Rio - O cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, ferido na cabeça por uma bomba durante um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio, teve morte cerebral confirmada no início da tarde desta segunda-feira pela Secretaria Municipal de Saúde.
Na última quinta-feira, ele foi levado para o Hospital Souza Aguiar e submetido a uma cirurgia de quatro horas, que terminou no fim da noite. Segundo os médicos, Santiago sofreu afundamento de crânio. Dois drenos foram colocados na cabeça do profissional da Bandeirantes para diminuir a pressão craniana.
Em nota, a secretaria informou a morte encefálica do paciente, diagnosticada nesta segunda-feira pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele está internado, no Centro de Terapia Intensiva.
A pedido da família, a secretaria tornou público o agradecimento a todos os que torceram pelo restabelecimento do cinegrafista e que, num ato de solidariedade, atenderam ao chamado para doar sangue ao Hemorio.
O clima na porta do hospital é de comoção entre os profissionais da imprensa e parentes de Santiago. Ele trabalhava há 20 anos como cinegrafista, sendo 10 anos dedicados à Rede Bandeirantes. Em 2010 e 2011, o profissional ganhou o prêmio sobre mobilidade urbana. O cinegrafista estava casado há 30 anos e deixou uma filha, que também é jornalista, e três enteados.
Mulher de Santiago faz um desabafo horas antes de saber da morte do marido
Horas antes de saber da morte do marido, Arlita Andrade, mulher de Santiago Andrade, fez um desabafo. "Meu marido está indo embora, eles destruíram uma familia". Ela condenou as ações violentas das últimas manifestações no Rio.
"Espero que estes rapazes que fazem isso pensem na mãe, na família, que a familia é tão importante. Meu marido está indo embora, pode ser outros, pode ter outra familia que pode ser destruída com isso, que façam coisa pacífica, porque só sendo pacífica a gente consegue as coisas. Não adianta esta violência, não leva a nada. Meu marido está indo embora e não há preço pra isso”, destacou.
A esposa do cinegrafista disse ter visto a entrevista de Fábio Raposo, preso neste domingo acusado de passar o artefato para uma outra pessoa, mas ressaltou a "falta de amor e violência".
“Eu vi ele pedindo desculpa, mas eu acho que o que falta neles é o amor, o amor pelas pessoas. Ele disse que foi sem intenção, que seja, mas meu marido estava trabalhando. Não tem amor dentro deles. Meu marido está indo embora, eles destruíram uma familia. Uma família que era unida, muito unida mesmo", disse Arlita.
Advogado diz que homem que acionou rojão está identificado
O advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende o tatuador Fábio Raposo, disse nesta segunda-feira que já tem a identificação do suspeito de acionar o rojão que feriu o cinegrafista da TV Bandeirantes. O defensor disse que o nome será entregue ao delegado Maurício Luciano de Almeida, titular da 17ª DP (São Cristóvão).
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que o tatuador foi transferido, nesta manhã, para o Presídio Bandeira Estampa, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Fábio, que foi indiciado por tentativa de homicídios e explosão, busca se beneficiar da delação premiada.
"Em um determinado momento em que eu fiquei sozinho com o Fábio na delegacia, ele pediu que eu procurasse uma determinada pessoa e que esta pessoa ia me passar a identificação do rapaz. Eu já tenho essa identificação, mas eu vou passar para a autoridade policial. Eu já tenho o nome do rapaz, eu já tenho a qualificação dele e logo logo vai estar nas mãos da autoridade policial para o cumprimento da delação premiada”, afirmou o advogado em entrevista à Rádio CBN .
Ainda de acordo com o advogado, Fábio não conhece o suspeito. "Ele e o Fábio se conhecem apenas de manifestações. Eles não pertencem a nenhum grupo e eles não foram com nenhuma finalidade. Não levaram nenhum rojão. O que o Fábio declara é que o rojão foi achado, e como eles se encontraram, o rapaz pediu que passasse o rojão. Aquilo tudo é verdadeiro. Foi apenas uma inconsequência, um ato de irresponsabilidade e de negligência de acender o pavio no meio daquela confusão toda", destacou.
Um vídeo divulgado pela britânica BBC flagra o momento em que um cinegrafista da Band foi ferido por uma bomba. O repórter Wyre Davies e o cinegrafista Chuck Tayman, ambos da TV inglesa, socorreram Santiago.
O esquadrão anti-bombas realizou, no início da tarde de sexta, perícia no local onde o cinegrafista foi atingido. A equipe recolheu fragmentos encontrados nas proximidades da Central do Brasil, que foram submetidos à análise para averiguar se o material era compatível com alguma espécie de bomba. Segundo resultado da perícia, o artefato não foi lançado pela polícia.
Região da Central vira praça de guerra
A manifestação contra o aumento da passagem de ônibus contou com cerca de mil pessoas e terminou em confronto entre ativistas e policiais militares do Batalhão de Choque (BPChq). A confusão começou após um grupo quebrar catracas na estação Central do Brasil da SuperVia. A PM atirou uma bomba de gás dentro do local, assustando usuários do transporte e provocando correria generalizada.
Muitas pessoas foram socorridas por quem passava no local na hora da confusão. Pelo menos 10 catracas foram danificadas e, por mais de duas horas, milhares de pessoas não pagaram passagem.
Centenas de pedestres ficaram assustados, correndo para o Terminal Rodoviário Américo Fontenelle. Idosos se abrigaram na 4ª DP (Praça da República) e muitos ficaram em pânico com a confusão. Parte do grupo se deslocou em direção ao Túnel da Saúde, em direção à Zona Portuária.
O corre-corre continuou do lado de fora, com uso de mais bombas e spray de pimenta pelos policiais. Segundo a SuperVia, as estações Central e Praça da Bandeira fecharam parcialmente, enquanto o Metrô Rio anunciou o fechamento dos acessos Campo de Santana, Ministério do Exército, Alfândega e os acessos Praça e Theatro Municipal, na Cinelândia.
A Avenida Marechal Floriano, na altura da Central do Brasil, bem como a Rua Bento Ribeiro, foram fechadas. Houve lentidão no tráfego nas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, que também foram parcialmente interditadas. Por volta das 20h15, houve nova confusão na estação da Central do Brasil, quando manifestantes tentaram arrombar um dos portões e foram dispersados pelos PMs.
Um grupo virou uma das cabines de fiscais de ônibus e ateou fogo, sendo dispersado em seguida. Ruas do entorno foram interditadas e reabertas constantemente.