Rio - Sem o disparo de um tiro e registro de confrontos na ocupação do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar para a instalação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na manhã desta quinta-feira, moradores da Vila Kennedy, em Bangu, na Zona Oeste, reacenderam a esperança de dias de paz na comunidade.
>>> GALERIA: Confira como foi a ocupação da Vila Kennedy
Até às 9 horas, dois homens com mandados de prisão expedidos pela Justiça foram presos e outro foi flagrado com uma moto roubada dentro de casa. Duas motos e um Renault Logan roubados também foram recuperados na Favela da Metral, também ocupada pela PM, segundo a Assessoria de Comunicação da corporação. Escolas da região não funcionaram. Alguns comerciantes, no entanto, abriram suas lojas.
Para um comerciante, de 33 anos, que depois de oito anos fora voltou a morar na Vila Kennedy, o quesito segurança era a única coisa que faltava para viver tranquilo com a mulher e a filha de quatro anos.
"O problema aqui é quando há guerra. Um lado vem e tenta invadir. O outro vem e tanta dar a resposta. Fora isso, sempre achei a Vila Kennedy um lugar muito bom de se morar, de comércio muito ativo. O lixo é recolhido, as ruas são asfaltadas e vans e kombis circulam em bom número aqui dentro", avaliou. Ele, porém, fez ressalvas ao atendimento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da comunidade, pela falta de serviço pediátrico.
A opinião do comerciante é compartilhada por um pedreiro de 58 anos, há meio século morando na comunidade. Ele espera que com a presença ostensiva da PM e a instalação da UPP paz e tranquilidade seja recuperada para moradores e visitantes.
"Tem que melhorar, trazer paz aos moradores. Criei meus filhos aqui e montei, inclusive, um comércio para um deles. Minha vida é aqui. A comunidade cresceu muito de 50 anos para cá", disse o pedreiro, reivindicando por esses motivos uma maior presença do poder público na comunidade. Ele defendeu o aumento no número de escolas e a limpeza e dragagem de um valão existente em uma das principais vias que cortam a Vila Kennedy.
A ocupação da Vila Kennedy e da Metral pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Batalhão de Choque (BPChoque), Batalhão de Ação Com Cães (BAC) e Grupamento de Ações com Cães (BAC), com apoio de dois helicópteros do Grupamento Aéreo Marítimo (GAM), levou cerca de 20 minutos. Não foram registrados confrontos nas duas comunidade.
Pela primeira vez o Bope utilizou em campo a Central de Comando Móvel. O caminhão com seis câmeras de alta resolução, com alcance de até 1,5 km, recebe imagens via satélite do helicóptero da PM para monitorar a movimentação das tropas em terra. A aeronave e os policiais repassam informações mutuamente sobre a movimentação de criminosos. Segundo a PM, ela será usada em futuras ocupações da corporação.
A Central e a base do Bope na Vila Kennedy estão instaladas no Campo do Vila. Uma retroescavadeira será usada para destruir barricadas montadas por traficantes que controlavam as bocas-de-fumo da comunidade.
'Não vamos admitir que policiais continuem morrendo', diz Beltrame
O secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame disse, na manhã desta quinta-feira, que não irá admitir que policiais continuem morrendo por conta de traficantes de facções criminosas. Após a ocupação da Vila Kennedy, o secretário disse que as repressões violentas contra civis e militares são um verdadeiro ato de terrorismo contra o estado.
"Nós entendemos que essas ações são um verdadeiro terrorismo contra o estado. Contra agentes públicos, contra civis e militares. Tudo isso para aterrorizar pessoas que estão tiranizadas por esse grupos criminosos", afirmou.
Beltrame acrescentou que nesta quinta-feira outras 22 operações, estão sendo realizadas nas comunidades em vários pontos da cidade. A ocupação da Vila Kennedy culminou na prisão do traficante Robinho da Vila Kennedy, responsável por assassinar um policial militar na última semana.
"As pessoas que moravam em comunidade não tinham segurança, agora têm. Nós estamos fazendo a segurança dessas pessoas. Se o projeto de inteligência da cúpula de segurança for cessado, será uma perda inevitável para a cidade. Nós fizemos um planejamento, feito há cinco anos atrás, para ocupartmos 40 áreas que oferecem risco à população", disse o secretário.
Por volta das 11h30 desta manhã, as bandeiras do Brasil e do estado do Rio foram hasteadas por policiais civis, militares e bombeiros durante cerimônia no campo Leão XIII, onde será instalada a próxima UPP do estado. O comandante da PM e o Secretario de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que estão no Centro Integrado de Comando e Controle, acompanharam o ato simbólico.
