Por paulo.gomes

Rio - Com um spray na mão, a grafiteira Panmela Castro, 32 anos, usa a arte para informar e transformar vidas. Em uma ação pioneira, a ativista que encontrou no grafite um instrumento contra a violência doméstica, leva o tema a escolas públicas, promovendo debates e incentivando a criatividade dos alunos. “Os elementos pintados por eles dialogam com o assunto que envolve a Lei Maria da Penha”, explica ela, famosa mundialmente entre artistas e conhecida como Anarkia Boladona.

Panmela%2C ao lado de um grafite de sua autoria%3A a dignidade da mulher é o tema central dos trabalhosAlexandre Vieira / Agência O Dia

Panmela promoveu ontem uma oficina para 60 crianças do Projeto Uerê, uma escola modelo, que tem uma proposta de inserção social, localizada na Maré.

E é só o começo. A artista fechou parceria com as secretarias municipal e estadual de Educação. Em dois meses serão 20 oficinas do projeto ‘Graffiti pelo Fim da Violência Doméstica’.

A meta, segundo ela, é dobrar o número de escolas até o fim do ano. “Já fizemos oficinas em seis escolas estaduais e temos o apoio da equipe especializada do município. Chegaremos a mais escolas”, comenta.

O tema da violência doméstica é debatido pela grafiteira antes das oficinas, com a ajuda de assistentes sociais e psicólogos, entre outros profissionais do município.

Depois do bate-papo, ela ensina sua arte para as crianças: “A mensagem chega de forma pedagógica. Muitos escrevem frases. Outros desenham. Cada um com sua arte”. <Segundo ela, é muito gratificante ver que os meninos também ficam sensibilizados com a questão.

Assim como outras mulheres que foram vítimas de agressão, Panmela tem sua própria história: “Casei, fui vítima de violência doméstica e entrei em depressão. Com o grafite, retomei minha vida e também me tornei feminista. Achei que com a credibilidade que tinha com minha arte, poderia lutar, evitando que outras se tornem vítimas”.

Ação já chegou a 4 mil pessoas

Mestre em Artes pela Uerj, Panmela Castro ensina o grafite para mais de 200 mulheres através da Rede Nami, um projeto de ação social criado por ela em 2010. Vítima de violência psicológica durante o casamento, ela só se deu conta do que passava quando o então marido a agrediu fisicamente. Foi quando se separou, em 2004: “Na época, não existia a Lei Maria da Penha, que é de 2006. E estes casos eram vistos como crime de menor potencial ofensivo. É importante divulgar a lei para todos desde cedo”.

Segundo Panmela, já foram realizadas oficinas em mais de 50 locais, envolvendo 4 mil pessoas. São cerca de 3 mil metros de grafite pelos muros do Rio.

O projeto ‘Graffiti pelo Fim da Violência Doméstica” conta conta com investimento de R$ 500 mil do Instituto Avon, que mantém iniciativas sobre o tema, como a ação ‘Fale Sem Medo — Não à Violência Doméstica’. Orçada em R$ 7 milhões, esta iniciativa existe desde 2008, com pesquisas, oficinas e fóruns com a temática.

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