Rio - Para retomar o Complexo da Maré, militares vão chegar pelo céu, terra e mar nas primeiras horas de domingo. Banhado em um trecho pela Baía de Guanabara, o conjunto de favelas será cercado por, além de blindados de fuzileiros navais, embarcações da Marinha e da Polícia Militar.
A estratégia é para evitar a fuga de criminosos pelas águas e que nenhuma área da Maré fique sem vigilância de militares. O número de lanchas da PM que serão utilizadas na primeira fase da ação, que vai marcar a ocupação do território pelas forças de segurança, será definido em reunião prevista para hoje no Quartel General da corporação.
As embarcações (uma da Marinha já foi confirmada) deverão se revezar no patrulhamento ao longo da ação de retomada, que deve durar ao menos uma semana. Após este período, dois mil militares do Exército ocuparão o território por tempo indeterminado. Outros 400 policiais do Batalhão de Campanha da PM darão apoio.
Do alto, o helicóptero blindado da PM, o caveirão aéreo, dará suporte ao transporte de tropas e identificação de suspeitos. As aeronaves modelo Esquilo também devem ser utilizadas, já que possuem câmeras capazes de enviar imagens do terreno em tempo real para o Centro de Comando e Controle de Operação do governo do estado.
Ontem, a polícia fez novas ações na região. A Vila Olímpica e oito escolas fecharam, deixando três mil alunos sem aula. O 22º BPM (Maré) apreendeu 50 kg de maconha e 20 kg de cocaína, além de armas e outras drogas. Moradores contaram que ouviram tiros pela manhã, mas a PM negou ter participado de qualquer confronto.
Tiros no Alemão e Rocinha
Tiroteios voltaram a assustar comunidades pacificadas entre a noite de segunda-feira e a madrugada de ontem. Na Rocinha, bandidos dispararam contra viatura da UPP, que ficou com duas marcas de tiros. Ninguém se feriu. Pouco antes, troca de tiros supostamente entre bandidos, deixou a parte alta da Rocinha sem luz na madrugada.
No Complexo do Alemão,morador de 22 anos foi baleado na nádega durante confronto entre PMs e criminosos na Rua Joaquim de Queiroz, às 4h30. Ele foi socorrido no Hospital Getúlio Vargas. Na ação, Handi Miller Jerônimo da Silva, de 22 anos, foi preso com radiotransmissor e drogas, informou a polícia.
Sobre o combate ao tráfico em áreas pacificadas, a Secretaria de Segurança prometeu avançar cada vez mais para mostrar que o Estado é mais forte. “A PM continuará ocupando os morros do Chapadão e Juramento. As UPPs do Alemão e da Penha continuam com o reforço de 300 homens. O Bope permanecerá no Alemão por tempo indeterminado”, diz a nota.
Sofrimento antes da morte
Com muita crueldade, quem ousa trair a confiança ou cruzar o caminho de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, chefe das favelas do Complexo da Maré dominadas pelo Terceiro Comando Puro, costuma ser fuzilado, esquartejado, queimado e jogado na Baía. Entre as vítimas estão aliados ou moradores que, na opinião do bandido, são suspeitos de passar informações à polícia.
Nem mesmo idosos ou grávidas são poupados desse bando, que tem mais de 200 fuzis. Em 2013, ‘R10’, um braço direito de Menor P, e a mulher dele foram sentenciados à ‘pena de morte’. O traficante por pouco não usou essas técnicas contra Bernardo, jogador do Vasco, que teria se relacionado com uma namorada do traficante.
Para a polícia, graças a desavenças com chefes do pó em Acari, Dendê e Coreia, todos do TCP, Menor P perdeu força e pontos de fuga. A Serrinha, em Madureira, e o Morro do Estado, em Niterói, onde na madrugada de ontem houve confronto com bandidos do Comando Vermelho oriundos do Parque União, são seus possíveis destinos.
Na outra parte crítica da Maré estão Rodrigo da Silva Caetano, o Motoboy, chefe da Nova Holanda, e Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, do Parque União, que contam com pelo menos 150 fuzis e dezenas de granadas. Do Comando Vermelho, eles esquartejaram, em 2012, Raphael Rodrigues da Paixão, o DJ Chorão, suspeito de traição. Comunidades de São Gonçalo, Cordovil e Vicente Carvalho podem servir de apoio para fugas deles.