Por thiago.antunes
Rio - Os índios presentes na tentativa de desocupação da Aldeia Maracanã, nesta segunda-feira, afimam que só deixarão o local após decisão da Justiça Federal. Segundo o índio Ashninka, que veio da fronteira entre o Peru e o Acre, o grupo deve ficar no prédio até a manhã desta terça-feira. "Faremos vigília até sair a decisão da 7ª Vara Federal. Esperamos também alguém do Ministério Público Federal, um representante do estado que não seja a PM e alguém da Funai", contou o indígena. Ainda segundo ele, o cacique Uratau Guajajara, há horas em cima de uma árvore, está sendo torturado por não conseguir obter comida e água.

"Não somos bandidos e não confiamos na polícia. Os bombeiros são defensores da vida e estão impedindo que nosso irmão Guajajara recebe alimentação. Ele está fraco e pode cair da árvore a qualquer momento", afirmou Ashninka. O advogado do grupo, Arão da Providência, disse que tentou entregar água e banana para o cacique, mas foi impedido. "Me disseram que se eu entregasse, ele não ia sair de lá. Achei engraçado a postura deles. A ação da PM é ilegal, a posse do prédio nunca saiu da pauta dos indígenas, que ainda não foram integrados", avaliou o advogado. Cerca de 150 manifestantes ainda estão no local e tentam negociar com os policiais e bombeiros.

Cacique está há horas em árvoreFabio Gonçalves / Agência O Dia

Cacique está há horas em árvore

O cacique Uratau está há mais de seis horas no alto de uma árvore no Museu do Índio, no Complexo do Maracanã, resistindo à desocupação do espaço, nesta segunda-feira. Um negociador do Batalhão de Operações Especiais (Bope) chegou a ser chamado para convencer o homem a descer, mas o indígena se recusou. Neste momento, bombeiros montam equipamento de rapel para retirá-lo da árvore. Por volta das 17h20, os manifestantes se organizaram para levar água e comida ao cacique. Os bombeiros entregaram os mantimentos. Mais cedo, 26 pessoas foram levadas para a 18ª DP (Praça da Bandeira). Destas, 24 foram autuadas por resistência e devem ser julgadas no Juizado Especial Criminal (Jecrim).

Polícia leva manifestantes à delegacia após desocupação do Museu do ÍndioFabio Gonçalves / Agência O Dia

As outras duas pessoas foram autuadas por furto de material de escritório e resistência, desobediência e desacato, respectivamente. O furto ocorreu no prédio da Associação Nacional dos Agropecuaristas (Anagro), desativado há anos, que estava sendo usado pela Odebrecht, uma das empresas envolvidas nas obras do Complexo do Maracanã. Os ativistas ocuparam o espaço. Segundo o delegado Fábio Barucke, da 18ª DP, a outra pessoa xingou os policiais."A pessoa se dirigiu a um dos PMs com palavras de baixo calão. Além disso, todas as penas somam mais de dois anos, o que joga o caso para justiça comum", afirmou Barucke. Os 25 manifestantes foram liberados e, até às 16h desta segunda-feira, se reuniam para fazer uma 'vaquinha' e conseguir a quantia de um salário mínimo, necessária para a liberação do último detido.

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Divergência em ação
Ainda de acordo com o delegado Fábio Barucke, a ação policial se baseou em uma decisão judicial de março deste ano. No entanto, os indígenas mostraram documentos, datados de setembro, que garante a ocupação do espaço. O advogado do grupo foi à Justiça Federal para protocolar a decisão.
Polícia leva manifestantes à delegacia após desocupação do Museu do ÍndioFabio Gonçalves / Agência O Dia

Pela manhã, policiais realizaram um cerco na área e retiraram algumas pessoas à força. Segundo os agentes, 26 ativistas foram detidos e, até às 16h desta segunda, somente um deles aguarda o pagamento da fiança de um salário mínimo para ser liberado. A pista sentido Centro da Radial Oeste foi fechada a partir da Rua São Francisco Xavier, após o Viaduto da Mangueira, por cerca de 2h30. A via foi reaberta por volta das 10h. O grupo foi retirado do museu e levado para um ônibus da PM.

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A ação de desocupação do antigo Museu do Índio teria sido ilegal de acordo com Arão da Providência.  “Nenhum mandado judicial foi apresentado e nenhum oficial de Justiça esteve no local”, denuncia. Segundo ele, a posse foi dado aos índios pela Justiça Federal e nenhuma decisão legal foi tomada para revogar a medida. "A decisão diz que é legítimo os índios estarem ali", argumenta Arão.
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"Houve ilegalidade nas prisões porque não há ordem judicial para a desocupação. Os policiais usaram gás de pimenta e agrediram manifestantes", explicou o advogado André de Paula, da Frente Internacional dos Sem-Teto, que foi para a 18ª DP.
O estudante de enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Dalvi, de 24 anos, disse que uma pessoa foi agredida enquanto os indígenas subiam no telhado do museu. "Um policial tentava conversar, mas outros eram mais agressivos e uma pessoa levou um soco na barriga", afirmou o estudante, que disse ter ido ao local prestar socorro "em caso de necessidade". Em nota, o Governo do Estado informou que o antigo Museu do Índio não será derrubado. Ele será transformado em um Centro de Referencia das Culturas Indígenas.
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