Por THIAGO ANTUNES

Rio - A morte de cinco suspeitos de tráfico, cujos corpos foram deixados dentro de carro abandonado num dos acessos ao Morro da Mangueira, na manhã, desta quinta-feira expôs mais uma vez a guerra entre facções rivais pelo comando do tráfico da comunidade. Porém, a principal linha de investigação da Divisão de Homicídios aponta que as vítimas foram executadas por comparsas da mesma facção, o Terceiro Comando Puro (TCP). O motivo seria a indignação dos chefes do pó no Morro da Serrinha, em Madureira, dominado pelo TCP, pela morte de Caio Martins Ferreira, de 17 anos, na noite de terça-feira, enquanto jogava futebol na Mangueira, favela que conta com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Segundo a polícia, dois dos mortos foram identificados:Arthur da Silva, o Mano A, e Jorge Augusto Ribeiro Júnior, o Gugu, cujos mandados de prisão haviam sido expedidos na noite anterior pelo homicídio do adolescente. Junto aos corpos foi encontrado aviso num papelão: “Vida paga com vida. Não aceitamos covardia. Matou inocente, morreu”. Completam a lista de acusados pela morte de Caio dois homens: Ederson Figueiros, o Sobel, e um outro traficante identificado apenas como Biruleide, ainda foragidos.

Segundo policiais, todos seriam oriundos da Mangueira e ex-integrantes do Comando Vermelho, subordinados a Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, morto há cerca de dois meses na comunidade. Desde 2011, quando foi implantada a UPP na comunidade, eles teriam ‘trocado de lado’ e se vinculado ao TCP, no Morro da Serrinha. O fato de conhecerem as vielas da Mangueira os teria ajudado a cometer o atentado em um campo de futebol, onde um grupo jogava futebol. No entanto, a barbárie não teria repercutido bem no TCP.

“O carro usado para ‘desova’ não foi alvejado, o que aponta para o fato de que eles foram executados em outro local. Já solicitamos imagens de segurança da região para saber qual foi o itinerário do veículo”, disse o delegado Alexandre Herdy, responsável pelo caso. Testemunhas e familiares dos bandidos devem ser ouvidos nos próximos dias pela Divisão de Homicídios.

A disputa por território

O assassinato do antigo chefe do pó na Mangueira, Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, com cinco disparos em setembro, reacendeu a disputa entre três facções rivais pelo comando do tráfico na comunidade.

Desde então, moradores vivem a iminência de ataques a bocas de fumo e tiroteios constantes praticados entre bandidos do Comando Vermelho (CV), Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP). Após cumprir pena de 21 anos, Tuchinha trabalhava como palestrante da ONG AfroReggae. No entanto, investigações apontaram que ele mantinha influência no bando.

Tiros de fuzil e tortura

As imagens fortes dos cinco homens mortos dentro do carro abandonado na Rua General Gustavo Cordeiro de Farias, em Benfica, não impediam moradores da Mangueira de exibir expressões de alívio a cada corpo retirado do Siena prata. “Foi ele, foi ele quem matou o Caio!”, dizia um deles no meio da aglomeração de curiosos, ao ver um cadáver sendo levado ao rabecão, segundos antes de seu crânio, que fora decapitado. Outra vítima tinha marcas de espancamento pelo corpo e sinais de tortura.

“Todos foram atingidos por disparos de fuzis de calibres variados”, disse o delegado Alexandre Herdy, pouco depois da perícia realizada no local. Caio Martins Ferreira, de 17 anos, jogava futebol com amigos na comunidade quando foi baleado por homens armados que saíram de dentro da mata. Outras três pessoas foram atingidas e levadas para o Hospital Souza Aguiar, entre elas, uma criança de 5 anos. Caio morreu na hora.

Na quarta-feira, dia em que o jovem foi sepultado, moradores realizaram protesto, mas a manifestação terminou em confronto com PMs da UPP local. Assustados, alguns dos integrantes se abrigaram no antigo prédio do IBGE, onde a polícia apreendeu drogas.

De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, o policiamento no Morro da Mangueira segue reforçado por homens de outras UPPs.

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