Rio - O manifestante Fábio Raposo Barbosa, 22, indiciado como coautor da explosão do rojão que feriu gravemente o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade em manifestação no Centro quinta-feira, foi preso no início da manhã deste domingo na casa da mãe e do padrasto, no Recreio dos Bandeirantes. Ele teve a prisão temporária decretada pela Justiça por 30 dias. Depois de muita negociação, Fábio aceitou colaborar com a polícia para identificar o outro suspeito de ter acionado o artefato.
De manhã, no apartamento do jovem, no Méier, foram apreendidos um computador, quatro celulares e roupa semelhante à que ele usa usava no dia do crime. O cinegrafista da Band continua internado, em coma, no Hospital Souza Aguiar.
Fábio, que já tinha se apresentado à polícia na madrugada de sábado, reafirmou na 17ª DP (São Cristóvão) ter passado o rojão para outro homem, que teria acendido o artefato, mas disse que não o conhece. Ele contou, porém, que já tinha visto o acusado em outros protestos e que vai cooperar para que a polícia faça retrato falado do foragido.
“Ajudando a polícia, agora vamos tentar reduzir a prisão dele de 30 para cinco dias e, posteriormente, a pena que vai cumprir”, afirmou o advogado do jovem, Jonas Tadeu Nunes. O delegado Maurício Luciano, porém, voltou a dizer que a polícia não tem dúvida de que o tatuador conhece o segundo suspeito. Imagens mostram que eles estavam juntos no protesto no momento da explosão.
Fábio, que já tinha registro por ameaça, dano ao patrimônio e associação criminosa, nos protestos de 2013, responde por homicídio qualificado por uso de explosivos e crime de explosão, que podem render 35 anos de prisão. Ele foi transferido para casa de custódia em São Gonçalo.
Segundo o delegado, na hora da prisão Raposo estava tranquilo, ao contrário da mãe, que permaneceu o tempo todo calada e de cabeça baixa. “Ele parecia que estava conformado e que já esperava pela prisão”, disse Luciano.
Enquanto Fábio prestava depoimento, alguns jovens que participam das manifestações entraram em conflito com jornalistas, pois ficaram irritados por terem sido filmados. Um cinegrafista os chamou de covardes. Como resposta, um ativista disse: “O próximo será você!” Na confusão, o cinegrafista golpeou ele com a câmera. Ambos, porém, resolveram não registrar o caso.
Pena pode até passar dos 35 anos
A polícia fez fotos ontem, na área de lazer do prédio onde Fábio Raposo mora, no Méier, de duas pichações, uma com a inscrição ‘Black bloc’ e outra com xingamento em inglês contra a polícia. Informalmente, conforme o delegado Maurício Luciano, um vizinho, que deverá ser convocado para depor, denunciou que Fábio, descrito como morador reservado e de poucos amigos, é quem teria feito a pichação.
“Além de possivelmente pedirmos a quebra de sigilo telefônico de Fábio, se for comprovado que ele tinha ligação com grupo violento que promove vandalismo e crimes em manifestações, será indiciado também por organização criminosa (associação de quatro ou mais pessoas que se juntam para cometer delitos), podendo somar entre três e oito anos de detenção, além dos 35 já previstos anteriormente, caso seja condenado”, afirmou Maurício Luciano.
Réu diz poder identificar o outro suspeito
Segundo o advogado Jonas Tadeu Nunes, Fábio Raposo deu todas as informações que tinha sobre o outro suspeito de acender o rojão que atingiu o cinegrafista Santiago Andrade. “Na minha opinião, não precisa de retrato falado, pois ele deu detalhes”, afirmou Nunes, sem, porém, falar que informações foram dadas pelo jovem.
O delegado Maurício Luciano de Almeida explicou que o rapaz “aparentemente está disposto a colaborar”, mas que só a Justiça pode autorizar a delação premiada, diante das informações passadas pelo suspeito. “Ele disse que consegue identificar o outro por fotos”, disse.
Antes, porém, o advogado tentará mudar a forma como a Polícia Civil tipifica a acusação contra Fábio Raposo (tentativa de homicídio). Para Nunes, o manifestante deve responder por lesão corporal de natureza culposa. “Só não avançamos mais porque não chegamos a um acordo.”