Rio - Concebido pela prefeitura como o projeto dos sonhos para garantir conforto e rapidez aos milhares de cariocas que se deslocam nos ônibus da Zona Oeste, o BRT Transoeste tem sido um pesadelo para quem depende dele todos os dias. Segundo o consórcio que opera o serviço, dos cerca de 180 mil passageiros transportados diariamente, 80% viajam nos horários de pico. As estações não dão conta de tanta gente.
A Secretaria Municipal de Transportes admite: os problemas existem e só foram identificados depois que o sistema, contemplado com R$ 1 bilhão em investimentos, ficou pronto. O órgão agora promete corrigir as falhas com um pacote de melhorias, que prevê construção e ampliação de estações e terminais e a aquisição de mais veículos articulados e não articulados (padrons).
Enquanto as medidas, sem custos informados, têm prazos desconhecidos para sair do papel, O DIA acompanhou, por dois dias seguidos, o sufoco dos passageiros que utilizam o Transoeste, de Santa Cruz e Campo Grande, rumo à Barra da Tijuca pela manhã. Nas estações Recreio Shopping, Gláucio Gil e Salvador Allende, a rotina é de empurrões, discussões e até desmaios devido à superlotação. A principal reclamação é o número insuficiente de ônibus para atender à demanda.
Nesta quinta-feira, a doméstica Renata Rodrigues, de 41 anos, chegou às 6h40 na estação Santa Cruz para embarcar em um ônibus direto com destino ao Terminal Alvorada. Só para entrar em um ônibus foram 28 minutos de espera. O primeiro veículo saiu tão cheio que ela não conseguiu embarcar. No segundo, se espremeu e entrou para uma viagem em pé de mais 50 minutos. “Quando dá, a gente se segura nas barras, mas, às vezes, a gente acaba viajando escorada nos outros”, reclamou.
Na manhã da última terça-feira, Antonio Carlos de Oliveira Filho, 21 anos, em um veículo da linha expressa Mato Alto - Alvorada, desmaiou após embarcar na Estação Recreio Shopping. “Estava muito cheio. Comecei a me sentir tonto. Fui me encostar e acabei caindo no chão. Depois me disseram que eu tinha desmaiado”, contou o passageiro, socorrido por bombeiros e levado à UPA da Barra.
O auxiliar de manutenção Jean da Silva Cavalcanti, 36, precisou esperar cinco coletivos lotados passarem para entrar numa linha expressa na estação Gláucio Gil com destino à Alvorada. “Há poucos expressos do Recreio para o Alvorada. Todo dia tem empurra-empurra, discussão, briga” protestou Jean.
LUTA NA MADRUGADA
Para ir ao trabalho, Antonio Carlos chega às 5h30 na estação Curral Falso, em Santa Cruz, onde disputa um BRT até a estação Recreio Shopping, operação que leva uma hora. De lá, luta por um lugar em um veículo da linha expressa até a Barra. “Os intervalos dos ônibus que vêm do Mato Alto para a Alvorada tinham que ser de cinco minutos, mas são irregulares e chegam a até 20 minutos. Assim, fica sempre muito cheio”, explicou.
Em um seminário sobre BRT realizado no Rio para jornalistas segunda-feira, o diretor-presidente da ONG Embarq Brasil, Luis Antonio Lindau, analisou que o Transoeste precisa de mais serviços expressos entre os terminais para resolver parte dos problemas de superlotação. “Se a pessoa tem interesse em se deslocar diretamente de Santa Cruz até Alvorada, uma linha expressa vai ser muito mais útil do que linhas paradoras”, comentou.
Segundo o Consórcio BRT, operador do sistema, “desde o início da operação, em junho de 2012, a frota de ônibus articulados cresceu 50% ao ano, justamente para atender a demanda crescente nos corredores”. Ainda de acordo com a companhia, o tamanho da frota atende as determinações da Secretaria Municipal de Transportes.
Estudo recomenda reformulação dos terminais
Em setembro, o ITDP Brasil (Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento) realizou um estudo sobre o BRT Transoeste e identificou aspectos que contribuem para a superlotação e que poderiam ser melhorados.
Entre as medidas recomendadas à SMTR, constavam a revisão do tamanho da frota reserva de ônibus; garantia e fiscalização dos níveis de serviço, com indicadores amplamente divulgados, determinando para cada serviço do corredor a frequência adequada; reformulações completas do terminal de Santa Cruz e da estação Curral Falso; expansão do Terminal Alvorada e das estações de Mato Alto e Pingo d’Água. Outra sugestão foi a adaptação do novo terminal de Curral Falso para receber os serviços de ligação com Campo Grande.
A Secretaria reconheceu, em nota, que “algumas estações apresentam capacidade operacional menor do que a demanda” e informou que os projetos de infraestrutura prometidos já foram encaminhados à Secretaria Municipal de Obras. Para aumentar a frota do Transoeste, anunciou a compra de 18 veículos articulados, com capacidade para 180 e 200 passageiros, para substituir os de 140 lugares, além de 15 não articulados (atualmente rodam 132 articulados e 29 padrons nos períodos de pico).