Por julia.sorella

Rio - A permanência do Exército no Complexo da Maré, que será ocupado hoje, pode ser por um tempo bem maior do que o previsto inicialmente. No pedido feito pelo governador Sergio Cabral ao Ministério da Defesa, foi estabelecido que o trabalho da tropa verde-oliva no conjunto de favelas vai, inicialmente, até 31 de julho. O efetivo que chega no dia 5 de abril vai substituir os 1.200 policiais militares que amanheceriam hoje nas 15 comunidades da região.

“Estabelecemos na nossa GLO (Garantia da Lei e da Ordem) uma solicitação de prazo (até 31 de julho, já negociado) que, se nós precisarmos avançar, o governo federal avisou que não terá problema. Nosso projeto é que, no segundo semestre, a transição seja feita para entrar as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora)”, afirmou o governador, ressaltando que a ocupação da Maré é um grande desafio devido ao tamanho da população na região, que tem cerca de 120 mil moradores.

“Será uma conquista muito significativa. O Complexo da Maré é uma cidade dentro da cidade, talvez 80% das cidades do estado não tenham 120 mil habitantes, e é uma cidade com regras próprias e dividida por facções”, admitiu Cabral.

Homens do 1º Batalhão de Engenharia de Combate e Escola do Exército percorreram pontos estratégicos levantados pelo Bope%2C na quarta-feira%2C no Complexo da Maré Severino Silva / Agência O Dia

O pedido para que os militares da Infantaria e Paraquedismo continuem na região tem uma explicação simples: a PM ainda não tem formado o efetivo que vai ficar no lugar do Exército quando forem instaladas as três UPPs previstas para a região. De acordo com a Secretaria de Segurança, são necessários 1.500 policiais para permanecer naquela área.

Hoje, durante a ocupação, apenas a Polícia Civil fará busca e apreensão na casa dos moradores das favelas Nova Holanda e Parque União, graças a um mandado coletivo expedido pelo juiz da 39ª Vara Criminal da capital, Ricardo Coronha Pinheiro. Policiais militares serão proibidos de entrar nas residências. Apenas delegados poderão revistar os imóveis. As buscas começarão às 9h e serão feitas por 20 delegados.

A decisão é válida apenas para as duas comunidades porque foi dada a partir de inquérito da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), que investiga o tráfico nessas comunidades. Ao todo, 120 policiais da Dcod e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) vão entrar nas duas favelas.

PM quer formar 1,6 mil soldados até a Copa do Mundo

Pelo cronograma da PM, a expectativa é formar 1.600 soldados até a Copa. Mas isso não significa que esse contingente será todo empregado na Maré. No meio do caminho, até a inauguração da 39ª UPP do estado, a Secretaria de Segurança ainda vai prestar conta da inauguração de seis Companhias Destacadas — cada uma com 60 homens — para reforçar o policiamento da Baixada, de Niterói e de São Gonçalo. Sem contar o reforço prometido aos batalhões com deficiência de efetivo.

Para a inauguração da UPP Vila Kennedy, ocupada há duas semanas, a turma já está formada e aguarda a ordem para começar o trabalho. A previsão de estreia seria dia 25, mas os ataques, na semana passada, a outras UPPs e a ocupação da Maré adiaram a data.</CW>

Ex-comandante da PM e responsável pela ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010, o coronel Mário Sérgio Duarte, atual secretário de Segurança de Duque de Caxias, vê um cenário completamente diferente de três anos e meio atrás.

“A diferença é enorme. Em 2010, o Alemão era um conglomerado, com os criminosos dentro dele, e havia a expectativa de um confronto sangrento e mortos tanto do lado dos bandidos quanto das forças de segurança. Hoje, a expectativa é de não ocorrer confronto”, comparou.

Para o oficial, os chefes do tráfico na Maré não estão mais na comunidade e não há interesse em confronto. “Eles sabem que vão perder porque não é uma política de confronto, mas de ocupação. Eles sabem que não têm como comprar essa briga, até porque os chefes saíram de lá”, garantiu.

O grande desafio da operação de hoje, na avaliação de Mário Sérgio, será manter um bom relacionamento com a comunidade. A sugestão é uma só: equilíbrio emocional. “Acho que as tropas estão preparadas”.

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