Rio - Mesmo com a saída dos invasores do conjunto habitacional do programa "Minha Casa, Minha Vida" em Guadalupe, na Zona Norte, a Polícia Militar permanecerá no local. Foi o que garantiu nesta quarta-feira o relações públicas da corporação, coronel Cláudio Costa, que está em frente ao condomínio acompanhando o processo de reintegração de posse dos apartamentos que foram invadidos no último dia 9. No entanto, ele lembrou que a segurança na parte interna é de responsabilidade da construtora BR4.
GALERIA: Invasores deixam condomínio do 'Minha Casa, Minha Vida' em Guadalupe
"A segurança interna do conjunto é de responsabilidade da construtora e a Caixa Econômica, também na nossa reunião, ficou de dar esse apoio. Na parte externa sim, a Polícia Militar vai estar com reforço de policiamento com o 41ºBPM e também com batalhões do 2ºCPA (Comando de Policiamento de Área)", garantiu em entrevista para a Globo News.
O clima é de relativa tranquilidade entre as pessoas que deixam o Residencial Guadalupe. No entanto, duas senhoras passaram mal e foram atendidas por bombeiros que estão no local e no final da manhã teve um pequeno princípio de tumulto na Rua Pedra Rasa, mas que foi contornado rapidamente. Além disso, um grupo de pessoas protestavam pedindo a presença de representantes de órgãos públicos no local.
Invasor deixa o local 'revoltado'
Por volta das 9h, as primeiras pessoas começaram a sair do conjunto habitacional. O repositor de estoques Haroldo Alves, de 50 anos, lamentou ter sido obrigado a sair do local. "Estou revoltado por ter que sair (do condomínio). Morro um barraco em Costa Barros e aqui estava fechado há cinco meses".
Segundo o coronel da PM, em torno de 250 invasores estavam no condomínio e que isso mudava no dia a dia, já que algumas pessoas saíam e outras entravam. Cláudio Costa destacou o sucesso até agora da desocupação do conjunto habitacional.
"Tudo está transcorrendo com muita tranquilidade. Os caminhões estão retirando os pertences dos moradores e levando alguns para suas residências e por locais indicados por eles. Desde o início dessa ocupação o comando do 41ºBPM (Irajá), o coronel Luiz Carlos Leal, vem conversando com as pessoas e assim a gente vem fazendo e está tudo tranquilo até o momento", diz.
Muitos informaram que voltariam para os mesmos lugares onde viviam antes da invasão, a maioria em favelas do entorno. A prefeitura pôs à disposição um caminhão para levar para depósitos o material de quem não tinha para onde ir.
A desempregada Célia Araújo Rodrigues, de 62 anos, contou que trocou um barraco na Favela da Pedra Rasa, também em Guadalupe, pelo condomínio quando homens passaram por sua rua avisando que os apartamentos estavam sendo invadidos. Ela informou que outros homens indicaram em qual imóvel ficaria. “Eu vim para deixar de pagar o aluguel de R$ 250. Minha única renda é o ferro velho que cato na rua”.
Preocupação com crianças
Por volta das 10h, cerca de 50 pessoas, gritando “queremos casa”, cobraram a presença de representantes da Prefeitura no local e foram atendidos por funcionários da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Eles pediam atenção às famílias que não tinham para onde ir, principalmente às com crianças e idosos.
O único momento de tensão foi por volta de meio-dia, quando alguns invasores acusaram um policial militar de agredir um adolescente de 14 anos, que foi detido. Um PM jogou uma bomba de efeito moral, e a situação foi contornada após os policiais liberarem o adolescente.
O tenente-coronel Cláudio Costa, relações públicas da PM, não informou quantos policiais participaram da operação. Mas explicou que desde a madrugada, agentes cercaram o conjunto residencial e ocuparam os acessos às favelas da região. Além dos PMs, bombeiros e funcionários de órgãos da prefeitura acompanharam a saída das famílias. Quatro pessoas foram atendidas numa unidade médica montada em um supermercado.
Mais de 2.800 alunos estão sem aulas na região
Por conta da desocupação do conjunto habitacional, quatro escolas, uma creche e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) da rede municipal não estão funcionando. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 2.824 alunos estão sem aulas. Já a Secretaria de Estado de Educação informou que todas as unidades estão funcionando normalmente.
Agentes da CET-Rio também estão participando da ação. Eles estão orientando o trânsito nas vias próximas ao condomínio, já que algumas ruas, como um trecho da Fernando Lobo, estão fechadas por conta da retirada dos invasores.