Por adriano.araujo

Rio - As imagens de um outro ônibus que passava próximo do coletivo da linha 532 (Niterói - Alcântara), da Viação Mauá, podem ajudar a desvendar o que aconteceu antes da colisão que matou nove pessoas e deixou outras oito feridas na Rua Doutor Getúlio Vargas, no bairro de Santa Catarina, em São Gonçalo, na manhã desta quarta-feira. O veículo colidiu contra um poste e o transformador caiu, explodindo e deixando o ônibus em chamas.

Por determinação do Detro, a empresa vai disponibilizar as imagens para a Polícia Civil, que investiga o caso. De acordo com a Secretaria Estadual de Transportes, a câmera e o tacógrafo do ônibus acidentado foram destruídos pelo incêndio.

GALERIA: Ônibus pega fogo após colisão e deixa várias pessoas mortas

Ônibus pegou fogo após a colisão, destruindo tacógrafo e câmeras de segurançaSeverino Silva / Agência O Dia

Ainda segundo a secretaria, o motorista do ônibus, Valdinei Rangel de Oliveira, é um profissional experiente e trabalhava há 15 anos na Viação Mauá. As vistorias e a manutenção do veículo estavam em dia. O Detro aguarda as investigações da polícia para, se for o caso, punir a empresa.

Sobrevivente de acidente de ônibus relata momentos de pânico

O limpador de ônibus William Lemos da Silva, de 35 anos, nasceu novamente nesta quarta-feira. Ele é um dos sobreviventes da colisão de um ônibus com um poste nesta manhã, em São Gonçalo, em que até o momento nove pessoas morreram após um transformador cair sobre o veículo. Muito nervoso, Willian, que trabalha na Viação Mauá, mesma empresa da linha 532 (Niterói - Alcântara) envolvida no acidente, disse que tudo aconteceu muito rápido.

"Eu estava na parte de trás do ônibus e não percebi nada. Ele virou a curva, só que choveu muito. A areia não deixou ele frear, então ele desviou, bateu no poste, o transformador caiu e aconteceu tudo. Assim que aconteceu a batida, o ônibus começou a pegar fogo, quebrei o vidro e pulei. Eu estava com um pouco de fogo na minha roupa, aí rolei na lama e apagou logo. Foi Deus que colocou a mão na frente. Eu renasci", disse.

William Lemos da Silva%2C que conseguiu pular do ônibus em chamas somente com ferimentos no braço%2C comemorou ter escapado com vida%3A 'eu renasci'Severino Silva / Agência O Dia

Segundo William, que ficou com ferimentos nos dois braços, também teve gente que acabou morrendo eletrocutada. "Eu quebrei o vidro do ônibus com os braços junto com outro rapaz e pulei para fora do ônibus. O outro (homem) pulou, um fio de alta tensão bateu nele e ele acabou morrendo eletrocutado. Ele pulou para o lado aonde o fio caiu", lembrando que ainda tentou salvar outra vítima: "Eu tentei salvar uma menina, mas não deu tempo. Ela caiu lá e o fogo tomou tudo. Eu tive que sair de perto rápido", finalizou.

Além de William, José Soares Ferreira, de 52 anos, já teve alta. Eles e Geovane Farias, 20 anos, Leandro Fagundes da Silva, de 35, e Anderson Morlé, de 26, foram encaminhados para o Hospital Estadual Alberto Torres. O motorista Valdinei Rangel, de 51 anos, o cobrador Ângelo Gomes da Silva, também de 51 anos, estão internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São José dos Lírios, assim como outra vítima de 17 anos ainda não identificada.

Internado em estado grave, ferido perdeu mulher e filha no acidente

Para Giovane Farias, que está internado em estado grave, o acidente desta manhã deixará marcas eternas. Ele conseguiu escapar, porém, viu a esposa e a filha morrerem no incêndio, segundo relatou o frentista Joel Guimarães, de 46 anos, que conseguiu retirar Giovani do ônibus.

"Estava todo mundo gritando lá dentro. Socorremos três pessoas, inclusive um homem (Giovani) que gritava: 'por favor, socorre minha filha e a minha mulher'", disse Joel. A mulher e a criança morreram abraçadas.

O acidente aconteceu na Rua Doutor Getúlio Vargas, no bairro Santa Catarina, em frente a um posto de gasolina. Segundo informações, o motorista teria se assustado com outro ônibus que vinha em sua direção, após desviar de um caminhão da Ampla, empresa que fornece energia elétrica para o município. Por conta da pista com lama devido a forte chuva de terça-feira, ele não conseguiu parar o coletivo.

Homens da Defesa Civil retiraram os corpos que estavam dentro do ônibus que pegou fogo nesta quarta%2C em São Gonçalo%2C após bater num posteSeverino Silva / Agência O Dia

O frentista presenciou o acidente e disse que o ônibus não trafegava em alta velocidade. "Eu vi que o ônibus deu uma freada muito brusca e bateu no poste. o motorista vinha dentro da velocidade normal. Ele perdeu o controle porque a rua está muito suja de lama e vinha outro ônibus na direção. O fogo consumiu o ônibus muito rápido, tudo em menos de um minuto".

Joel disse viu uma pessoa morrer enquanto tentava ajudar que ele deixasse o ônibus em chamas. "Eu vi o cara falecendo. Acabamos desistindo, pois ele ficou ficou preso por conta da mochila. O calor estava muito forte e as vozes dentro do ônibus se calaram", lembra.

Em nota oficial, a Ampla disse que uma equipe foi enviada ao local assim que foi informada sobre o acidente para desligar a rede elétrica e isolar a área afetada. A empresa afirmou que contribuirá com as autoridades policiais para a investigação das causas do acidente.

Diretor-operacional da Viação Mauá, Flávio Giantomaso garantiu que a empresa está dando assistência aos feridos e para as famílias das vítimas fatais. "A empresa está apurando o que aconteceu. Já disponibilizamos ajuda aos passageiros e aos nossos funcionários", disse o diretor, alertando que o acidente poderia ter tido números mais trágicos.

"Num dia normal essa linha transporta entre 15 e 16 mil passageiros. Se não fosse pelo Carnaval, a tragédia poderia ser maior".

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