Por daniela.lima

Rio - Paquetá, oficialmente um bairro do Rio, voltou a cair no gosto dos cariocas descolados, que pegam a barca da Praça 15 (que aumentou o número de saídas) para conferir as atrações locais, sempre com um pé no binômio cultura-gastronomia e outro no sossego. De samba quinzenal a festa junina e julina até uma cerveja caseira, tudo apreciado em slow motion. Ou melhor, slow movement, uma tendência mundial difundida pelo jornalista escocês Jean Carl Honoré, autor de ‘Devagar — Como um Movimento Mundial Está Desafiando a Cultura da Velocidade’.

‘Relógio da Mesbla’ marca o ritmo lento da ilha. Muita gente na faixa dos 30 anos fugiu da correria da cidade grande para viver no bairro Estefan Radovicz / Agência O Dia


O local foi escolhido também como cenário para o filme do diretor-ator americano John Turturro, que compõem o longa ‘Rio, Eu te Amo’, que estreia dia 11 de setembro. Foi o próprio diretor quem escolheu a locação, depois que a produção lhe indicou alguns lugares para o episódio ‘Quando não há mais amor’, que trata do fim de um relacionamento de um casal gringo (Turturro e Vanessa Paradis).

A população, que cresceu com cariocas na casa dos 30 anos loucos pela calmaria insular e por uma vida mais simples, vem organizando eventos e projetos sociais, que atrai turistas que chegam ali em barcas que cruzam a Baía, em intervalos de 1h30, nos dias úteis.

A estudante de geografia Natasha Souza, de 22 anos, frequenta Paquetá desde a infância e decidiu que sua monografia seria sobre a história da ilha. Segundo ela, Paquetá recebeu uma leva de migrantes nordestinos na década de 70, que deu origem às três únicas favelas dali. “Mas as comunidades não se assemelham às do continente, não há tráfico nem violência”, diz a estudante da Uerj, que indica o bar em frente à Praia dos Pedalinhos, onde “sempre tem forró e fica cheio de gente, é bem legal, combina com o clima da ilha”, disse. Outra boa opção é o samba do Iate Clube, que aconte no segundo domingo do mês, diz. No bar do Zaru, na Rua Dr Lacerda, acontece às sextas o Cineclube de Paquetá. Já na Praça Bom Jesus, a tradicional Domingueira do Doutor lota o Bar do Carecão.

Boêmia combina com cerveja. Foi o que pensou um grupo de seis amigos cariocas que criaram sua própria marca num fim de semana em Paquetá. A barca e a Baía acabaram no rótulo da Paquetá, cerveja vendida apenas a amigos. A bebida tipo Golden Ale foi criada por eles há cinco anos. “A ideia surgiu na casa de um dos sócios, que mora na ilha há seis anos”, conta Abel Santos, 35, fotógrafo. Ele mesmo se mudou este ano em busca do o tal slow movement. “O Rio se tornou um lugar hostil, aqui não há carros e posso fazer as coisas com mais calma”.

CROWDFUNDING

Orquestra forma jovens e vai à Europa com ajuda de vizinhos

Todo mundo se conhece em Paquetá, e José Lavrador, 58, é um dos personagens mais ilustres da ilha. Engenheiro, ele chegou a morar oito anos em Londres antes de largar a profissão para se dedicar à música. Em 2000, criou a Casa de Artes Paquetá, centro cultural que oferece aulas de musicalização para cerca de cem crianças de escolas municipais do bairro. “Além de oferecer uma oportunidade de profissionalização, por trás disso há um sentido de valorizar a identificação deles com o lugar onde vivem”, disse. O corpo de 16 professores aborda <MC0>a história da ilha em apresentações de teatro.

Composta por alunos que se destacam entre os inscritos, a orquestra Bem Me Quer, com jovens de 8 a 22 anos, ensaia clássicos da música e arranjos sinfônicos para canções populares. Ano passado, receberam um convite do governo alemão para uma turnê. Foram cinco apresentações em janeiro, que renderam elogios da imprensa local e foram sucesso de público. “É algo que eles nunca vão esquecer. Recebemos ajuda de toda a comunidade para angariar recursos e conseguimos resgatar o orgulho das pessoas que vivem aqui ao realizar essa viagem”, afirmou Lavrador. A orquestra conta com patrocínio do consórcio CCR Barcas. A agenda pode ser conferida no site www.ilhadepaqueta.com.br.

Reprotagem: Roni Filgueiras

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