Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Seja para pedir dinheiro, paz ou amor, quem é supersticioso corre às lojas para garantir o amuleto da virada do ano. Apesar do comércio pouco aquecido, as bijuterias, santinhos e até roupas íntimas especiais para o Réveillon garantem um fim de ano de mais faturamento para os comerciantes.
Pimenta%2C olho turco e elefante da fortuna%2C prateado ou dourado%2C são os preferidosAlexandre Vieira / Agência O Dia

O movimento em uma loja de bijuterias no mercado do Saara, Centro, é intenso às vésperas da grande festa. Colares dourados, bijuterias com olho turco e pulseirinhas com pimentas, que afastam o mau olhado, fazem sucesso. “O amor está fora de questão, as pessoas vêm atrás de dinheiro. Estamos vendendo muito um elefantinho dourado ou prateado que simboliza a fortuna”, disse a gerente Verônica Alves, de 23 anos, da Alfa 167.

Entre a procura por tanta bijuteria dourada e prateada, a promotora de vendas Irineu Mello, de 35 anos, era uma exceção. “Ano passado eu pedi prosperidade e consegui um emprego estável. Deu certo. Agora só falta o amor”, disse, enquanto manuseava um colar com um pingente de coração.

Enquanto a maioria das pessoas pede mais dinheiro em 2015, algumas lojas têm o lucro de fim de ano impulsionado por conta da superstição. Também no Saara, uma loja de lingerie mudou a disposição de cores das peças nas prateleiras. “Estamos vendendo menos que o normal. Mas, diariamente, quase cem mulheres vêm comprar roupas íntimas brancas e amarelas, em busca de paz e dinheiro”, disse o proprietário Leandro Antunes, de 34 anos. “Para falar a verdade nem acredito muito. Mas pelo sim pelo não, vou de sutiã branco”, afirmou a estudante Jane Silva, de 24 anos.

Kit para Iemanjá contra ano ruim
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?Em uma esquina da Rua do Rezende, no Centro, velas de todas as cores decoram a fachada de duas lojas que vendem artigos de Umbanda há mais de 20 anos. Segundo as donas dos estabelecimentos, o movimento nunca esteve tão fraco, mas os kits para oferendas e as tradicionais ervas de descarrego ainda resistem e garantem parte do faturamento.
Aos 57 anos, a comerciante Lourdes Cianela prepara os kits para Iemanjá com muito carinho. Carro-chefe das vendas de fim de ano, as caixinhas contêm pente, espelhinho e sabonete para o Orixá. “Por causa das oferendas do dia da virada, a gente pede uma carga bem maior e vende muito esses kits. As pessoas também gostam de comprar velas, cristais e insensos para a casa ficar com um bom astral para entrar em 2015.”
Lourdes%3A ‘kits são os carros-chefe das vendas neste período’Alexandre Vieira / Agência O Dia

Na loja ao lado, Nancy Brasil, de 59 anos, acabava de receber um estoque de ervas para encrementar a vitrine. Segundo ela, o seu comércio enfrenta um momento difícil. “Em 27 anos de loja a gente nunca vendeu tão pouco. Pelo menos eu sei que quando chegar mais perto mesmo do dia 1º, aqui vai lotar de gente atrás dos meus kits para as oferendas e as tradicionais velas”, afirmou.

Cliente assídua, a cabelereira Antonia Ferreira, de 32 anos, vai manter a tradição de família para a virada de 2014 para 2015. “Não poupo economias para fazer um agrado a Iemanjá. Não sigo nenhuma religião, mas eu aprendi com a minha mãe e também faço uma homenagem a ela.”

?Expectativa é de aumento nas vendas

?Segundo o economista Gilberto Braga, do Ibmec, o faturamento fraco de fim de ano é um reflexo da situação econômica do país. Porém, as lojas comercializando produtos que atendem a superstições acabam se beneficiando. “A situação geral é de crise. Mas os brasileiros têm estas tradições que acabam se refletindo na economia. Por exemplo, veste-se muito branco, então é claro que as lojas de vestuário se favorecem”, comenta.

De acordo com o economista, as vendas devem melhorar até quarta-feira. “Boa parte das empresas estão emendando, como as repartições. Basicamente só o comércio está trabalhando, e as pessoas estão com mais disponibilidade de tempo para comprar”, afirmou.

Águas aromáticas com fragrâncias relacionadas aos orixás estão com boa saída no comércio religiosoAlexandre Vieira / Agência O Dia

?Reportagem de Lucas Gayoso

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