Rio - Investigada por corrupção pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, a cúpula da PM reuniu forças para debater um contra-ataque. Na noite de segunda-feira, o comandante-geral, José Luís Castro, convocou todos os comandantes de batalhões, UPPs, chefes e diretores de unidades. O estacionamento do Quartel General ficou lotado.
Cada oficial que chegava tinha que assinar uma lista de presença, mesmo ainda sem saber o motivo da convocação extraordinária. No auditório, o coronel Rogério Seabra comandava a apresentação em power point de um manifesto contra as ações do Gaeco. O principal teor do texto era o de que não haveria provas suficientes para as prisões de oficiais feitas pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Seseg) e os promotores do Gaeco. Em menos de um mês, oito oficiais foram presos, além de 32 militares, acusados de corrupção.
Durante a reunião, os oficiais sugeriram mudanças no texto, mas o comandante-geral quase não ficava no auditório. Dizia não querer influenciar a decisão da tropa, enquanto era discutido a melhor estratégia para atacar o Ministério Público e lutar pela limpeza da imagem da corporação.
Ao final do encontro, no entanto, ninguém assinou o documento, chamado também de manifesto e carta aberta, que seria entregue no Palácio Guanabara. Nesta terça, o comandante-geral e o chefe do Estado Maior operacional, Paulo Henrique Moraes, participaram de reuniões no Palácio Guanabara e na Secretaria de Segurança.
Nos bastidores, coronéis estão preocupados com a reação dos promotores do Gaeco diante da reunião de segunda-feira. Isso porque continuam as investigações envolvendo oficiais. Nesta terça-feira, o delator da operação Ave de Rapina, que levou para a cadeia 16 policiais do 17º BPM (Ilha) por receber propina do tráfico, depôs na Auditoria de Justiça Militar.
Tropa dividida após reunião
A reunião desta terça convocada pelo comandante-geral, José Luís Castro, acabou dividindo a tropa. Muitos policiais têm medo da reação dos promotores do Gaeco, do Ministério Público. E mais. Alertam que todas as investigações passam pela Secretaria de Segurança. O cargo do comandante-geral é escolha do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e do governador Luiz Fernando Pezão, que apesar das investigações, mantiveram Castro no comando, como demonstração de apoio.
Depoimento de delator foi a origem
As investigações sobre a cúpula da PM foram baseadas no depoimento de um delator da operação Amigos S/A. Na ocasião, foram presos 26 PMs, entre eles o coronel Alexandre Fontenelle, ex-chefe do Comando de Operações Especiais, e um mototaxista.
Em três depoimentos, o colaborador deu detalhes de como seria o esquema de corrupção envolvendo todos os batalhões. As unidades teriam que contrinuir com R$ 15 mil ao Estado-Maior da PM. A partir de então, o Gaeco, do Ministério Público, passou a investigar. Isso gerou revolta na cúpula. A alegação é de não havia informações suficientes contra eles nas investigações. Na semana passada, com a prisão de policiais da Ilha, outro delator declarou que ouviu dizer de forma generalizada que o comando receberia propina.