Por camila.borges

Rio - Após os enterros das três crianças atropeladas pelo ônibus da linha 854A (Campo Grande-Ilha de Guaratiba), moradores de Guaratiba realizaram protesto e fecharam ontem, à noite, os dois sentidos da Estrada do Mato Alto, onde ocorreu o acidente na segunda-feira. A via, conhecida como Estrada da Morte, registrou 42 acidentes de trânsito desde o começo do ano, segundo o Corpo de Bombeiros.

Os moradores pedem melhor sinalização e controle de velocidade no local. O radar instalado, desde fevereiro, a cerca de 400 metros do local da tragédia, limitaria a velocidade máxima em 50 quilômetros por hora, mas até hoje não funciona. “Se multasse, provavelmente não teríamos tantos acidentes”, disse Onésio Santana, de 70 anos, morador da região. De acordo com a CET-Rio, a lombada eletrônica já está energizada, mas ainda não funciona por falta de aferimento.

Parentes e amigos batem palmas durante enterro de Érica Macedo no Cemiterio de Ilha de Guaratiba. Ela foi uma das três estudantes mortas atropeladas na volta da escolaAlessandro Costa / Agência O Dia

Do total de 42 salvamentos feitos pelo Samu em 2014, 22 foram por colisão (com duas vítimas fatais), sete por capotagem, nove por queda de motocicletas e seis por atropelamento (com três vítimas fatais). “Falta sinalização na pista. O sinal fica em uma curva. É absurdo”, desabafou Júlia Santos, 31, que teve o primo morto por um carro no mesmo local, em julho do ano passado.

Emocionada, Aline Macedo, mãe de Érica Macedo, de 8 anos, que a acompanhava no momento do atropelamento, se negou a ver o fechamento da lápide da filha no Cemitério de Guaratiba. “Me tiraram tudo. Por que ela e não eu?”, repetia. Melyssa Farias, de 11 anos, e Mariana Ferreira Augusto, de 10, foram enterradas no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência.

Próximo ao local do acidente tem um radar que nunca funcionouAlessandro Costa / Agência O Dia

Em luto pelas mortes, professores do Colégio Professora Luiza Maria, onde as vítimas cursaram parte do primário, organizaram uma passeata com crianças na frente da escola. “Estamos educando elas sobre o respeito no trânsito e o respeito à vida alheia”, disse a diretora Cátia Goulart, 45.

No Colégio Municipal Jônatas Serrano, para onde as crianças estavam indo estudar, o diretor Pedro Silva disse estar impedido de falar com a imprensa pela Secretaria Municipal de Educação. Colegas de classe das vítimas, por sua vez, levaram fotos e realizaram salvas de palmas nos cemitérios, quando os corpos foram sepultados.

Outra vítima do acidente, Marcos Vinícius Farias, de 5 anos, recebeu alta, na tarde de ontem, do Hospital Rocha Faria. Na mesma unidade, Teresa Nunes Crispi, 55, permanece internada com quadro clínico estável. Stefany Macedo permanece internada no Hospital Adão Pereira Nunes em estado grave, porém estável.


Motorista pagou fiança e foi solto

Na mesma hora em que as crianças eram enterradas, à tarde, Dimas Vitalino do Carmo, motorista do veículo, era solto após pagar fiança de um salário mínimo (R$ 724). Ele disse em depoimento ter sofrido “mal súbito e não se lembrar do momento em que perdeu o controle do veículo, apesar de dirigir a 60 Km/h”. Dimas, que fugiu sem prestar socorro às vítimas e foi preso enquanto buscava atendimento médico, responderá em liberdade por homicídio culposo e lesão corporal. Foram levados em consideração o fato de ele ter residência fixa e não possuir antecedentes criminais.

Aline Macedo, que acompanhava as crianças no caminho para a escola, será ouvida até o final da semana. O resultado da perícia que indicará se o motorista dirigia acima do limite sairá até sexta. O inquérito será finalizado em 30 dias. Em nota, a Viação Jabour informou que o ônibus estava com as vistorias do Detran e da Secretaria de Transportes em dia e se prontificou a colaborar com as investigações. Embora chame atenção por ter ocorrido poucas horas após o acidente, a soltura do motorista é respaldada pela Constituição, garante o advogado Marcelo Queiroz. “Uma série de requisitos é avaliada. Se a soltura dele representasse risco para a continuidade das investigações e o delegado julgasse perigoso vê-lo em liberdade, poderia solicitar a prisão.”

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