Por tamyres.matos
Rio - A sensação térmica de 50 graus tem feito cada vez mais cariocas e turistas adotarem o hábito de ir à praia à noite, para fugir do sol. O banho de mar noturno, antes restrito ao Arpoador e aos trechos mais bem iluminados da Avenida Atlântica, virou febre do Leme ao final do Leblon e movimenta o comércio na orla.
Na noite da última sexta-feira, com os termômetros marcando 30 graus no Calçadão de Copacabana, não seria exagero dizer que o movimento era o mesmo de um dia típico de sol: quiosques lotados, hippies vendendo artesanato e esportes por toda a extensão da areia. As academias da terceira idade também estavam cheias.
Copacabana, 22h de sexta-feira: para fugir do sol escaldante durante o dia, muita gente prefere o banho noturno no mar, que ganha cada vez mais adeptos em toda a orla da Zona Sul, do Leme ao final do LeblonAlexandre Brum / Agência O Dia

“Adoro vir aqui em noites de calor, até porque, de dia, com a temperatura que tem feito, fica impossível. À noite a gente se refresca e recarrega as energias para o ano que está começando”, contou o compositor Toninho Geraes, autor de sucessos que estouraram com Zeca Pagodinho e Martinho da Vila.

O espaço na areia e na água não é tão concorrido como durante o dia. Mas nos bares e restaurantes, filas e mais filas. Vagas de estacionamento são um sonho perto do impossível, o que faz do metrô a melhor saída para o passeio à beira-mar.

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“Não dá mais para vir à praia de dia. Os ônibus não têm ar condicionado, o trânsito é caótico e o calor, infernal. De noite até a cerveja desce mais redonda”, conta a esteticista Renata Paronça, moradora do Andaraí.
Quem tem comemorado o movimento noturno são os vendedores, que trabalham sob temperatura mais amena e faturam alto. Gabriel Serra, que vendia cachorro quente apenas até o pôr do sol, agora estica até meia-noite. “Já chego aqui no fim da tarde. Me canso menos e os produtos, como maionese, por exemplo, não correm tanto risco de estragar. E vendo a mesma quantidade. Ou até mais, dependendo do dia”, conta Gabriel, que cobra R$ 5 pelo cachorro-quente, R$ 4 pela latinha de refrigerante e R$ 5 pela cerveja.
A feirinha de Copacabana fica completamente lotada até meia-noiteAlexandre Brum / Agência O Dia

Os arrastões do fim do ano serviram para reforçar o policiamento não apenas durante o dia. A presença de PMs à noite também é ostensiva. “Antigamente o problema era deixar a bolsa ou o chinelo na areia. Agora nem precisa pedir para ninguém tomar conta”, compara a estudante Gabriela Neves, moradora de Ipanema.

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Quase um shopping a céu aberto
Pense no movimento no Mercado Popular da Uruguaiana às vésperas do Natal. Pensou? Pois não fica a dever em nada à multidão que se espreme atrás das promoções da Feira Noturna Turística de Copacabana, na altura do Posto 5, em frente à antiga Boate Help e onde está sendo construído o novo Museu da Imagem e do Som.
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“A diferença entre a nossa feirinha e o Rio Sul, por exemplo, ou qualquer outro shopping da cidade, é que a gente não tem como calcular a quantidade de pessoas que por aqui circulam. Mas basta parar aqui por meia hora que você vê que é maior do que em qualquer outro lugar”, compara Cleusa Maria, da associação dos feirantes. Todos são regulamentados pela prefeitura, como ela faz questão de ressaltar.
“O Rio é maravilhoso, mas está tudo muito caro. Fica difícil a gente entrar num shopping e levar uma lembrancinha para os parentes que não puderam vir. Não conhecia essa feirinha, que caiu do céu. Vou poder agradar a todo mundo lá em casa quando voltar da viagem”, conta a cearense Maria Aguiar, que veio ao Rio pela primeira vez.
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Lixo e falta de fiscalização são o ponto fraco da noite
O banho de mar noturno não é, como se diz na gíria do funk, só lazer. A coleta de lixo por toda a orla deixa a desejar, bem como a fiscalização, atuante durante o dia, mas ausente à noite.
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As lixeiras estavam todas entupidas, a quantidade de lixo nas calçadas também era grande e até nas pedras do Arpoador havia sujeira por todo lado. Um caminhão da Comlurb tentou chegar ao local, mas não conseguiu por causa dos carros parados em locais irregulares.
“À noite ainda falta estrutura para vir à praia. E o lixo é o maior problema. Mas não só da prefeitura, e também de quem deixa tudo sujo”, reclamou a bancária Patrícia Silva.