Por daniela.lima

Rio - No início de abril, Roberto José dos Santos, o Tio Beto, e o sobrinho, Flávio Desidério Lucena, o Flavinho do 18, foram presos juntos pela polícia quando acertavam detalhes de mais um homicídio que cometeriam. Ainda segundo investigação da Polícia Civil, o primeiro é matador de aluguel e tinha até tabela de preços para as ‘encomendas’ que recebia. Menos de três meses depois, Elcio da Silva, o Poi, e seu filho Elcio Douglas da Silva, o DG, também foram capturados sob a acusação de participarem do tráfico dos morros do Borel, na Tijuca, e da Mangueira. Alguns dias depois, mãe e filho foram presos em Padre Miguel por venderem embalagens plásticas para acomodar drogas.

Anderson da Costa e Terezinha Faceira Batista%2C presos por venderem embalagens plásticas para traficantes endolarem drogasReprodução


Os três casos de integrantes da mesma família presos por cometerem crimes juntos chamaram a atenção de especialistas para o drama de parentes unidos para cometerem delitos. Alguns alertam que os casos não são incomuns. “Desde o início do século XX, podemos citar vários casos, até de famílias inteiras de criminosos que tiveram grande repercussão. Faz parte da história da criminologia. Estudiosos fizeram várias teses a respeito, tentando explicar o fenômeno”, disse o psiquiatra forense Guido Palomba.

Tio Beto e Flavinho do 18%2C acusados de atuar juntos em assassinatos%3BReprodução


Para o estudioso, há uma série de fatores por trás dos crimes cometidos em conjunto por parentes. Os dois que mais se destacam, segundo Guido, são o exemplo e o caráter. “O modelo de vida de um criminoso pode influenciar o caminho que uma criança, no caso filho, sobrinho ou outro grau de parentesco, vai seguir. O homem, muitas vezes, é produto do meio. E, se ele só tem esse modelo de vida, pode ser que acabe levando os mais jovens a repetir esse padrão”.

No caso de Poi e o filho DG, ainda há mais desdobramentos na família. É que o veterano chegou ao posto de gerente do tráfico no Borel graças ao tio famoso, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, ex-chefão do crime naquela comunidade.

Elcio Douglas, o DG, e Elcio da Silva, o Poi, apontados como traficantes do Borel e MangueiraReprodução

O psiquiatra alerta que outro fator determinante para que parentes sigam um modelo criminoso já existente na família é o que ele chama de pré-disposição. “Se a pessoa tiver uma inclinação à delinquência, vai seguir. Caso contrário, vai ser uma pessoa de bem. Metade vem do mau exemplo, e a outra metade, do indivíduo”, disse, para depois concluir: “Há famílias inteiras unidas pela corrupção ou outros crimes de colarinho branco”. 

‘SEM AFETO’

Delegado fica impressionado

O delegado que fez duas das três prisões citadas na reportagem, Márcio Braga, se disse impressionado com os casos, principalmente com o de Terezinha Faceira Batista e Anderson Batista da Costa.
“Em nenhum momento, enquanto estiveram na nossa frente, demonstraram afeto ou o carinho natural entre mãe e filho. Pareciam duas pessoas estranhas”, contou.

O titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) também acredita que o exemplo da vida dentro da criminalidade acaba sendo influência forte nesses casos. “Claro que existem exceções, mas nossa experiência mostra que há uma tendência de repetição do modelo de vida que as crianças veem em casa”, disse ele.

“Não consigo compreender pais que compactuam com o filho fazer parte do crime, entrarem nesse caminho. Eles acham natural, até porque muitos jovens acabam sustentando a família com esse dinheiro”, finalizou. 

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