Rio - O caso de racismo contra Taís Araújo foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Autoridades apoiaram a atriz e repudiaram a atitude criminosa dos internautas. O deputado Jean Wyllys disse que é fundamental o apoio da sociedade. “Essas manifestações odiosas de racismo representam uma reação extrema e são consequência do discurso de ódio racista. Eu fiquei extremamente chocado e me solidarizo com a Taís e com qualquer forma de preconceito. Todas as formas de racismo devem ser enfrentadas”, conclui.
O presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB do Rio de Janeiro, Marcelo Dias, parabenizou Taís pela atitude de denunciar o caso. “O negro vive este ataque diariamente, o racismo exclui e reprime. É necessário denunciar, a Taís está de parabéns. Todos devem denunciar, ir à policia ou ao Ministério da Público”, aconselha.
ONGs abraçam a causa
As Organizações Não Governamentais (ONG) que lutam contra o racismo e a desigualdade racial também manifestaram apoio à atriz. Eliza Nascimento, presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros disse não se surpreender com o racismo. “O racismo existe, e muito. É preciso discutir a situação do negro. O preconceito é real, prova disso é que o negro é minoria nos espaços privilegiados da sociedade”, afirma.
O Frei David dos Santos, da ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) ofereceu apoio. “Estamos abertos a receber e a lutar junto com a Taís. Quanto mais este assunto for discutido, mais avançaremos”.
Atriz sofre ataque racista e vai à polícia
A atriz Taís Araújo vai denunciar à Polícia Federal os ataques racistas que sofreu no último sábado, quando internautas encheram seu Facebook de comentários criminosos. Nas postagens, ela é xingada de “macaca” e desqualificam seu cabelo. Pela lei brasileira, o racismo é crime federal.
Em sua página no Facebook, Taís desabafou e disse que não vai desistir nem se intimidar. “Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal. E eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que senti... Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça”, escreveu.
No momento em que a atriz estava sendo alvo de racismo na internet, ela atuava na aclamada peça ‘O Topo da Montanha’, que coincidentemente faz alusão ao último discurso de Martin Luther King, realizado em Memphis (EUA), na Igreja de Mason, no dia 3 de abril de 1968, um dia antes de seu assassinato, cometido na sacada do Hotel Lorraine. Por meio do humor e da emoção, o espetáculo ajuda na reflexão sobre os problemas raciais contemporâneos.
Além de debochar da cor da pele da atriz, os usuários também fizeram piadas de mau gosto com a artista. “Com esse cabelo dá para lavar a Globo inteira”, escreveu um internauta. “Macaca também tira foto”, postou outro. “Já voltou da senzala?”, questionou mais um.
No Twitter, os fãs de Taís Araújo se uniram e criaram a hashtag #SomosTodosTaísAraújo, para apoiá-la. Já no Facebook, outros usuários rebateram os comentários discriminatórios. “Estou vendo um caso de racismo, e vou colocar eles na cadeia”, escreveu um fã. “Você é maravilhosa mulher, um exemplo, seu cabelo é lindo, sua pele é linda”, disse outra.
Segundo a Polícia Civil, um inquérito também será instaurado na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática para apurar os ataques contra a atriz.
Não é a primeira vez que personalidades negras sofrem preconceito. Em julho passado, a jornalista Maria Júlia Coutinho também foi vítima de comentários criminosos na internet. Em junho, o ator Kaik Pereira, de apenas 12 anos, também foi alvo de racismo nas redes.
O DESABAFO COMPLETO DA ATRIZ
“É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar. Na última noite, recebo uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal. Eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça.
Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! Por ironia do destino ou não, isso ocorreu no momento em que eu estava no palco do teatro Faap com o ‘Topo da Montanha’, um texto sobre ninguém menos que Martin Luther King e que fala justamente sobre afeto, tolerância e igualdade. Aproveito pra convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer. Acho que você está precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor.
Agradeço aos milhares que vieram dar apoio, denunciaram comigo esses perfis e mostraram ao mundo que qualquer forma de preconceito é cafona e criminosa. E quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie. Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado.A minha única resposta pra isso é o amor!”.
Reportagem de Aline Cavalcante