Rio - A Copa do Mundo trouxe ao Rio de Janeiro 471 mil turistas estrangeiros, segundo a prefeitura. Mas com o fim da competição, nem todos voltaram para suas casas. Muitos deles continuam na cidade e tentam de alguma maneira se estabelecer no Brasil. Além disso, com a visibilidade que a cidade ganhou com o Mundial, vizinhos latino-americanos já veem o Rio como um novo ‘Eldorado’. Enquanto não conseguem o visto de trabalho ou qualquer outra atividade remunerada, a maioria que veio tentar a sorte se vira como pode. Muitos, sem ter onde dormir, passaram as noites nas areias das praias.
De acordo com o Consulado Geral da Argentina no Rio de Janeiro, atualmente, aproximadamente 15 mil argentinos vivem legalmente no estado. Porém, nos próximos meses esse número pode aumentar. Diversos “hermanos” invadiram a cidade para acompanhar a final da Copa. Alguns deles vieram sem ter condições de regressar, e o consulado repatriou cerca de cem pessoas. Outras já vieram com o intuito de ficar no Rio para tentar algum trabalho.
Diego Cuervas, de 18 anos, morador de Buenos Aires, chegou ao Rio no dia da final, e visitou o consulado para obter informações de como conseguir trabalho no Brasil. O jovem não tem emprego na Argentina e vive de bicos como pintor. Sem dinheiro, ele passou as noites no Sambódromo. Após o fechamento do local para os turistas, passou a dormir na Praia de Copacabana. Ele já visitou bares, hotéis e até obras para poder conseguir algum trabalho, mas ainda não teve sorte.
“Aceito fazer qualquer trabalho para poder ficar aqui por mais tempo. Na Argentina não tem emprego”, disse. Mas não são apenas os argentinos que querem se estabelecer no Rio. Na orla de Copa, diversos colombianos estão vivendo de sua arte ou comércio ambulante. Pelo calçadão, é fácil encontrar quem venda quadros, bijuterias ou faça castelos de areia. Os pintores Maurício Aguiar, 36 anos, e Miguel Beltran, 19, saíram de Bogotá e chegaram à cidade há duas semanas. A dupla está com visto de turista e pode ficar no Brasil por 90 dias.
Eles pretendem dar entrada no visto de trabalho e, caso não consigam, planejam ir para o Uruguai ou Argentina, para depois voltar ao Brasil e continuar a trabalhar mesmo informalmente. Os amigos colombianos vendem quadros que custam entre R$ 50 e R$ 300. Eles dormem na altura do Posto 3. Eles brincam que, enquanto alguns pagam milhões para morar de frente para a praia, eles moram dentro dela de graça. “O Brasil é muito bonito e parece haver oportunidades para todos”, acredita Aguiar.
Multa e punição penal para quem empregar turistas
Segundo o Ministério do Trabalho, para se empregar no Brasil é preciso que uma empresa brasileira solicite um visto de trabalho para o estrangeiro. Quem possui o visto de turista está proibido de exercer qualquer função remunerada no país. O empregador que for flagrado dando trabalho irregularmente para um estrangeiro pode ser multado e sofrer sanções penais. Já o estrangeiro, além de não gozar de direitos trabalhistas, pode ser deportado.
Sobre os turistas que estão dormindo nas praias, a prefeitura, por meio da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social, responsável por acolher pessoas que moram na rua, alegou que os estrangeiros que os procuram são encaminhados para seus consulados para serem repatriados. A Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) informou que não pode impedir que durmam em praias, mas é proibido montar acampamentos na areia. Segundo a Seop, na última semana 150 barracas usadas como moradia por estrangeiros foram apreendidas.
Maioria fica pela orla
Copacabana é o bairro que concentra a maior parte dos turistas que visitam o Rio, e consequentemente, os que ainda estão na cidade para tentar a vida. O supervisor de um quiosque no Posto 4, contou que diversos estrangeiros lhe pediram emprego.
Segundo Carlos Eduardo Braga, em um único dia seis pessoas o procuraram para se candidatarem a uma vaga de emprego. Apesar de alguns apenas procurarem trabalho temporário de dois ou três dias, para terem dinheiro para regressar a seus países, a maioria quer se mudar definitivamente para o Brasil.
“Alguns queriam dinheiro para voltar para casa. O que mais me surpreendeu é que quase todos já estavam legalizados para conseguir empregos formais aqui no Brasil. Falam que em seus países não conseguem trabalho”, contou.