Por felipe.martins

Rio - Angustiada com a apreensão do filho, M., de 17 anos — que, segundo a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), teve envolvimento na morte do policial civil Cid Jackson Silva sábado passado —, a vendedora de quentinhas R., 40, fez um apelo nesta quarta-feira. Ela pediu ajuda à sociedade para que o jovem abandone a criminalidade. M. foi encaminhado algemado para um abrigo de proteção à criança e ao adolescente, o que levanta polêmicas e discussões.

“Se ele participou do crime, vai ter que pagar à Justiça. Quero que ele me diga, olhando nos meus olhos, se ele realmente tem culpa”, afirmou R., revelando que o sonho do menino, que já teve pelo menos cinco passagens pela polícia por roubos de veículos, é ser mecânico.

Agente da Divisão de Homicídios da Baixada conduz M. para prestar depoimento%2C terça-feira à tardeUanderson Fernandes / Agência O Dia

“Ele é apaixonado por motos e carros. Mas quero que essa paixão dele seja para o lado do bem, e não do mal. Quem sabe alguma instituição ou empresário poderia dar um curso de mecânica de automóveis e motos para ele? Ele só precisa de oportunidade”, apelou a mulher, que certa vez entregou o filho à polícia, quando o viu armado.

Na terça-feira, conforme publicou com exclusividade, M., que havia sido posto em liberdade no dia 16, após cumprir medida socioeducativa por outro delito, disse que sua intenção é sair do crime, mas confessou que o dinheiro da vida bandida ‘é fácil’. “Sou criminoso. Roubo carros em Mesquita e Nova Iguaçu para entregar em favelas como Cidade Alta e Chapadão porque preciso”, ressaltou, garantindo, porém, que sua intenção é voltar a estudar.

A DHBF chegou até M. por meio do carro de Cid, abandonado próximo à casa do menor, cujas digitais foram encontradas no veículo. O policial foi morto na tarde de sábado, na Rua Simplício, no Centro de Mesquita, próximo à casa da mãe da vítima. O agente levou tiros nas costas e um de misericórdia na cabeça. Na delegacia especializada, M., capturado junto com um primo, Alex Sandro da Silva, 19, flagrado com a pistola do agente, contou detalhes do crime.

“Peguei a arma (de Cid), que ia ser sacada, e o Zeca (nome de um suspeito apontado por ele) atirou. Peguei a arma e a chave do carro...A mulher e o filho do policial gritaram muito, poupamos eles, mas infelizmente tivemos que fazer o serviço. Não tinha jeito”, afirmou, friamente. “Temos 95% de certeza que foi ele (M.) quem atirou, com revólver 38 que ele diz ter pego no Chapadão”, comentou o delegado da DHBF, Fábio Salvadoretti.

Uso de algema gera debate

Para conduzir o menor M. para um abrigo, na terça-feira, policiais da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense utilizaram algemas para <USTitBoxesV1-0>imobilizar o rapaz com as mãos para trás. O uso do acessório acabou levantando polêmica, embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não faça qualquer menção quanto à colocação de algemas em adolescentes infratores pela polícia.

O titular da DHBF, Flávio Salvadoretti, argumentou que o adolescente foi algemado ‘por demonstrar ser uma pessoa agressiva e por causa do seu porte físico’. “Sua integridade física e sua dignidade não foram afetadas em momento algum”, garantiu.

R. teme pelo futuro do filho%3A ‘Quero que ele me diga se tem culpa’Uanderson Fernandes / Agência O Dia


João Tancredo, advogado do Instituto de Defensores de Direitos Humanos, por sua vez, fez duras críticas. “Esse tipo de conduta é caracterizado como abuso de autoridade. A Súmula 11 do Supremo Tribunal Federal (STF), no nosso entendimento, é clara: algemas, seja para menores ou maiores de idade, só devem ser usadas, em último caso, quando o infrator está nitidamente colocando a própria vida ou a de outras pessoas em risco. Não era o caso, já que ele estava cercado de policiais”, argumentou.

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