Por adriano.araujo

Rio -  A invasão de 240 apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida, em Guadalupe, que terminou esta semana, trouxe luz a um dos problemas enfrentados pelo programa: garantir que as unidades sejam entregues a quem é de direito, sem interferência de outras pessoas ou de ações de criminosos. A retirada dos cerca de mil sem-teto do local sem violência marcou também o início de um trabalho no qual o Rio será pioneiro. Uma força-tarefa entre órgãos públicos está sendo criada para evitar que situações semelhantes coloquem em risco a entrega dos próximos imóveis.

A Polícia Militar já deu o pontapé no trabalho. Caberá à corporação fazer um mapeamento das regiões onde estarão instaladas as futuras unidades do Minha Casa Minha Vida. Na quarta-feira, a PM recebeu uma lista com pelo menos dez locais onde estão sendo ou serão construídos os apartamentos. O Serviço de Inteligência da corporação começou uma apuração para identificar nessas áreas quais são as possibilidades de risco para o empreendimento.

Invasão do Residencial Guadalupe deu sinal de alerta às autoridades%3A ideia agora é se antecipar a eventuais problemas e criar condições de segurança para empreendimentosSeverino Silva / Agência O Dia

O setor está verificando, por exemplo, se a região é dominada por tráfico ou milícia, se há probabilidade de outras invasões, quem são os criminosos que agem nos arredores e quem seriam os suspeitos pelas ocupações ilegais dos imóveis. Ou seja, a partir do mapeamento das áreas, será traçado o planejamento de como os órgãos públicos envolvidos deverão agir em situações de risco para o empreendimento.

No entanto, o resultado do levantamento não vai implicar em uma alteração no projeto, como, por exemplo, uma mudança no local onde os apartamentos serão construídos.

De posse dos dados, a Polícia Civil terá condições de, caso necessário, abrir investigação sobre suspeitos; e a Justiça poderá expedir mandados de prisão, entre outras medidas. Foi o que aconteceu sexta-feira, quando investigadores da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque) conseguiram prender suspeitos de comandar a invasão do residencial de Guadalupe.

Nos primeiros dias da ocupação em Guadalupe%2C bandidos circulavam com fuzis%3A tráfico participou da invasãoReprodução de TV

A decisão da força-tarefa foi tomada em uma reunião na última quarta-feira à tarde, após a retirada dos invasores — sem nenhum confronto com os policiais. No encontro, estavam presentes representantes da construtora do Residencial Guadalupe, da Caixa Econômica Federal, do Ministério Público, das forças de Segurança Pública do estado, além da secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki.

Na conversa, ficou acertado que os órgãos que participaram de todo o processo de reintegração de posse do conjunto habitacional vão se unir, em caso de necessidade, para novas intervenções. A ideia é utilizar todos os recursos legais necessários para evitar novas invasões ou desmobilizá-las sem violência, além de impedir que criminosos se apropriem ou danifiquem os apartamentos.

Segundo informações de pessoas que participaram da reunião, a secretária Regina Miki ficou de apresentar o projeto ao Ministério das Cidades, para que a força-tarefa também seja organizada em outros estados.

?Inteligência no lugar da truculência

?Um dos objetivos do planejamento prévio para as áreas dos residenciais é que sejam evitados episódios de violência no local para que inocentes não sejam vitimados. Apesar de os invasores do conjunto de Guadalupe terem colocado barricadas nas ruas e de a área ser cercada por comunidades com tráfico, as polícias agiram em conjunto na quarta-feira. Enquanto alguns negociaram ao longo da semana para que as pessoas deixassem os imóveis de forma pacífica, outros fizeram operações no entorno para prender criminosos.

De acordo com o delegado Hércules Pires, que prendeu o presidente da Associação de Moradores do Gogó da Ema, Carlos Henrique de Oliveira, o suspeito está sendo investigado por vender vagas no condomínio e por prometer às pessoas interessadas a possibilidade de habitar o conjunto, apesar de a seleção dos futuros moradores ser realizada somente através de um sorteio feito pelo governo federal. Além de Carlos, também foi preso o ex-candidato a deputado Paulo Aquino.

Combate aos traficantes

Além dos acusados pela invasão ao Residencial Guadalupe, que durou dez dias, a polícia também prendeu um dos chefes do tráfico do vizinho Complexo do Chapadão, Davi da Conceição Carvalho, o Davi do Chapadão. As investigações apontaram que o traficante teria comandado a ocupação ilegal nos apartamentos. Imagens postadas em redes sociais mostram que criminosos tinham liberdade para andar armados até com fuzis nos arredores do conjunto, inclusive, abordando motoristas.

A ação de criminosos na região se comprova por levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP): de janeiro a outubro, 1.121 assaltos ocorreram na jurisdição da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque). No mesmo período do ano passado foram 851 casos.

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