Ex-comandante da PM é investigado por ligação com a Máfia da Saúde
Mandado de busca e apreensão foi cumprido nesta sexta-feira na residência do coronel José Luís Castro Menezes
Por paulo.gomes
Rio - O ex-Comandante-Geral da Polícia Militar, coronel José Luís Castro Menezes, também está sendo investigado no esquema que foi desarticulado nesta sexta-feira, onde antigos integrantes da cúpula da corporação foram presos acusados de desvio de verba. Durante a entrevista coletiva realizada na sede da Secretaria de Segurança, na Central do Brasil, o subsecretário de Segurança, delegado Fábio Galvão, confirmou que foi cumprido mandado de busca e apreensão na residência do oficial.
Preso em sua casa, na Taquara, o coronel Ricardo Coutinho Pacheco, ex-chefe do Estado-Maior Geral Administrativo, segundo na hierarquia da corporação, é apontado como o chefe da quadrilha que desviou R$ 16 milhões do Fundo de Saúde da Polícia Militar (Fuspom). Também preso, o coronel Décio Almeida da Silva, ex-gestor do fundo, é apontado como o elo entre dois núcleos do esquema.
"Consideramos o coronel Décio como o elo entre o núcleo operacional e o núcleo mentor da organização criminosa. Ele metia a mão na massa, junto com a sua equipe. Para que a organização criminosa tivesse sucesso, não bastava ter seus membros unicamente lotados no Fuspom. Era preciso estender os tentáculos até as unidades de saúde da PM e diretoria geral de saúde", afirma Fábio Galvão.
O dinheiro do Fuspom vem de contribuições descontados dos salários dos PMs. Essa verba era para ser utilizada na compra de produtos hospitalares. No entanto, os acusados cobravam até 10% de propina das quatro empresas, que também eram beneficiadas no esquema. "Ao núcleo operacional cabia a instaurar os processos, a maioria sem licitação. Só no ano de 2014, foi usado 76% das verbas do Fuspom em processos sem licitação. Ou seja, houve uma lesão enorme a todos os policiais militares ativos e inativos, que não integram essa organização criminosa", diz o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, Cláudio Calo, afirmando em seguida que o Quartel-General da PM foi transformado numa "matriz do crime".
"O grupo fez do Quartel-General da PM a matriz da organização criminosa. Lá eles recebiam dinheiro em mochilas. O grupo é uma verdadeira máfia institucionalizada", completou.
As investigações tiveram início após denúncia do blog ‘Justiça e Cidadania’, em outubro do ano passado. Na ocasião foi mostrada que a PM autorizou a compra de 75 mil litros de ácido peracético, pelo valor de R$ 4,4 milhões, mas o produto nunca foi entregue pela Medical West Comércio de Produtos Médico Hospitalares Ltda-Me. "Depois disso começamos a descobrir outros procedimentos escabrosos. Hoje conseguimos desarticular uma organização criminosa no âmbito da PM. Essa operação entra para a história da Polícia Militar como a que mais prendeu oficiais", afirma Fábio Galvão.
O corregedor da PM, coronel Victor Yunes, condenou a conduta dos oficiais envolvidos no desvio das verbas. "Isso é uma desonra aos excelentes policiais militares que saem de casa todos os dias e deixam seus familiares. Não há mais espaço para assassinatos, para práticas irregulares e ilegais do policial militar. São atos inadmissíveis", afirma.
Na operação desta sexta-feira, cerca de 150 homens do Gaeco, Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança (SSINTE/SESEG) e Corregedoria-Geral da PM cumpriram 21 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão. Na residência dos policiais foram apreendidos dinheiro e documentos. Além dos coronéis Pacheco e Décio, foram presos outros nove PMs, uma funcionária civil da PM e nove civis. O coronel Kleber dos Santos Martins, ex-diretor da Diretoria Geral de Administração e Finanças (DGAF), se entregou no início desta tarde.
O DIA tentou entrar em contato com as empresas envolvidas, mas não foi atendido.