Rio - O corpo do mototaxista Thiago Guimarães Dingo, de 24 anos, foi enterrado na manhã deste sábado no Cemiério de Irajá, na Zona Norte. Consternados, amigos e parentes do jovem morto por engano protestaram e lamentaram a perda.
"Espero que a justiça seja feita, mas tenho dúvidas de que isso acontecerá. Estou despedaçado em mil partes. Até conversei com o sargento que atirou no meu filho e ele debochou de mim. Como um PM vai para a rua fazer combate despreparado? Agora meu neto não terá um pai, e a minha nora é mais uma mulher que ficou sem o companheiro em razão da polícia. Tenho mais medo da PM do que dos bandidos", lamentou Gilberto Lacerda Dingo, pai de Thiago.
Fotogaleria: Mototaxista morto por PM é enterrado em Irajá
"A única dor que é comparável a minha é aquela que Jesus Cristo sentiu na cruz. E se ele teve força para sentir aquela dor, eu também tenho. Eu só gostaria que o governador estivesse aqui vendo o nosso sofrimento causado pelo estado. Mas o sargento que matou meu filho está recebendo tratamento psicológico, e nós? Não recebemos nenhuma assistência, o estado precisa ter dignidade de fazer alguma coisa por nós. Meu filho contava os dias para meu neto nascer, mas infelizmente ele não conseguiu sequer ver o rosto da criança", afirmou Márcia Machado, mãe da vítima.
Thiago foi morto junto com Jorge Lucas de Jesus Paes, de 17 anos, por um sargento da polícia militar na última quinta-feira, na Pavuna. Os dois estavam na mesma moto quando foram atingidos por um tiro de fuzil. O PM alegou que confundiu um macaco hidráulico. Jorge Lucas foi enterrado na tarde desta sexta-feira, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio.
Polícia quer saber se morte dos dois mototaxistas na Pavuna foi execução
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Marcelo Chalréo, o erro mostra o despreparo da polícia. “Parece que no Rio os policiais têm o hábito de confundir apetrechos com armas. Não podemos tratar isso como caso isolado, um incidente porque acontece com frequência. Isso é fruto dessa política insana de combate às drogas que tem levado à mortandade de milhares de pessoas inocentes e policiais também no Brasil todo. É uma epidemia nacional. Até onde isso vai?”, questionou ele.
PM diz que moto ia em direção à viatura
O sargento do 41° BPM (Irajá) não teve o nome divulgado. Jorge Lucas e Thiago foram baleados na Rua Doutor José Thomas, na Pavuna. O policial alegou que viu que uma moto vinha na direção da viatura e pensou que as vítimas estivessem com uma arma. O agente efetuou um único disparo que atravessou os dois mototaxistas.
"Chamei o PM de assassino e perguntei porque ele atirou. Ele não respondeu e riu com ar de deboche. Vamos processar o estado", garantiu o pai de Thiago, Gilberto Dingo. "Não teve nenhum tipo de abordagem e nem revista. Por que atiraram? Um tiro de fuzil que foi dado pelas costas matou os dois. Foi uma covardia", desabafou.
Reportagem Angélica Martins