhar para a transparência da arrecadação e da despesa, o que se pode fazer muito rapidamente. Eu fiz isso quando fui ministro das Comunicações, na Empresa de Correios e Telégrafos, (ECT). Eu reuni os funcionários dos Correios e pedi para ajudar a fiscalizar, como pedirei aos servidores públicos do Rio de Janeiro. Com isso, nós teremos uma gestão financeira capaz de enfrentar os grandes desafios que permanecem no estado.

Por exemplo?

Educação continua sendo um desafio.

O que o sr. considera um problema na Educação?

Você tem grandes adensamentos demográficos com poucas escolas, por exemplo. Você tem a educação primária, fundamental, como responsabilidade do município. Mas o estado precisa estar mais presente no nível técnico, no nível médio e na preparação de mão de obra técnica para o ambiente científico.

E as crianças?

Há uma grande confusão: escola de tempo integral é uma coisa, educação integral é outra coisa. O ideal é que a educação integral se dê numa escola de tempo integral.

Como o Ciep, projeto do governo Leonel Brizola, entra aí?

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A concepção do Ciep — do Brizola, do Darcy Ribeiro — era de educação integral na escola integral. O ideal é que seja isso.
O sr. pretende resgatar o projeto do Ciep?
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Pretendo. Me parece que a educação integral está no cardápio de todos os governantes. A questão é o compromisso de fazer. Eu vou fazer. Ponto. É o projeto que tem que dar à criança o ensino básico, o acesso à cultura, aos esportes, a uma alimentação conveniente. Sem o que nós vamos continuar a perder gerações.
Como era a sua relação com o Brizola?
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Eu brigava com ele três vezes por semana e fazia as pazes quatro. Brizola era uma figura pessoalmente encantadora e razoavelmente teimoso como eu.
O sr. vai fazer auditoria?
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Isso é necessário para se ter a noção exata, não tem um caráter de perseguição, de inquérito, de nada disso. Quando você pega os orçamentos, você vê muita maquiagem.
Como assim?

Você tem um problema sério no endividamento do estado. Você tem hoje um estado tomando dinheiro emprestado para rolar dívida. É como cartão de crédito e você pegar crédito consignado para pagar outro crédito consignado. Houve um aumento da capacidade de endividamento do estado porque o Senado votou para vários estados. Hoje você tem todas as questões relacionadas a pagamento de aposentados e pensionistas dependendo de recursos dos royalties. Então, você tem uma insegurança nas contas do estado porque dinheiro dos royalties em nenhum país do mundo é usado para cobrir despesas permanentes. Por quê? Porque petróleo acaba. Então o exemplo mundial é esse: aplica-se esse dinheiro em atividades que gerem outros recursos. Tem muita renúncia fiscal também que não traz retorno para o estado.

Por exemplo?

Acho que tem R$ 11 bilhões de renúncia fiscal cujos benefícios nós precisaremos medir. Isso só poderá ser apontado com um estudo aprofundado feito por quem estiver sentado naquela cadeira. Em que circunstâncias foram concedidas essas renúncias e a pretexto de quê? E aí dá para você verificar, com o passar do tempo, se aquelas coisas aconteceram.

Por que, em tese, tem uma contrapartida, não é?

Sim, que vai gerar tantos empregos...

É isso que o sr. chama de “maquiagem”?

Não, isso pode ser chamado de “prejuízo” mesmo. 

O sr. já votou no Cabral, não já?

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Votei no Sérgio duas vezes, gravei um programa de TV para ele...
Votaria nele agora?
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Não, agora o candidato sou eu. (risos).
Miro Teixeira trocou recentemente o PDT do guru Leonel Brizola pelo novíssimo ProsCarlo Wrede / Agência O Dia

Que críticas o sr. faria ao governo dele?

Acho que ele tem na administração dele fatos positivos. O Cabral não pode ser atacado genericamente. O que decepcionou a população não foi o governo dele, foi um comportamento dele. Na vida pública você tem que cuidar também dessa aparência na sua vida pessoal, pelo exemplo que você transmite às pessoas.

Do que o sr. está falando exatamente?
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Estou falando das festas, do uso do helicóptero para lazer, das gravações que saíram em redes e sites, dos momentos em que ele viajou por puro lazer, da demora de chegar em área da catástrofes em Angra dos Reis... São aspectos negativos.
O sr. já tem gente trabalhando no programa de governo?
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Eu tenho muita gente, esses números (detalhes das contas do estado sobre sua mesa) não estão surgindo do nada. São trabalhos muito articulados. Eu estou com uma colaboração enorme de servidores públicos. As reuniões são longe, já fizemos umas quatro ou cinco. Se eu te mostrar isso aqui, você vai ver o nível de precisão das informações. São pessoas que têm esses espírito da vida pública, que querem ver o estado se adiantar, a população viver melhor...
São pessoas que estão...
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... insatisfeitas com o estado de coisas.
Já tem alguém coordenando sua pré-campanha?
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Não. Como tenho tido essa enorme colaboração de pessoas muito qualificadas em todos os setores, eu prefiro até que se trate dos assuntos diretamente comigo para que elas tenham maior segurança de que estarão protegidas. Literalmente, porque elas podem ser perseguidas.