Rio - Os dois suspeitos mortos na tentativa de assalto ao ônibus da linha 110 (Sâo Gonçalo - Passeio), na noite desta quinta-feira, estavam com uma réplica de arma de fogo no momento do crime. A informação foi confirmada pela Delegacia de Homicídios, que está investigando o caso. No local, foram apreendidas apenas a arma do policial e a réplica de arma dos criminosos. Um dos tiros também acertou o motorista do ônibus, Marcio Douglas Oliveira Diniz, que morreu no local.
O cunhado do condutor do veículo, Roberto de Oliveira, 55 anos, criticou a ação do sargento do 5° Batalhão de Polícia Militar. "Como que você sai atirando a esmo dentro de um ônibus. Os passageiros mesmo disseram que eles obrigaram o Márcio apagar a luz do ônibus. Como você sai atirando com um ônibus todo no escuro?", indagou. Para Oliveira, o policial colocou a vida dos passageiros em risco ao atirar contra os suspeitos. "Não tem lógica ele disparar com um ônibus todo apagado. E se a arma dos bandidos fosse de verdade? Iria sair um tiroteio dentro do ônibus e poderia morrer muita gente. O que aconteceu foi que o policial, quando percebeu que seria assaltado, reagiu. Ele quis defender somente o lado dele. É óbvio que ele assumiu um risco".
Márcio era motorista da linha de ônibus da Viação Coesa há apenas quatro meses. Ele deixou a esposa e quatro filhos, o mais novo, de apenas sete meses, fruto do segundo casamento. O enterro será neste sábado às 13h, no Cemitério de São Miguel, em São Gonçalo.
A tentativa de assalto aconteceu na noite desta quinta-feira, na Avenida Presidente Vargas, em frente ao prédio da Prefeitura do Rio. Os criminosos anunciaram o assalto e chegaram a recolher parte dos pertences de alguns passageiros. O policial que estava à paisana no interior do veículo disparou contra os criminosos, mas um dos tiros também atingiu o motorista na nuca. Uma mulher que preferiu não se indentificar contou que o celular chegou a ficar sujo de sangue.
Suspeito foi quase linchado
Um dos suspeitos morreu ainda no local e o outro, Gabriel Salomão Santos, 26 anos, chegou a ser levado ao Hospital Souza Aguiar, mas não resisitiu aos ferimentos. Antes, ainda no local da tentativa de assalto, passageiros revoltados tentaram linchar Gabriel. Ele foi socorrido por policiais militares, para então ser conduzido à unidade de saúde do município.
Passageiros defendem ação de policial
Para o passageiro que apenas se identificou como Alex, a ação do policial foi correta. "Melhor ele agir do que deixar todo mundo dentro do ônibus na mão dos bandidos. Eles poderiam ter matado todo mundo ali dentro. O policial agiu em legítima defesa", comentou. Traumatizado, ele quer abandonar a rotina diária de deixar São Gonçalo para trabalhar no Rio. "Já tinha sido assaltado em outra linha de ônibus e passei a pegar essa. Agora vou tentar vir de barca. Isso aqui é terra de ninguém", desabafou.
Uma passageira que preferiu não se identificar contou que um dos criminosos chegou a roubar o celular dela. "Eu estava vendo novela com o fone nos ouvidos. Só percebi o assalto quando eles gritaram. Meu celular ficou sujo de sangue", disse ela, que por ser "a única opção", continuará usando a mesma linha de ônibus. Ela também defende a ação do sargento do 5º BPM. "A intenção dele foi nos proteger".
Um dos passageiros, Paulo Renato Matos, contou que todos se abaixaram quando os bandidos invadiram o coletivo. Os criminosos, ao anunciarem o assalto, ordenaram que o motorista apagasse as luzes do ônibus. “Foi desesperador. Cheguei a pegar o celular para entregar a eles. Nunca tinha sido assaltado", disse. O engenheiro Claudio Joaquim da Silva lamentou a morte do motorista. "Costumava sempre pegar o ônibus que ele dirigia. Foi horrível". Um funcionário de uma loja que também estava no ônibus lembrava os momentos de terror vividos no interior do veículo. "Todo mundo gritou quando os disparos aconteceram. Só fiz pedir a Deus. O pessoal gritou para o motorista acender a luz, mas ele já estava morto", relatou o homem de 55 anos.