Por nicolas.satriano

Rio - O Ministério Público Federal determinou a instauração de Inquérito Civil Público para apurar danos à coletividade na manifestação de trabalhadores terceirizados do Complexo Petroquímico (Comperj), que fecharam nesta terça-feira, por mais de três horas, a Ponte Rio-Niterói, principal eixo viário da Região Metropolitana, por onde passam diariamente 150 mil veículos. A investigação foi pedida pela Polícia Rodoviária Federal, que alega que o protesto colocou em risco a segurança da via, dos motoristas e dos próprios manifestantes

A PRF entregou aos procuradores relatório com informações sobre os envolvidos e com a identificação dos ônibus que levaram o grupo até o meio da Ponte. Segundo o MPF, o fechamento da via deve ter autorização prévia da Polícia Rodoviária e é totalmente lesivo. O protesto de cerca de 200 empregados da prestadora de serviços Alumini, que pediam o pagamento de salários atrasados, começou às 11h30 e se tornou um martírio para centenas de milhares de fluminenses.

Protesto de funcionários do Comperj fechou a Ponte Rio-NiteróiFoto%3A Alessandro Costa / Agência O Dia

Os manifestantes iriam para a Petrobras de ônibus, mas no meio do caminho decidiram ir a pé. Por medida de segurança, agentes da PRF fecharam a pista sentido Niterói às 12h40. A interdição na Ponte durou 3h14 e o impacto no trânsito atingiu Rio, Niterói e São Gonçalo.

O engarrafamento chegou a 10 quilômetros na Niterói-Manilha (BR-101). “Manifestar é válido, mas não pode parar uma via inteira”, reclamou o vigilante Cristóvão Saboia, 49 anos, parado na Zona Portuária do Rio. O advogado Fabrício Pereira Figueiredo, 31 anos, levou 50 minutos para cruzar a via. “Normalmente faço em 20”, disse.

Até ambulâncias foram impedidas de passar. Passageiros que estavam nos ônibus retornavam a pé para Niterói. Na cidade, o Terminal Rodoviário João Goulart, no Centro, ficou sem ônibus, que não conseguiam chegar ao ponto. No Rio, a Avenida Brasil, Via Binário, Linhas Amarela e Vermelha também enfrentaram lentidão.

Manifestantes seguiram em direção ao prédio da Petrobras, no Centro do RioFoto%3A Alessandro Costa / Agência O Dia

A dois quilômetros para o final da Ponte, os agentes da PRF conseguiram negociar com os manifestantes para que ocupassem apenas duas pistas. O trânsito só foi totalmente liberado às 14h44, segundo a CCR Barcas. Não houve confrontos.

Como a Ponte é uma via federal, o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que a Polícia Militar ficou de prontidão, mas que só atuaria se a PRF solicitasse, o que não aconteceu. “Não é permitido interditar vias públicas, porém é livre a manifestação. Mas não faz sentido fechar uma artéria dessa importância”, disse Osório, que pediu reforço na frota das barcas, trens e metrô.

De acordo com o jurista Luiz Flávio Gomes, protestar na via não é crime, mas os manifestantes deveriam ter avisado às autoridades para que houvesse segurança e sinalização. “Os organizadores podem, sim, ser responsabilizados por terem causado danos a terceiros”, orienta o advogado.

Sindicato nega apoio ao fechamento

O diretor de operações do Sindicato dos Trabalhadores de Empresas de Montagem e Manutenção da Cidade de Itaboraí (Sintramon), Rogério Assunção, condenou a forma do protesto dos trabalhadores da empresa Alumini.

“Tínhamos feito uma assembleia mais cedo e o combinado era seguir para protestar na sede da Petrobras. No entanto, o pessoal do Sindipetro-RJ (Sindicato dos Petroleiros do Rio) incentivou eles a descerem na Ponte. Não concordamos com esta atitude”, reclamou.

Funcionários do Complexo Petroquímico fazem protesto em frente à sede da Petrobras%2C no Centro do RioSeverino Silva / Agência O Dia

Brayer Lira, diretor da Sindipetro-RJ, nega a acusação. “Foi uma decisão dos trabalhadores. Nosso apoio é, além de solidariedade de classe, para que não aconteça desemprego e atraso de salários”, afirmou Lira. O Sindipetro forneceu água durante a caminhada na Ponte e quentinhas para o almoço dos manifestantes.

A chegada do protesto à sede da Petrobras, na Avenida Chile, foi tensa. Por volta das 15h30, policiais atiraram uma bomba de efeito moral quando um manifestante tentou entrar no edifício. Em seguida, um jornalista do Sintramon foi cercado e expulso do local pelos manifestantes.

Alguns ameaçaram novas interdições durante Carnaval, citando a Avenida Brasil e o Sambódromo como alvos. Por volta das 19h, os manifestantes resolveram encerrar o protesto e saíram em ônibus fretados.

Reportagens de Constança Resende, Gustavo Ribeiro, Hélio Almeida, Henrique Moraes e Maria Luisa Barros

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