Por felipe.martins

Rio - O deputado estadual Paulo Ramos (Psol) protocolou, nesta terça-feira, um pedido de CPI, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), para investigar o papel do coordenador do Afroreggae, José Júnior, nas negociações para a rendição do traficante Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, traficante mais procurado do Rio. O deputado quer, através da Comissão, apurar qual a real função de Júnior na política de Segurança Pública do Estado.

O coordenador do AfroReggae, José Júnior, confirmou no domingo a participação nas negociações para uma possível rendição do traficante Celso Pinheiro Pimenta, o 'Playboy', no Morro da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte carioca. Em sua página no Facebook, o ativista postou uma foto com 'Playboy' e admitiu que intermediou a entrevista que o bandido mais procurado do país concedeu ao jornalista Leslie Leitão, da revista ‘Veja’.

"Temos que verificar a cumplicidade, a conivência, o trânsito que tem o senhor  José Júnior em várias esferas administrativas e investigar a ONG Afroreggae, pelos contatos sem licitação, que me leva à certeza de tratar-se de desvio de recursos públicos e, no mínimo asssociação confessa ao tráfico do  senhor José Júnior", disse Ramos. 

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"Por que ele (José Júnior) só publicou a foto  (com Playboy) no domingo, depois de toda a repercussão? Por que não disse antes que foi ele o intermediador da entrevista? O que ele tem a esconder? Ele está autorizado pelas autoridades a negociar rendição de traficante ?", indagou o psolista. 

O deputado também quer saber sobre o que o coordenador do Afroreggae se referia quando citou no Facebook que havia feito contato com o Ministério Público e um delegado de polícia para  tratar do caso 'Playboy'. "Eu vou pedir uma audiência com o Marfan Vieira (procurador-geral do MP) e com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. É grave essa informação passada por ele e precisa ser investigada". 

O coordenador do Afroreggae foi procurado pela reportagem do DIA Online, mas não foi encontrado para responder as acusações do deputado.

Traficante Playboy conversa com José Júnior%2C integrante do AfroreggaeReprodução Internet

No domingo, José Júnior postou na rede social como foi seu encontro com 'Playboy, fato que gerou polêmica até mesmo entre seus seguidores. “Ele fez questão de focar nos erros que ele cometeu e nos seus problemas. Não sei o q vai acontecer com ele ou o q ele decidirá pra sua vida mas percebi que esse ‘veterano’ de 32 anos ta refletindo o que é melhor pro seu futuro. Eu dei a minha opinião só q a decisão é exclusivamente dele. Que venham os tempos de paz”, escreveu José Júnior.

Segundo o ativista, Playboy teria negado todas as histórias sobre corrupção policial, levantadas na entrevista. “Duas situações me impressionaram bastante, a história de um garoto da Zona Sul trabalhador, que virou o bandido mais procurado do Brasil e a sua lealdade nas relações estabelecidas não fazendo nenhum comentário que comprometa qualquer pessoa seja criminoso, policial ou morador da favela”, escreveu.

Parte da conversa, informou, foi registrada num vídeo, ainda não divulgado. Ao comentar o post, disse ter sido convocado para prestar depoimento na Polícia Civil.

Coordenador cita negociação envolvendo delegado e Ministério Público

Ao responder as críticas de uma usuária do Facebook, o líder do Afroreggae citou o envolvimento do Ministério Público e de um delegado em uma negociação. Tudo começou quando uma internauta criticou a atuação de Júnior em acordos com traficantes para uma eventual rendição.

Escreveu ela: "Sinceramente, acho que o MP tem que chamar você e os jornalistas que fizeram a tal entrevista com este bandido a prestar depoimentos. Por que é isso o que ele é, e não é por que ele não quis citar nomes de policiais, entre outros, que ele vai virar um homem bom. Na minha opinião, você e os jornalistas deveriam responder por associação ao tráfico. Quem se junta com porcos, farelo come..."

E José Júnior respondeu: "O contato foi feito intermediado por um delegado junto ao MP 2 dias depois"

Coordenador do Afroreggae citou negociação com Ministério Público e com delegado no caso PlayboyReprodução

Após a resposta, Júnior foi bombardeado por indagações questionando o motivo de o Ministério Público e um delegado de polícia saberem do encontro e ainda assim não haver a prisão de Playboy. "Pois é como foi intermediado e o cara é o mais procurado e nao houve prisão? Nao há interesse?", escreveu uma seguidora do líder do Afroreggae.

"Já que MP e delegado estão envolvidos, as autoridades estão cientes onde ele está e nao há interesse em pegá-lo!!!! Nós como cidadãos de bem sofremos com isso todo dia bala perdida assaltos...", escreveu outra seguidora. O coordenador da ONG não voltou à rede social para esclarecer as dúvidas.

O DIA Online procurou José Júnior para esclarecer o que seria a negociação, mas ele se negou a falar com a reportagem. No início da tarde de segunda-feira, o Ministério Público negou as declarações do coordenador do AfroReggae de que tinha conhecimento do encontro dele com o traficante Playboy.

Deputado também quer investigar contratos sem licitação do Afroreggae com Prefeitura 

Paulo Ramos também quer investigar os contratos sem licitação da ONG com a prefeitura. Em reportagem publicada pelo DIA, mostrou que  o AfroReggae conseguiu com a prefeitura do Rio, desde 2010, sem precisar participar de licitação, contratos que somam cerca de R$ 9,5 milhões. O motivo do grupo ser dispensado das concorrências públicas é um mistério que nem o próprio AfroReggae ou o município conseguem explicar.

"Eu já encontrei quatro CNPJs do Afroreggae. O que é isso? Uma franquia? Não dá para entender uma coisa dessa", disse Ramos. 

Para a Secretaria municipal de Cultura, que celebrou alguns dos convênios, a organização possui uma “metodologia específica” no trabalho com jovens de comunidades. Perguntada sobre o que seria essa ‘metodologia’ diferenciada, integrantes da secretaria sugeriram que a reportagem entrasse em contato com a ONG para esclarecimentos. A organização, que atua em favelas como Vigário Geral, Parada de Lucas e Complexo do Alemão foi procurada, mas preferiu não se pronunciar.

Na Secretaria Municipal da Casa Civil, o AfroReggae conseguiu quatro convênios — também sem licitação —, entre os anos de 2010 e 2014. Os gastos com esses contratos totalizam cerca de R$ 2,7 milhões. O dinheiro foi repassado, segundo a assessoria da pasta, para dar apoio operacional à realização de atividades no Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral. E o argumento para que o grupo ganhasse a preferência em detrimento a outras ONGs é que o AfroReggae é o única com tal expertise no local.


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