Por thiago.antunes

Rio - Com a piora do trânsito desde que foram iniciadas as reformas no Centro, com fechamento de importantes vias no ano passado, mais cariocas têm recorrido aos serviços de mototáxis, que não são regulamentados pela prefeitura, mas estão cruzando toda a cidade. O número total de pontos subiu de 300, no fim de 2013, para 347, atualmente, de acordo com Aluízio Brás, presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio (Amo - RJ).

“Esses novos pontos ficam em comunidades e alguns no Centro. A motocicleta é bem mais ágil, mas falta atenção do Estado à categoria”, indica Brás. De acordo com ele, está marcado para hoje um encontro entre ele e o prefeito Eduardo Paes para discutir a proibição das motos também na Avenida Rio Branco. A assessoria do prefeito, no entanto, não confirmou.

Mototaxistas da R. Pereira da Silva%2C em Larajeiras%2C têm tabela de preços para todas as regiões da cidade. Uma corrida para Campo Grande ou Santa Cruz%2C pode custar R%24 120Fernando Souza / Agência O Dia

Quem chega ao ponto da Rua Pereira da Silva, em Laranjeiras, não precisa limitar a corrida às redondezas. Numa tabela fixada no local, lê-se que por R$ 120, a moto leva o cliente até Santa Cruz ou Campo Grande. 

As mudanças no trânsito levaram a moradora da Rocinha Juma Fortunato, a recorrer à mototaxista Márcia Nunes para não chegar atrasada ao trabalho no Centro. A viagem que levaria mais de uma hora é feita na metade do tempo e custa R$ 30, mas como Juma utiliza o transporte de segunda a sexta, ela paga R$ 25.

Para fugir do engarrafamento%2C Juma Fortunato pagou R%24 25 para ir da Rocinha ao Centro do RioMarco Antônio Cavalcanti / Agência O Dia

“Aumentou muito a procura. Tem muita gente nos dando preferência por causa do transtorno no trânsito”, festeja Márcia, que sonha com a permissão municipal para atuar fora da Rocinha. “Infelizmente nosso serviço não é regulamentado. Precisamos de atenção e mais respeito pelo nosso trabalho. O ideal seria uma via expressa só para os motos. Porque corredor é suicídio.”

Alguns celebram o nó no trânsito da Centro. Sob o viaduto do Gasômetro, na avenida Francisco Bicalho, um grupo de mototaxistas comemora o aumento de 50% da demanda desde o fechamento da Perimetral. “Vem gente da Baixada, que fica quatro horas no ônibus, vê nossas motos e desce, atrasada para o trabalho”, lembra o motociclista Fábio Melo, que completa: “Todo dia tem um passageiro que usa o serviço pela primeira vez”.

Não é o caso de Washington Luís, usuário desde o fim do ano passado. “Peço para eles me levarem daqui até a Central. Chego lá em quatro minutos, já que levo mais de duas horas até Belfort Roxo num ônibus”, finaliza, antes de colocar o capacete e ir embora na garupa.

Taxistas se queixam das mudanças

As mudanças no trânsito atingiram também taxistas, que se queixam que está impraticável trabalhar no Centro. “Muita gente está optando por andar a pé”, diz o motorista de táxi Cláudio Lobato. Ele, que trabalha na praça há 30 anos, está preocupado e diz que a situação lembra crises como no início do Plano Cruzado, em 1986.

Cláudio Lobato sugere que as lotadas em táxis sejam autorizadas para amenizar os problemasFernando Souza / Agência O Dia

Na época, com limite de circulação de moeda no país, as viagens de táxi ficaram entre as primeiras cortadas do orçamento familiar, conta Lobato. Ele sugere que a prefeitura regulamente a lotada: “É uma forma de reduzir o número de carros na rua. Ao invés de um veículo andar só com o motorista, quatro pessoas dividem o mesmo”, comenta. Segundo ele, cada pessoa pagaria R$ 11 na viagem de Bangu ao Centro, distante 43 quilômetros. “Seria bom para o passageiro e para o taxista”, diz.

Acidentes matam mais de 50 mil motociclistas por ano

Nos últimos cinco anos, os brasileiros compraram mais de 9 milhões de motos, impulsionados pela facilidade no crédito e pela má qualidade do transporte público. O aumento na frota elevou o risco diário dos motociclistas no trânsito. De acordo com seguradora Líder, que administra o seguro obrigatório DPVAT, no ano passado, 633 mil motociclistas se envolveram em acidentes de trânsito em todo o país. Desse total, 54,7 mil pessoas morreram.

O que chama a atenção no levantamento é que apesar de representar apenas 27% de toda a frota nacional, acidentes envolvendo este tipo de veículo responderam por 71% das indenizações do DPVAT.

Washington Luís usa o serviço da Francisco Bicalho até a CentralFernando Souza / Agência O Dia

Em 2013, 444 mil receberam indenizações por invalidez permanente, um número 26% maior que em 2012. Ao todo, foram liberados R$ 3,2 bilhões, o que representa um crescimento de 25% na comparação com 2012. Mais da metade dos valores foram pagos aos condutores, sendo 53% para motociclistas e 7% para motoristas de demais veículos. Do restante, 22% foi para pedestres e 18% para passageiros.

Os feridos ficam, em média, três vezes mais tempo internados nos hospitais públicos do que os outros pacientes. Além disso, pesquisa aponta que os homens foram maioria, totalizando 76% do todo. Os jovens, com idades entre 18 e 34 anos, são as maiores vítimas do trânsito. Essa faixa etária foi a responsável por 50,9% das indenizações.

Regulamentação federal não chega ao Rio

Cinco anos depois de sancionada a profissão de mototaxista no Brasil, os profissionais que atuam no Rio ainda sonham com o dia em que poderão levar passageiros pelas ruas da cidade e cobrar por isso, sem serem parados em uma blitz por estarem irregulares. A lei determina que, para exercer a atividade, o motociclista precisa ter no mínimo 21 anos, habilitação na categoria A (de motos) há pelo menos dois anos e um curso de especialização.

O serviço de transporte complementar não é regulamentado pela prefeitura. A exceção são os mototaxistas que atuam em comunidades de áreas pacificadas, como a Rocinha. Para ser legalizado, eles precisam ser cadastrados nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), usar um colete de identificação e não possuir antecedentes criminais.

Segundo Alexandre Rojas, professor de engenharia de tranportes da Uerj, é notório o aumento da circulação de motos no Rio. “Ocorre por conta da perda de mobilidade. Mas não é só bom, nem só ruim”, disse, quando perguntado qual impacto isso teria no trânsito da cidade. Para ele, a questão deve ser avaliada de duas formas.

“Se o código de trânsito fosse respeitado, a moto ocuparia o lugar de um carro, e seria pior, pois leva no máximo duas pessoas. Mas, como o tráfego pode ser feito pelos corredores, na prática, há uma melhora na mobilidade”, acredita. Acidentes, entretanto, podem impactar severamente o trânsito. “Quando há uma ocorrência, precisa parar o trânsito, pois sempre há vítimas. O local não pode só ser desfeito, como nos acidentes de carro”, alerta o especialista.

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