Por thiago.antunes

Rio - Investigado por sete mortes e seis casos de lesões graves em pacientes, o ortopedista Fernando Cesar Lamy Nogueira da Silva foi denunciado ontem à Justiça por homicídio culposo. A denúncia, oferecida pela promotora pública Patrícia Glioche, se baseou no inquérito da 12ª DP (Copacabana) que investigou o caso de Marcelo Santos Costa, 37 anos, morto em 2012 enquanto passava por cirurgia na coluna lombar. O médico é cassado pelo Cremerj, mas continuava atendendo pacientes.

Se condenado, a pena para o médico será de um a três anos de prisão, acrescida de um terço por não ter observado as regras da profissão. O processo está a cargo da 38ª Vara Criminal. A delegada Juliana Tommy, da 26ª DP (Todos os Santos), empenhada nas investigações sobre as outras mortes e os casos de lesões graves pós-cirurgia, recebeu informações sobre mais um óbito — o que poderá elevar para oito o número de pessoas que morreram após se submeterem a cirurgias com o ortopedista.

Fernanda de Freitas Pimentel lamenta a morte da mãe%2C que ocorreu após ter se submetido a uma cirurgia com o médico cassado que mantinha consultório em Vila ValqueirePaulo Araújo / Agência O Dia

“A pessoa me telefonou e contou que o sogro também morreu depois de ser operado pelo ortopedista Fernando Cesar Lamy, em 2012. Estou aguardando a vinda dele na delegacia”, contou a Juliana Tommy. Ela deve concluir o inquérito até o fim da próxima semana e remetê-lo ao Ministério Público.

“Todos os envolvidos serão chamados para prestar depoimento o mais rápido possível, independentemente de os casos terem ocorrido na jurisdição dessa delegacia. O importante é fundamentar bem o inquérito", explica a delegada.

Fernando Cesar Lamy teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) em 5 de junho, mas continuava dando consultas e fazendo cirurgias normalmente. Passando-se por paciente, a delegada Patrícia Tommy prendeu o ortopedista em flagrante na terça-feira passada, num consultório de Vila Valqueire.

Clique na imagem para ampliarArte%3A O Dia

Investigadores estão analisando as agendas apreendidas no consultório, para tentar descobrir mais cirurgias realizadas por Lamy e contatar as pessoas. O objetivo é saber se existem outros casos de mortes ou lesões graves. A delegada também descobriu que Fernando Cesar Lamy responde a inquéritos na 77ª DP (Icaraí). Dois deles por atropelamento — num dos casos o médico teria feito uso de bebida alcoólica — e um por falsidade ideológica. Patrícia Tommy já está providenciando as cópias dos autos.

No processo que levou à cassação do seu registro profissional pelo Cremerj, Lamy apresentou declaração da Clínica Jorge Jaber atestando que ele estivera internado ali em setembro de 2013. O documento afirma que o ortopedista estava sob cuidados médicos e psicológicos (...) por transtornos mentais (...) e uso de múltiplas drogas e outras substâncias psicoativas”.

Duas mortes serão inseridas no inquérito

Os dois últimos casos de pessoas que morreram depois de cirurgia na coluna feita por Fernando Cesar Lamy, confirmados pela delegada da 26ª DP, serão inseridos no inquérito no início da próxima semana.
Familiares já marcaram data para prestar depoimento. O primeiro será da artista plástica Rosane Albuquerque, mãe da estilista Tatiana Langer, morta aos 29 anos.

Tatiana morreu aos 29 anos. Ela foi operada por Lamy e teve falência múltipla dos órgãosDivulgação

A jovem teve a coluna operada em 2008, na Casa de Saúde Santa Lúcia, no Humaitá, e morreu de falência múltipla de órgãos. O segundo será da jornalista Fernanda Pimentel, filha de Ana Márcia Pimentel, 49 anos, que morreu de infarto horas antes de se submeter à segunda cirurgia com Lamy (para reparação da primeira).

Hospital pediu abertura de sindicância para apurar óbito

O ortopedista Fernando Cesar Lamy Monteiro da Silva operava pacientes em várias clínicas e hospitais do Rio e Niterói. O analista de sistema Marcelo Santos Costa, cuja morte embasou a cassação do registro médico e a denúncia por homicídio culposo contra Lamy, foi submetido a duas cirurgias no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, no período de um mês.

Ontem, a assessoria da Rede D’Or explicou que seus hospitais permitem que médicos de fora realizem procedimentos cirúrgicos em seus espaços. Para isso, o profissional se credencia e marca a cirurgia para o seu paciente.

Médico Fernando Lamy (C) foi levado por policiais%2C prestou depoimento e vai responder em liberdadeJoão Laet / Agência O Dia

“O CRM do médico é checado cada vez que ele marca uma cirurgia. No caso do orpedista Fernando Cesar Lamy, o procedimento foi o mesmo quando ele operou Marcelo Santos Costa. Se o CRM está válido, não há porque negar o pedido”, afirmou a assessora Aline Toledo, salientando que não há “aluguel de espaço”.

A assessora fez questão de frisar que, no caso de Marcelo, o Copa D'Or solicitou à Comissão de Ética Médica do hospital (braço do CRM presente em todas as unidades hospitalares) a abertura de sindicância para apurar o ocorrido. “O resultado foi encaminhado ao Conselho de Medicina e auxiliou no esclarecimento dos fatos que levaram à morte o analista de sistemas”, disse Aline Toledo.

Você pode gostar