Rio - Muito se fala sobre a crise de representatividade dos partidos políticos e uma crescente negação às eleições, principalmente entre os jovens. No entanto, ainda existe gente engajada que crê no voto como ferramenta de mudança. O DIA conversou com a nova geração de eleitores fluminenses que participa de atividades de quatro partidos: PSol, PMDB, PC do B e DEM. Eles mantêm a esperança de que as urnas podem mudar a realidade.
Entre os engajados, há os que sentiram necessidade de fazer algo para mudar o próprio cotidiano, como é o caso de Gabriel Marciel, 20 anos. Numa quinta-feira de julho, ele chamou atenção da União da Juventude Socialista, reunida na sede do PC do B para o lançamento da candidatura a deputado estadual de Daniel Iliescu, quando pegou o microfone e fez um “beat-box”, sons com a boca que imitam a batida do hip-hop. “Nunca fui interessado na política. Mas, com vontade, vi que posso ajudar as pessoas”, contou o morador de Belfort Roxo, que usa a atividade partidária para levar atividades culturais para Baixada Fluminense.

Monique França, 24, era uma das mais animadas da juventude do PMDB durante o terceiro evento do partido domingo passado. “Estou na campanha porque acredito muito nesse governo”, disse, antes de ser ‘interrompida’ pela chegada de Cesar Maia ao palanque, convidado por Jorge Picciani. “Agora espera, vou ter que bandeirar”, exclamou.
Há ainda quem esteja ansioso para a primeira eleição, caso de Matheus Lopes, 17. Durante a criação do comitê de campanha de Tarcísio Motta, candidato do Psol ao governo, num playground em Laranjeiras. Convidado por outro amigo para o evento, Rafael Toledo, 18, ele mostrou-se indignado com a falta de participação dos amigos. “A política é uma forma de mudar as coisas. Nossos amigos ou não gostam, ou são mais conservadores.”
Políticos antigos como Cesar Maia, do DEM, ainda provocam fascínio nos jovens. Cerca de dez deles se reuniram sob sol forte numa quinta, na Penha, para fazer propaganda do candidato ao Senado. “O jovem não é só panfleteiro, ele entrega o papel e convence o eleitor”, resumiu Antônio Mariano, 23.
Clima de Maracanã na sede do PC do B
“Até a presidenta Dilma Rousseff ficou impressionada com a cantoria de vocês”, comentou a deputada federal comunista Jandira Feghali, após ser interrompida por gritos dos militantes da União da Juventude Socialista, a UJS, braço jovem do PC do B, numa quinta-feira de julho. Ela falava em apoio a Daniel Iliescu, ex-presidente da UNE e candidato a deputado estadual neste ano, diante de uma plateia repleta de estudantes de todas as partes do Rio. “Somos a maior juventude partidária do Brasil. Na América inteira, perdemos apenas para Cuba” contou um rapaz de tranças no cabelo. Do lado esquerdo do salão lotado, uma menina secundarista puxava gritos de guerra, como se estivesse num estádio de futebol. “UJS, presente, lutar até morrer, viva a revolução, viva o PC do B!”
No Psol, a moda é a poesia de Brecht
Durante a organização do “Comitê Laranjeiras” para fazer campanha para Tarcísio Motta, candidato ao governo do Psol, Lucas Coutinho, 18, levantou-se e foi a uma banquinha montada no playground, para comprar uma camisa com o verso 'Nada Deve Parecer Impossível de Mudar', do poeta alemão Bertold Brecht. A peça era a mais usada entre as 80 pessoas que participaram da reunião, numa quarta-feira à noite, que decidiu a agenda de panfletagens da semana. “Sou filiado há um ano e ainda não tinha essa camisa”, contou, exibindo com orgulho a peça aos amigos Rafael Toledo, 18, e Matheus Lopes, 17. “Não me filiei ao Psol ainda pois sou muito jovem. Quero conhecer mais a política”, disse Rafael pouco antes de superar a timidez, cruzar o salão e comprar a tal camisa.
Sem tempo para descanso no PMDB
Mateus Diniz, 18, demonstra cansaço enquanto segura uma bandeira da juventude do PMDB. Com a mão livre, está mexendo no celular, alheio ao burburinho que está a sua frente: na tarde do domingo passado, Jorge Picciani estava no palco montado na quadra do Clube dos Magnatas, no Rocha, começando a conclamar as cerca de 500 pessoas no local a saudarem o lançamento da candidatura de seus filhos, Rafael e Leonardo, a deputado estadual e federal, respectivamente. “Estou falando com minha namorada. Ela está reclamando. Hoje é domingo e eu estou aqui, fazendo política”, diz Mateus, que já tinha participado de uma atividade mais cedo em Santa Cruz. Morador do Jacarezinho e militante peemedebista há seis meses, foi na favela que conheceu a atividade partidária. “Desde então, passei a ler mais e prestar atenção aos problemas da comunidade.”
Professor troca folga para panfletar por Maia
A estratégia da juventude do DEM para estas eleições é mostrar que o partido não é somente voltado para zona sul do Rio. Na última quinta, eles estiveram na Rua dos Romeiros, em frente à estação de trem da Penha, para pedir votos para Cesar Maia, candidato ao Senado. “Veterano” da turma, o professor de história Paulo Carvalho, 25, trocou sua folga para ir panfletar e pedir votos para o democrata. Ficou surpreso quando um homem recebeu o papel e o rasgou em vários pedaços. “Isso foi um caso único. No geral, a recepção ao Cesar tem sido muito boa. Ele é um cara com muita história política”, elogiou. Paulo está na juventude democrata há 2 anos, a convite do próprio Cesar: em 2012, o então estudante de história contestou a aliança do DEM com o PR, de Garotinho, para as eleições municipais. “Mandei um email para ele, que me falou sobre a militância jovem do partido”.