Por tamyres.matos
Rio - Sob altas temperaturas, o drama. O calor típico da estação mais quente do ano é ‘triplicado’ por um problema que afeta moradores do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana: a falta d’água. Das zonas Oeste e Norte cariocas a cidades como São Gonçalo, os relatos se assemelham. Para driblar a ‘seca’, a população chega a percorrer quilômetros atrás de água, compra carros-pipa e, em alguns casos, conta com a solidariedade de vizinhos que doam caixas cheias.
Para a Cedae, que nega a falta d’água generalizada, o consumo aumenta 30% neste período, acarretando “problemas pontuais”. A companhia afirma que, em algumas regiões, a demanda cresce 200% devido a ligações clandestinas, ou até por ser região turística.
Peregrinação em busca de água%3A em Cordovil%2C o motorista Carlos Cardoso faz várias viagens para encher a caixa de 400 litros e alguns barris no galpão de um amigoEstefan Radovicz / Agência O Dia

Na Praça Treze de Junho, em Cordovil, Zona Norte, o abastecimento escasso já é histórico. Com as contas em dia, mas sem o serviço, alguns moradores chegam a peregrinar em busca de água.É o caso do motorista Carlos Cardoso, 47 anos. Em um dia, ele faz diversas viagens de quilômetros com sua Kombi para encher a caixa d’água de 400 litros, além de barris. “Dizem que é problema de tubulação. Encho a caixa e os barris no galpão de um amigo. Vou e volto várias vezes. Por que pagar carro-pipa se já pago conta?”, queixou-se.

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Moradores da Vila Ati, no Tanque, foram para a rua ontem com seus baldes vazios, protestar. A aposentada Aurea Siqueira,65, já fez 12 solicitações de reparos na tubulação. “A Cedae trocou canos de 50 anos, mas nada mudou. Estou processando”, disse. Na Rua Tirol, no Pechincha, o mesmo: “Há dias em que somos surpreendidos sem água”, ressaltou a designer Camila Dias, 31.
Para cuidar da mãe, Lucinda Silva, 80, Nanci Aguiar, 62, recebe ajuda de parentes. “Eles trazem galões de água. Tudo dela tem que ser esterilizado. É uma dificuldade”, explicou ela, que mora em Cordovil.
No Cachambi%2C Marluci e a vizinha Rosangela estão sem água desde o Natal. Em Cordovil%2C Lucinda tem ajuda de parentes para cuidar da mãeJoão Laet / Agência O Dia

Consumidor lesado pode cobrar danos

A Cedae informou que desde 2007 está substituindo 200 quilômetros de rede por ano. Na Zona Oeste, afirma investir R$ 200 milhões em obras. Já em São Gonçalo, inaugurou os reservatórios Colubandê e Marques Maneta, melhorando o abastecimento em 45%. Com o fim da obra de duplicação da nova adutora, em julho, o aumento será de 60%.

O advogado Fernando Bentes orienta consumidores lesados a juntar testemunhas e provas, como fotos e vídeos, para pedir ressarcimento e danos morais. “Primeiro, busca-se solução administrativa na ouvidoria da Cedae. Se não se resolver, junte o protocolo, as contas pagas e as provas e procure o juizado especial mais próximo”, recomenda.

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Em Caxias, morador usa água de chuva
No site de queixas ‘Reclame Aqui’, regiões como zonas Oeste (Jacarepaguá, Recreio, Cosmos, Santa Cruz e Campo Grande) e Norte (Cachambi e Penha), além da Baixada Fluminense e São Gonçalo, lideram os últimos registros contra a Cedae.
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Moradores de Neves, São Gonçalo, fazem racionamento de água. “O problema já tem seis meses e agora piorou. A Cedae fez obra, abriu um poço para trocar tubulação e não resolveu. Sofremos muito”, queixa-se a manicure Carmelita Silva, 56.
Em Duque de Caxias, muitos usam a água da chuva: “A água só chega uma vez na semana. Alguns pararam de pagar. Nos viramos. É banho 'de gato', de chuva ou nenhum”, disse o morador da Rua da Agricultura, Silvan Rodrigues, 44.
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No Cachambi, Zona Norte, moradores de um condomínio na Rua Miguel Ângelo, se unem. “Compramos bomba e não adianta. No dia 1º, ficamos sem água. Tivemos que ir para as casas de parentes”, disse a aposentada Marluce Magalhães, 65. “Tenho que ir na casa de vizinhos dar banho na minha neta de seis meses”, reclamaRosangela Machado, 54.