Rio - O desvio de verba em um megaesquema de corrupção na compra de material médico-hospitalar para unidades da Polícia Militar é avaliado em no mínimo R$ 10 milhões. A corporação instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM). Em paralelo, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, também apura o rombo na área da saúde. Dez contratos estão sendo auditados.
Como o blog Justiça e Cidadania publicou nesta terça com exclusividade, a corporação adquiriu, por mais de R$ 4 milhões, 75 mil litros de ácido peracético — usado para esterilizar material cirúrgico que não ia para o autoclave. O produto seria para o Hospital Central da Polícia Militar (HPM), no Estácio.
A unidade não tem nem lugar para armazenar a grande quantidade. Para isso, seria necessário a utilização de cinco carros pipas ou 15 mil galões de cinco litros. No entanto, parte ínfima do ácido foi recebido. Há ainda a informação de que a compra foi feita este ano. Gerências de Enfermagem de dois hospitais de grande porte, um da Zona Sul, e outro em Niterói, afirmam que o uso de ácido peracético é obsoleto.
Em nota oficial, a PM fez questão de ressaltar que a investigação começou na corporação com uma sindicância e que por haver indícios de crime foi aberto um IPM, na segunda-feira. O Inquérito está a cargo do coronel Wolney Dias, subordinado à Corregedoria da Polícia Militar. Há uma comissão que acompanha o caso. Porém, a Subsecretaria de Inteligência em parceria com o Gaeco apuram o caso em procedimento separado. Os maiores alvos são oficiais que atuaram no setores de compra e licitação, ligados à diretoria de logística.
Uma auditoria no Hospital da PM em Niterói apura rombo de mais de R$ 3 milhões na compra de medicamentos. A investigação aponta ainda para falsificação de assinaturas em documentos para efetuar compras. Serão convocados para prestar depoimento, por exemplo, ex-responsáveis pelo Fundo de Saúde da Polícia Militar (Fuspom).
Em nota, a PM explicou que o Fuspom banca a compra de material médico-hospitalar, além de rouparia. Para isso, há desconto de 10% do soldo do militar e de mais 1% para cada dependente. A corporação informou que não recebe dinheiro do Sistema Único de Saúde e que a fiscalização é feita por comissão gestoras composta só de oficiais.
Unidades atendem a cerca de 250 mil
Pelo menos 250 mil pessoas — entre PMs ativos e inativos e seus dependentes — são atendidos pela rede de saúde da corporação. São dois hospitais, um no Rio, outro, em Niterói, além de policlínicas e centros especializados, como o de fisiatria. Segundo a PM, a prestação de contas é feita ao Tribunal de Contas do Estado.
A investigação do megaesquema de corrupção é mais um escândalo envolvendo oficiais. Semana passada, o ex-comandante do 17º BPM (Ilha) coronel Dayzer Corpas foi preso acusado de recebimento de propina de traficantes.