Por felipe.martins

Rio - Desde maio de 2014 no comando da UPP Providência, o major Roberto Valente, 37 anos, desabafou ao DIA sobre o flagrante do auto de resistência forjado na morte do adolescente Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos. Nascido em São João de Meriti, morador de Nova Iguaçu, o oficial tem um filho de 6 anos e outro de seis meses. Confira a entrevista:

"Me senti traído pela equipe"%2C desabafou o major Roberto ValenteDivulgação

1. O senhor tinha alguma desconfiança em relação aos PMs flagrados no vídeo?

— Nunca havia recebido nenhuma denúncia de morador contra eles, nem em relação à disciplina. Tinham conduta ilibada.

2. A UPP Providência costuma receber reclamações sobre a conduta de policiais na favela?

— Sim, a gente recebe bastante denúncias de truculência, e chama os policiais para conversar e saber o que houve. Até porque temos muitos policiais que estão ali há tempos. Muitos passam mais tempo na UPP do que nas suas próprias residências.

3. O senhor se sente traído?

— Sim, claro. Traído na medida em que eles praticaram algo que sempre repudiamos, a PM nunca ensinou este tipo de prática. Ainda estou tentando entender o que levou o policial a fazer aquilo. Confio muito no trabalho da Delegacia de Homicídios.

4. A UPP tem algum trabalho social?

— Sim, são 350 crianças praticando jiu-jítsu, entre eles um campeão mundial e uma panamericana. Não queremos jogar pelo ralo todo o trabalho só porque cinco policiais embarcaram no erro. Estamos todos abalados.

Vídeo desnudou farsa na Providência

Um vídeo desnudou o crime cometido por cinco policiais militares no Morro da Providência. As imagens enviadas ao WhatsApp do DIA (98762- 8248) mostram um agente, vestindo uma camiseta branca e colete à prova de balas, atirando duas vezes com uma pistola, usando a mão do jovem de 17 anos junto à arma para deixar vestígios de pólvora. No local, ele estava acompanhado de outros quatro PMs. Antes disso, um dos militares ainda virou o corpo do rapaz, desfazendo o local do crime, o que não pode ser feito. Eduardo ainda estava vivo e gemia de dor, segundo testemunhas. Sem socorro, morreu no local.

O policial militar Paulo Roberto da Silva admitiu em depoimento na terça-feira na Delegacia de Homicídios (DH) que foi o autor do disparo que provocou a morte do adolescente no dia anterior. Aos agentes da DH, o policial alegou que a arma vista no vídeo que chocou o país era de Eduardo e decidiu disparar porque o jovem esboçou reação quando abordado pelos PMs. 

Após o depoimento, a Justiça do Rio decretou a prisão preventiva dos cinco policiais militares suspeitos de alterar a cena do crime. Toda a ação foi gravada por moradores da comunidade. O jovem foi baleado na localidade conhecida como Pedra Lisa, na parte alta do morro.

Na decisão judicial, a magistrada Maria Izabel Pieranti afirmou que “é inadmissível que agentes da lei, encarregados da manutenção da ordem pública e da regular persecução penal, procedam à alteração de cenário criminoso, visando ludibriar perito ou magistrado e garantir a sua impunidade pela prática de crime de homicídio”. O crime será julgado por uma das varas do Tribunal do Júri da capital.

O corpo de Eduardo foi enterrado, na terça, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Apesar dos protestos durante o sepultamento, que contou com cerca de 100 pessoas, não houve tumulto. Na chegada e saída do cemitério, o ônibus com amigos e familiares do adolescente foi escoltado por quatro motocicletas e duas viaturas da PM.

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou, nesta quinta-feira, que os policiais militares envolvidos na morte de Eduardo serão expulsos da corporação

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