Por thiago.antunes
Rio - Com aparições cada vez mais frequentes nas áreas urbanas, os jacarés já fazem parte do cenário das lagoas do Recreio dos Bandeirantes, da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá. A maioria dos moradores da região não imagina, mas os vizinhos répteis no Complexo Lagunar da Zona Oeste são cerca de 4 mil. A estimativa foi feita pelo Instituto Jacaré, que realiza pesquisas e trabalha em prol da preservação desses animais.
Segundo Camila Scalzer, bióloga e coordenadora da instituição, o que tem tornado mais comum o encontro dos répteis com os moradores da região não é o aumento da população de jacarés, mas sim o avanço dos grandes empreendimentos imobiliários na Zona Oeste nos últimos anos. Com isso, o habitat dos bichos foi reduzido e eles ficaram mais concentrados nas poucas áreas naturais, espremidos entre prédios, ruas e avenidas.
Aluno aprende a como capturar o réptil no curso promovido pelo Instituto Jacaré%2C que atua na pesquisa e preservação desses animais no RioDivulgação

Apesar do medo de muitos cariocas e do susto ao encontrá-los, Camila conta que os répteis normalmente não oferecem risco à população e, até hoje, não foi registrado caso de ataques na região. Entretanto, ela recomenda que não se deve tentar contato direto. “Apesar de ter a tendência a fugir com a aproximação de pessoas, jacarés são animais selvagens e pode ser que eles tenham uma reação diferente ao contato com humanos”, alerta.

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Já para os jacarés, a proximidade dos humanos e da estrutura urbana representa alguns riscos. Em dezembro, um filhote foi atropelado ao atravessar a Avenida das Américas. Outro risco para os bichos é a interferência das pessoas no modo de vida natural, como dar comida aos répteis. “Eles não são bichos de estimação”, ressalta Camila.
A bióloga explica que, se as pessoas alimentarem esses animais de forma sistemática, eles podem perder a habilidade de buscar comida no ambiente selvagem, além de se tornarem vulneráveis à presença de possíveis predadores.
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Para explicar à população como se relacionar de forma sustentável com esses animais, o Instituto Jacaré tem projetos de comunicação com as comunidades da região. Um deles é o “Jacaré vai à Escola”, que faz palestras em colégios e promove o contato das crianças com os bichos para desmistificar a imagem do animal e mostrar a importância da conservação. O instituto foi criado em 2006 para atuar na pesquisa e preservação principalmente do jacaré do papo-amarelo, presente na área.
Curso ensina como ‘pegar’ jacarés
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Para preparar profissionais que trabalham em pesquisa ou em resgate de animais silvestres ou mesmo quem estiver interessado em um contato mais próximo com esses bichos, o Instituto Jacaré promove o “curso de captura, contenção, manipulação e manejo de jacarés”.
Ministrado por Ricardo Freitas Filho, doutor em biologia e especialista no assunto, o curso tem três edições anuais e ensina todo o processo de captura do animal, além de explicações sobre a fisiologia e o ecossistema dos jacarés. “Geralmente o aluno que busca o curso faz pesquisa na área ou presta consultoria no resgate de fauna, mas já tivemos até médicos em nossas turmas”, diz Camila, acrescentando que o curso não requer formação prévia.
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Com turmas de 10 a 15 pessoas, o curso dura dois dias inteiros e tem conteúdo totalmente prático. “Já no segundo dia, o aluno pode localizar e capturar os jacarés, mas sempre com a nossa supervisão, é claro”, explicou Camila.
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Reportagem de Flora Castro